spoiler visualizarNaiana 16/01/2021
Jubiabá conta a vida de Antônio Balduíno, um menino que foi criado pela tia, que ao enlouquecer acaba indo morar na casa de uma família de posses de Salvador, mas por ser negro é destratado pela empregada que causa intrigas que o levam a fugir e morar na rua.
Balduíno sempre teve o sonho de ser homem livre, por isso nunca quis ser trabalhador, achava que trabalhar era ser escravo e isso ele não seria, seria dono de sua vida e faria dela o que quisesse, por isso desde que a tia enlouquecera, morou na rua, virou malandro, boxeador, ao perder uma grande luta resolveu fugir para o recôncavo, onde trabalhou nas lavouras de fumo e até em um circo. De volta a Salvador retoma sua vida de malandro até descobrir que Lindinalva, seu ideal romântico em motivo de suas desventuras também, acabou por ser desgraçada e em seu leito de morte pedir que cuide de seu filho, então vira trabalhador do cais, faz greve e se redescobre como negro que luta pela sua liberdade, que quer ser livre e não aceita vida de escravo.
PERCEPÇÂO DA OBRA COM SPOILER:
Jorge Amado é um excelente escritor, na minha opinião, tenho adorado cada obra sua que leio, ver como ele conta a história do povo baiano, a história do Brasil, é uma verdadeira aula cada livro seu, as lutas que os trabalhadores tiveram para ter seus diretos, para serem reconhecidos como gente, e em Jubiabá percebi outro ponto que me fez adorar ainda mais a leitura, ele faz uma ligação bem direta com Mar Morto, reproduzindo um mesmo trecho Mar Morto com os personagens de Jubiabá e tenho a impressão que o grupo de Balduíno encontra o grupo de Pedro Bala (Capitães de Areia) quando ele morava na rua na infância e mais tarde, durante a greve, já que ao final de Capitães, Pedro entra para o sindicato dos trabalhadores e segue participando de várias greves e em Jubiabá aparece um Pedro Corumba com as mesmas características do Pedro Bala. Achei ótimo essa mistura de personagens e obras que faz com a a trama tenha uma continuação, com se realmente ele estivesse vivendo o que escreve e dando continuidade a estórias que se cruzam. O cenário, obviamente, é o mesmo nas três obras, a cidade de Salvador e o recôncavo baiano, os personagens são pescadores, meninos de rua, trabalhadores do cais, pessoas de vidas simples que só querem ter o direito de viver e não apenas sobreviver, ter o direito de serem considerados gente, e não apenas mão de obra, recurso de uma classe abastada para manter seus negócios e padrão de vida.
Há um trecho (há muitos na verdade) do livro que realmente me marcou, o momento que Helena, esposa de trabalhador da padaria vai procurar Dona Helena, esposa do dono da padaria e pedir que ela interceda pelos grevistas que só estão tentando receber o suficiente para não passarem fome e dar uma assistência médica a família, e Dona Helena se choca ao saber qual o motivo da greve, acredita que o marido não sabe disso, caso contrário já teria aceitado os pedidos dos trabalhadores e não deixaria àquelas criancinhas passarem fome, mas ai conversar com o marido se choca com a realidade de que o marido além de saber de tudo, acredita que não deve nada aos trabalhadores, que isso faz parte da vida, que para ele ter avida que tem, seus empregados tem que viver àquela vida. Bem claro, bem conciso, bem real esse diálogo, e sinceramente, não apenas na época, mas ainda consigo vê-lo hoje em dia, talvez com a diferença de uma hipocrisia maior de alguns donos de negócios.
Eu já ia esquecendo de falar de Jubiabá: é o nome dele que intitula a obra, mas ele não é o protagonista da estória. Entretanto é fundamental para a mesma. Jubiabá é o pai de santo que Balduíno segue, seu mentor de vida e religioso, mas também pode ser considerada suas consciência, porque é a ele quem Balduíno recorre sempre que precisa de conselhos, tem medo, quer uma cura ou alívio para as dores da alma. Não é o protagonista, mas é personagem essencial.