Lane 09/05/2012Jonathan Strange & Mr NorrellLiteratura fantástica!
A obra é uma ótima mistura de gêneros, mesclando fantasia e romance mais ficção histórica, compondo um cenário interessante. Mas o que torna a obra espetacular e digna de todos os elogios recebidos são as notas do rodapé.
As explicações, acrescentando ainda o estilo narrativo da autora conferem credibilidade à leitura, muitas vezes com tanto realismo que chegam a confundir o leitor. A riqueza de detalhes sobre os costumes da época, o mundo encantado, as histórias contadas com referências históricas entre o passado e o presente contrastam com a realidade e a ficção, traçando um paralelo impressionante para o leitor.
Para o meu delírio, muitas vezes me encontrei pensando e criando conjecturas idealizando a magia, acreditando fielmente, no meu mundo imaginário, que a fantasia realmente existisse.
Mas voltando a falar sobre o livro:
O livro começa na Inglaterra no século dezenove na época conflituosa de Napoleão Bonaparte com a Europa, pouco antes do período vitoriano.
A linguagem da autora é deliciosa e muito gostosa de acompanhar. Seu estilo de escrita é envolvente sem ser superficial. Suas descrições desprendem da narrativa revelando minuciosamente a atmosfera histórica e mágica do contexto.
Algumas vezes, o narrador observa o cenário, tornando-se onisciente, colocando algo incitador na prosa, questionando e contra argumentando, fazendo com que o leitor entenda melhor os personagens.
*Aconselho a leitura desta obra com calma e aos poucos, por causa do extraordinário efeito inspirador que ela acomete ao leitor e para melhor absorver as influencias transmitidas por ela.*
O fundamento de toda a trama se desenvolve sobre a volta da magia inglesa e está centrada em dois personagens: Jonathan Strange e Mr Norrell.
O livro é dividido conseqüentemente em três partes: Mr Norrell, Jonathan Strange e John Uskglass.
A primeira parte é lenta, descreve mais a seqüência cotidiana de Mr. Norrell e como ele se transformou por algum tempo, no único mago da Inglaterra.
Mr. Norrell é um personagem chato, inseguro e vaidoso. Sua obsessão é em se tornar o único mago praticante da Inglaterra e impedir o aparecimento de outros. Em uma total crítica a outros homens que se denominam magos, aos quais fazem parte de uma sociedade secreta, exclusiva apenas para magos, Mr Norrell com a ajuda de Childermass seu ajudante, prova suas habilidades como mago publicamente conseguindo assim sua pretensão obsessiva.
A partir deste acontecimento legitimado pela tal sociedade secreta para magos a vida de Mr Norrel se estabelece sob novas perspectivas. Mas as mudanças têm suas dimensões e Mr Norrell se vê diante de um desafio e sua vaidade grita com sua consciência e sem pensar duas vezes ele faz uma escolha. Os elementos e as proporções desta escolha são marcantes, colocando em risco toda a magia da Inglaterra e a vida de alguns.
Sem o conhecimento dos outros e sem ter que justificar seus atos para alguém, Mr Norrell reproduz sua ascensão como único mago de toda Inglaterra. Sua arrogância só saiu da zona de conforto quando ele conhece Vinculus.
Vinculus é um mago pobre, que trabalha nas ruas de Londres e que não se submete aos caprichos e ameaças de Mr Norrell. Quando ele se encontra com Mr Norrell dita a ele uma profecia sobre dois magos e de um escravo sem nome. Sem conhecer o significado da profecia proferida por Vinculus e acostumado a ter controle total em ser o único mago de toda Inglaterra, Mr Norrell não hesita em desacreditar Vinculus.
Mr Norrel é um personagem mesquinho, sem consciência, vaidoso e egoísta que possui todos os livros sobre magia e não divide seu conhecimento com ninguém.
Porém nesta primeira parte, não tem como concretizar uma opinião sobre o livro, isso que é cansativo e torna a leitura um pouco enfadonha.
Mr Norrell é chato demais e a autora conduz demasiadamente nas descrições sobre sua personalidade medíocre. Entretanto, é só ter um pouco mais de paciência até chegar à parte mais interessante do livro, a segunda parte com Jonathan Strange.
