Leitor Cabuloso 15/01/2013
http://leitorcabuloso.com.br/2012/12/resenha-a-queda-da-bastilha/
Saudações, caros leitores! Por onde deveria começar a minha análise dessa vez? O que dizer de algo que me fez sentir tanto, mas que tão pouco consigo traduzir em palavras? Já analisei contos e romances, apesar de não ser um acadêmico (ainda) ou algum tipo de estudioso da linguagem; contei apenas com o pouco conhecimento adquirido em minhas leituras e conversas. Poesia, assim considero, é uma das coisas que precisamos sentir o máximo possível, para então contempla-la em toda a sua beleza. Os poemas com os quais mais crio uma afeição são aqueles que se comunicam diretamente comigo. É quase como se o poeta fosse um mago que faz algo retornar, seja um fantasma ou o agradável sabor de um doce de outrora. Suspiros, olhos marejados, pensamentos rebeldes que insistem em alimentar lembranças, lutarei para não me perder no labirinto de minha mente.
A capa do livro (uma obra de GC Myers, um pintor contemporâneo – confira as pinturas dele aqui) retrata uma simplicidade, mas também um sentimento de solidão muito forte. Soa-me como uma manifestação física da introspecção, processo que frequentemente todos realizamos. A presença de somente uma árvore no cenário reforça este sentimento. A estreita trilha que passa perto da árvore e segue para o horizonte, sem um desfecho claro, é como um convite ao leitor para viver durante algum tempo o livro, comungar com a autora, mas depois prosseguir em sua própria jornada. Talvez revitalizado por alguns goles de sensibilidade.
Na introdução, o fotógrafo Roberto Schmitt-Prym (confira o site dele aqui) comenta um pouco sobre o que poderíamos chamar de “propriedades” da poesia de Leila Krüger, o desenvolvimento das palavras ao redor de questões comuns a todos os seres humanos, independente de classe social, etnia etc (a solidão é uma das coisas mais recorrentes); além da não estruturação do texto a partir de divagações hipotéticas, mas sim de relatos que parecem muito pessoais. O uso de formas livres nos poemas reflete uma personalidade inquieta, sempre em experimentação.
Em seguida, temos duas citações, uma de Mario Quintana e outra de Fernando Pessoa, mostrando o que imagino ser um pouco da formação literário-poética da Leila, completando o giro da chave e abrindo a porta de acesso ao filho gerado pela escritora em seu coração.
Como mencionei anteriormente, o tom das palavras é muito particular, o que deve fazer outros leitores, assim como ocorreu comigo, sentirem-se na companhia de um amigo em um ambiente descontraído. Mas o espaço em que essa relação estabelece-se é pequeno, assim como a maioria dos textos do livro. Afinal a sutileza com que a Leila retrata os sentimentos o exige. Algo com um ar de “espetáculo” não iria colaborar para a atmosfera intimista da obra.
A linguagem da autora é simples, portanto os leitores que temem textos com vocabulários mais rebuscados podem ficar calmos. Há muitas metáforas, mas nada de difícil compreensão, ou seja, qualquer leitor que aprecie poemas pode extrair o máximo da leitura.
O que percebi ao concluir o livro foi que há em cada palavra uma forte melancolia, mas sempre com uma pitada de esperança. Assim como no mito de Pandora, muitos tormentos estão à solta, nos rondando; mas a esperança teima em permanecer, ora ampliando nossa dor, ora nos fazendo ir além e assim ver novas paragens que renovam o folego para vivermos. A obra é curtíssima, porém nesse contexto singelo há um enorme encanto. Caso a Leila venha a lançar um trabalho mais extenso nessa mesma área, tenho certeza que não irá decepcionar. Dou cinco selos cabulosos!