Karamaru 25/11/2019
TRISTE SAGA DE UM HOMEM COMUM
Meu primeiro contato com Maria Valéria Rezende se deu com este “Ouro dentro da cabeça”, e foi uma surpresa bem interessante. A edição lida por mim, da editora Vestígio, é caprichada e traz belas ilustrações do artista mineiro Diogo Droschi. É uma obra curta e tocante, mas que nem sempre encontra um equilíbrio perfeito entre os elementos da narrativa.
O livro, como já declara a quarta capa, é a “história de um lutador que correu sérios perigos e andou o Brasil inteiro tentando achar um tesouro nem de prata nem de ouro: de coisa mais preciosa.” O personagem central, cujas alcunhas e nomes vão sendo apresentados ao longo da narrativa (“Miúdo”, “Coisa-Nenhuma”, “Marílio”...), é um sofredor desde o nascimento.
Obcecado pela ideia de “crescer para ganhar o mundo por mor de aprender a ler”, o fatídico personagem sairá de sua terra natal (“Furna dos Crioulos”) em busca desse objetivo. Ao longo do árduo caminho, deparar-se-á com algumas figuras bastante interessantes. Pena que, na minha opinião, há uma pressa no livro em apresentar tanto as localidades quanto as novas personagens que surgem.
O fato dessas personagens ocuparem pouco espaço faz com que o livro seja “monopolizado” narrativamente pelo protagonista, o que não deveria ser um problema, já que se trata de um livro narrado em primeira pessoa. Contudo, quase nada de muito diferente ocorre com a triste personagem por onde ela passa. Sendo assim, os outros arcos narrativos, se mais desenvolvidos, dinamizariam a trama.
Apesar desses detalhes, terminei a leitura com um saldo positivo. A história contada representa a saga de muitos brasileiros de localidades interioranas que sonham ou sonharam em desvendar os mistérios por trás das letras. A determinação da personagem é também contagiante: “Nunca havia de esmorecer, ainda que o meu caminho fosse longo e duro assim, porque eu vivia de inventar, e inventação não tem fim (p. 84)”.