Antonio 06/03/2015
ALTA AJUDA chega às alturas
Na FLIP de 2013, a dupla Francisco Bosco e Lila Azam Zanganeh (uma iraniana-francesa) foi uma das melhores mesas, se não a melhor. Lila chamou muito a atenção, pois aprendeu português duas semanas antes de vir ao Brasil, foi ao Jô Soares, mostrou todos os seus talentos e sua beleza. Mas quem estava lá, como eu, sabe que Francisco Bosco não ficou devendo nada a ela.
O livro de ensaios ALTA AJUDA é surpreendente. Parece que Francisco Bosco tem um dom, todos os assuntos que ele toca se tornam interessantíssimos. Em ensaios de 3 ou 4 páginas, ele discorre sobre a diferença entre o futebol brasileiro e o europeu, a insônia (eu já tive muita!), as drogas e seus efeitos (sem moralismos), enfim, ele fala sobre tudo. São textos oriundos de sua coluna no jornal O Globo, o que também surpreende, pois esse tipo de texto não existe mais em jornais. (Aliás, ele acabou de sair do jornal para assumir a Funarte do Rio. Que chato.)
Francisco Bosco é filho de João Bosco, o que para mim é curioso, pois o ‘ensaio’ e a ‘música’ me parecem atividades opostas. Para não negar essa filiação, um dos ensaios é sobre músicas da MPB, uma delas de João Bosco. Ele também é poeta, mas eu não conheço esse lado. Comprei o livro ALTA AJUDA imediatamente após a mesa da Flip, até porque eu gosto dessa ‘atividade mental’ de cavar os assuntos aparentemente banais, extraindo deles um significado novo. Isso só pode ser feito, claro, com uma boa bagagem teórica.
Ao falar de Roberto Carlos, dá uma profundidade ao compositor que eu nunca tinha imaginado, ao mesmo tempo em que explica porque o Rei entrou em decadência a partir de 1980. Também fala de maneira ampla da sexualidade humana e seus significados. Mas, ao invés de ficar só na teoria, dá o exemplo do jogador Ronaldo e o caso com os 3 travestis.
Em Falta Pacificar Brasília ele explica a diferença entre o pensamento de esquerda e o pensamento de direita. Sempre conciso e rápido, sempre convincente. Relata a história do filme Quem Quer ser um Milionário? (que eu já tinha esquecido, foi bom lembrar), extraindo dela uma interpretação necessária.
Um dos ensaios mais interessantes, A TV do Século XXI, fala do Facebook. O Facebook com que tanta gente implica, mas que chegou para ficar, produzindo um novo tipo de comunicação, em vários e vários aspectos mais ampla do que a antiga Televisão. Não tenho a menor dúvida de que, quem hoje não usa o Facebook (é muita exposição!) equivale às pessoas que na década de 70 se negavam a ver TV. Vão ficar por fora.
Conta a trajetória polêmica de Wilson Simonal, também para extrair significados densos. Sem dar spoiler, nessa trajetória podemos entender como se dá o funcionamento das leis e dos poderes no Brasil.
Vik Muniz, Proust, Lars Von Trier, Belchior, Noel Rosa, novelas de televisão, sexualidade, a relação marido-mulher, o computador de Francisco Bosco não para, abrangendo tudo aquilo que pode nos interessar, mas aprofundando (o que é raro) todos esses temas com explicações novas e inesperadas. Não dá para não ler. Se você pensa e gosta de pensar (e entender as coisas que fazem parte da vida) esse livro já está fazendo falta na sua estante.
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