Lia 20/11/2017Cara, muito bem escrito!O livro de Sara Parker é extremamente bem escrito. Ela faz o que apenas uma pequena parte dos escritores conseguem: passar o sentimento de seus personagens de uma forma que faça o leitor se perguntar se não é ele que está dentro do livro sentindo aquilo tudo. Ao mesmo tempo que ela não se prendeu em descrições (ela não é o tipo de escritora que vai ficar falando como o protagonista é bonito por 5 capítulos), ela ambientaliza o livro fazendo com que tudo à volta ganhe uma vida extraordinária.
O livro acaba sendo muito mais o relato da vida da Angelique do que a história do amor dela pelo próprio Barnabas. Não vai ser o tipo de romance onde você achará uma exacerbação das qualidades da pessoa por quem a protagonista é apaixonada, e nem 60 parágrafos falando sobre o que ela sente por ele. É exatamente por isso que o livro não se torna cansativo e já começa com um nível e maturidade na escrita que é simplesmente impressionante. Ela mostra o envolvimento e o amor dos personagens, claro, como todos os outros sentimentos da história, mas sempre deixando claro que Angelique é o foco daquilo tudo. Ela em si, não quem ama e até mesmo não apenas a história. Ela, a versão dela.
Lara trouxe uma história cheia de cores e com um repertório cultural gigantesco, descrevendo com uma precisão incrível o cenário da época, assim como a ambientação da personagem em práticas ritualísticas. Ela não suaviza ou tampouco torna tais partes superficiais e passageiras, nada disso. Ela descreve com emoção todas as passagens, até mesmo as de Barnabas. O que me lembra que esse um dos dois pontos que acabou soando perdido para mim. Tiveram passagens narrativas por ele no momento presente, e deu a entender que a história se dividiria em duas narrativas, a dela e a dele, mas não. A história que foi começava por ele se partiu de repente e isso foi uma pena, porque teria um potencial maravilhoso ali, mesmo que desse mais páginas.
O outro ponto negativo foi que não se consegue ler o livro sem ter procurado saber como era a novela Dark Shadows. Pelo menos você não entende completamente. Ficará meio perdido se apenas tiver visto o filme para tentar achar em que tempo ocorreu o que o livro retrata. O livro não tem nenhuma introdução sobre a história. Ele parte da premissa que você já a conheça, o que elimina você dos parágrafos explicativos sem fim, mas o deixa perdido. Não é culpa da escritora, tendo em mente que ela publicou o livro em uma época que a novela era passada nos EUA e que o filme nem era sonhado. Nisso gostaria de poder ajudar (quem viu o filme):
O filme mudou MUITA coisa da história original, como você perceberá, e o livro é transcorrido no momento em que (não é spoiler) vão derrubar a primeira casa da família de Barnabas no Maine, a de quando eles chegaram. Nesse tempo, ele já está humano novamente e noivo de Júlia, e Angelique tinha sido destruída. Roger se encontra na casa e Carolyn não é uma garota, mas uma jovem na faixa dos vinte. Sua mãe, por sua vez, já é descrita como uma senhora. Não há menções ao filho de Roger, que eu lembre. Podem ver, muito diferente do roteiro de filme, claro.
Foi uma ótima leitura. Não dou 5 apenas por detalhes que eu não gostei muito na formação do livro que é mais gosto próprio do que outra coisa, mas é um livro que eu recomendo, definitivamente. Para quem é fã ou começou a ser ou apenas se interessou pelo filme e quis mais, esse é o livro. Angie é um amor e uma personagem incrível de se ler sobre.
Ps: Um fato bem interessante é que a história da Angelique do livro se assemelha a de Vanessa Ives, outra personagem interpretada pela Eva Green (que faz a personagem no filme), na série Penny Dreadful.