Na segunda parte, o foco das narrativas é sobre Strange e a história começa a ter sentido. Explicitamente Strange é o oposto a Norrel, ele não é o personagem bonzinho da trama [isto fica para outro personagem secundário na história], porém comparado a Norrell ele tem mais carisma e é cheio de energia. Delicadamente a autora nos leva a fazer paralelamente comparações entre eles.
Strange, através de um encontro inesperado também encontra Vinculus, e este mais que imediatamente revela e professa a mesma profecia que ditou a Norrell.
Após esta abordagem, mesmo desconhecendo o sentido da profecia e não se importando com ela, Strange se encaminha a um encontro com Mr Norrell, tornando-se posteriormente seu aprendiz.
Esta parte é, porém a mais interessante do livro por causa das informações que ela trás.
À medida que Strange amplia seus conhecimentos nos estudos sobre magia [um conhecimento que ele adquire condensamente por parte de Mr Norrel], onde ele demonstra claramente sua aptidão natural para magia, ao mesmo tempo, com alguns toques de humor, a autora descreve as diferenças de temperamento entre um e outro.
Os diálogos entre os dois magos servem para reforçar e impulsionar as diferentes opiniões entre ambos sobre John Uskglass. Que é apresentado corretamente ao leitor na terceira parte.
John Uskglass é um antigo rei e mago reverenciado por alguns magos modernos por seu conhecimento e contribuição para magia inglesa. Ele é o personagem presente nas discussões, mas ausente na história. Porém isso em nada diminui sua importância no texto.
Nesta parte, algumas pontas são entrelaçadas dando um toque único ao enredo e outras são lançadas não somente com o intuito de criar mistério e envolver o leitor na narrativa, mas, sobretudo de promover o onirismo. Tal é a genialidade da autora.
Nela são adicionadas cenas sobre a magia em exercício, onde a autora dá asas a sua imaginação criativa e o leitor simplesmente se deleita reverenciando a sua extraordinária narrativa.
Na terceira parte, vem o arremate de toda essa obra magnífica. O leitor consegue compreender as atitudes de alguns personagens e se surpreende com as de outros.
Confesso que pra mim ainda ficaram algumas dúvidas, achei o final surpreendente e bastante frenético. Não foi o que eu esperava, um pouco aberto eu diria, entretanto achei adequado e inteligente pra história, e anseio desesperadamente que a autora dê continuação à obra.
Intencionalmente eu não citei as histórias paralelas que ocorrem no decorrer de mais de 800 páginas, como também alguns dos personagens secundários, que incrivelmente conferem e complementam a história de maneira singular, mas eu não poderia deixar de mencionar o personagem “Cavaleiro dos cabelos de algodão”.
A autora conseguiu compor um personagem fictício de uma forma completamente humana, inserido em uma atmosfera encantada, reproduzindo com perfeição a natureza humana e encantada ao mesmo tempo. A graciosidade deste personagem misturado a narrativa mais os diálogos engraçados e inconstantes, completam e realçam a singularidade da obra, permitindo ao leitor momentos de gargalhadas.
Embora a questão da magia permeie todo livro, existem ainda outros temas encontrados que mantêm discretamente o ritmo do enredo.
Nota-se a contra posição entre a ética e a loucura, as relações de poder e amizade, o sarcasmo da sociedade, contudo, o livro não tem um olhar excessivo que cria um ideal favorável a aquém.
Entretanto o conteúdo desde o inicio exibe sua artéria inglesa, seja resgatando os conflitos do Norte e Sul da Inglaterra, ora revelando a cultura, os costumes e a sociedade da época.
Há também outro ponto quase impossível de não perceber, que é permeado com tanto sentimento pela autora, que não tem jeito de não se deixar envolver e mencionar.
Com muita simplicidade e naturalismo, os livros são colocados respeitosamente nesta obra, como um pano de fundo genuíno e brilhante, elucidando toda a sua prestatividade.
->Minha conclusão sobre o livro: A fantasia existe e a magia esta de volta. Leitura mais que recomendada!
Avaliei com 5 estrelas.