Vê 19/11/2012Eu quase desisti de terminar esse livro. Quase. E, agora, fico feliz por ter insistido, mesmo irritada profundamente. O que me manteve presa a Hereafter não foram os personagens e sua história de amor impossível, mas a história em si. Na verdade, todo o mistério que circundava a vida e morte de Amélia.
Não esperem muito de Amélia e Joshua, o casal principal. São adolescentes bobos, irritantes e que possuem diálogos iniciais tão vagos que parecem conversas de elevador.
Mas deixemos os personagens de lado, vamos ao que realmente interessa: o enredo. Amélia está morta. Disso ela tem certeza há muito tempo. Mas o fato de, constantemente, ter pesadelos em que está se afogando em um rio para, depois acordar em um cemitério, já abrem as portas para o primeiro mistério: o que aconteceu com Amélia?
Preciso compartilhar minha irritação pelo fato de ela acordar várias vezes nesse cemitério e nem se dar ao trabalho de vasculhar entre as lápides, em busca de alguma resposta. Parece que ela está conformada demais com o seu estado ou, como descobrimos depois, esse estado tem o nome de "névoa da morte". Talvez o que gostaríamos de chamar de as cinco fases do luto. Amélia já sabe que não pode fazer nada quanto a sua condição, afinal, ninguém pode vê-la, ela não pode tocar em ninguém, não existem outros fantasmas. Então, o que resta a ela além dos pesadelos?
Quando Joshua surge, tudo muda, ela desperta desse conformismo e passa a questionar sua existência. Por que ela morreu? Como ela morreu? Quem era antes de morrer? Ah, finalmente as perguntas certas. Mas o seu deslumbramento por Joshua atrapalha um pouco seu desenvolvimento no início. Na verdade, o que vemos na relação deles é o que duas crianças fariam. As perguntas bobas, os comentários idiotas, era como redescobrir um mundo que, como adolescentes, eles já deveriam estar cansados de saber. E essa foi a parte que me irritou.
Tudo bem, é novo para Amélia que um humano consiga vê-la e, o mais importante, tocá-la e que essa interação desperta sensações que, no seu corpo espectral, ela pensou ter deixado há muito em sua vida humana. Eles se apaixonam rápido e esse sentimento logo vira o que eu chamaria de obsessão. As perguntas toscas, as reações exageradas, a necessidade de não se separarem. Por favor.
Até posso entender que Amélia tenha passado anos vagando sozinha, desamparada e que encontrar Joshua pode ter sido uma forma de ela estabelecer o novo ponto de partida para descobrir mais sobre si mesma. Foi o despertar de que ela precisava. E, realmente, mais tarde, percebemos isso.
Mas durante os 17 capítulos dos 29, mais epílogo, o que vemos é o andar em círculo desses dois que, no momento, possuem três empecilhos: primeiro - Amélia está morta; segundo - Joshua faz parte de uma família que possuem videntes e sua avó, Ruth, é uma delas assim como ele se tornou ao sofre o acidente, e ela está atrás de Amélia; terceiro - Eli. Uma palavra consegue descrever o que Eli representou para mim durante essa primeira parte do livro: instigador. Eu queria saber mais sobre ele, queria que ele aparecesse mais na história para dar aquele contrabalanço sombrio para o melaço causado por Amélia e Joshua. Embora meus pedidos tenham sido atendidos um pouco tardiamente, fiquei com a impressão de que a Tara Hudson que havia começado a história não era a mesma Tara Hudson a partir do capítulo 18. É como se ela tivesse levado um chacoalhão e, finalmente, engatado na história para desvendar os mistérios que desde o começo havia plantado na minha cabeça.
Essa segunda parte, sem dúvidas, salvou minha opinião sobre o livro. Foi dinâmica, completamente informativa, emocionante e de surpreender. Amélia finalmente tomou as rédeas da própria existência, desgrudou-se de Joshua e sua coragem para mandar no próprio nariz foi a maior surpresa que eu tive. Além disso, seu instinto de proteção não foi, em momento algum, algo ridículo e forçado, realmente podia-se notar que ela retirava daquela necessidade de proteger Joshua e sua família a força para erguer a cabeça e enfrentar tudo. Parabéns a essa personagem que, de última hora, despertou para arregaçar as mangas.
O final, para mim, foi extremamente reconfortante. Por mim, não haveria necessidade de uma continuação o que, claramente, não foi o que aconteceu. Só ainda não tenho certeza de será uma trilogia, mas, se for, os dois últimos títulos: Arise e Elegy poderão esperar um pouco mais até que eu coloque minhas mãos neles, mesmo depois que a editora iD resolva trazê-los para cá. O que posso concluir é que o livro começou capenga, mas evoluiu muito bem. O plot me manteve interessada nele e não me arrependo de ter continuado a ler até a última palavra. Posso não ser a maior fã dos personagens, que eu consideraria acessórios, mas a história, definitivamente os salvou de ser só mais um casal repentinamente perdidamente apaixonado. Digamos que tem-se um ponto aqui, algo pelo o que realmente lutar. Amélia está longe de ser apenas um fantasma que vaga entre o mundo dos vivos e dos mortos. Tem muito mais aí.
E uma última coisa: me incomodou o fato de encontrar vários erros de tradução e revisão no livro. Fiquei um pouco decepcionada já que eram coisas facilmente identificáveis e que poderiam ter sido evitadas. Acho que uma revisão mais atenta poderia eliminá-los.
Indico Hereafter, mas só se vocês prometerem sobreviver para surpreender-se com a segunda parte da história. ;)
Leia o post original em: http://onlythestrong-survive.blogspot.com.br/2012/11/resenha-hereafter-tara-hudson.html