spoiler visualizarFrancisco Cabral 15/02/2019
Neurociência Prática
Nesta bela obra, Hanson e Mendius fazem dialogar a tradição secular do pensamento oriental budista com os achados mais recentes da neurociência. Argumento a argumento, os neurocientistas justificam como o cérebro através de um processo cognitivo de aprendizagem que começa na infância desenvolve certo conjunto de tendências e atitutdes mentais que, numa tentativa de criar uma barreira de proteção entre si e o mundo, manter seus sistemas internos sob controle e aproximar-se do prazer (apegando-se ao objeto desejado) - acabam por gerar justamente o oposto: sofrimento. Por meio de uma delusão complexa, o sistema nervoso busca identificar-se com a ideia de um eu separado (menor), apegado a dualismos e simulações do futuro que alimentam o sistema de alerta (e consequentemente causam estresse crônico) através de redes neurais associativas. Por fim, por meio de estratégias de meditação os autores traçam técnicas que permitem não só moldar (neuromodular) o fluxo desses pensamentos para melhor (com controle, aprendizado e seleção), como também concentrar as energias para permanecer atuando conscientemente no presente, subliminando a frustração e saindo da zona de conforto. É um livro que aparenta ser leve, mas que considero profundo por trazer à margem da consciência para análise temas existencialmente relevantes que buscam legitimar o ideal de uma identidade comum (eu maior, não-eu), que busca não separar e sim conectar todos os seres. E a proposta não parte de fora para dentro, mas de dentro para fora: na maneira como reagimos, no conteúdo dos pensamentos e na maneira que agimos e atuamos na realidade. É um livro que vale à pena ser lido.