O Livro de Julieta

O Livro de Julieta Cristina Sánchez-Andrade




Resenhas - O Livro de Julieta


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Caverna 20/07/2012

A história é real, da própria autora, Cristina Sánchez, que nos conta sua experiência de após dois filhos normais, ter dado a luz à uma garota chamada Julieta, com síndrome de Down. Foi um susto para a família inteira, pois ela não tinha feito exames profundos a respeito de doenças que o bebê provavelmente poderia ter. Em sua mente, ela idealizava a filha com aspectos totalmente diferentes dos quais ela se deparou. E depois, era tarde demais para pensar em realmente tê-la, ou não. Porém, no decorrer dos acontecimentos, a autora se arrepende por tal suposição, sabendo que aquilo mudaria totalmente sua vida.
Julieta foi um desafio enorme para ela, e isso ninguém pode suspeitar. Se só de imaginar criar uma criança assim, já é difícil, a autora passou por grandes barras, e que não estava nem preparada para segurá-las. Do mesmo jeito, após dois anos, ela decidiu arriscar e ter mais uma filha, Inés, que veio sem sequelas. Julieta era uma criança que com seis anos, ainda agia como um pleno bebê, não sabia ler ou escrever, e fazia birra se discordassem dela, principalmente para chamar a atenção. Ela tinha a mania de arrancar a roupa e procurar por outras durante cinco ou mais vezes ao dia, além de tirar todos os objetos da casa, fora do lugar. Ela ficava feliz com coisas simples, como luvas, e apenas um esparadrapo em seu dedo, mostrando a todos na rua que tinha se machucado, até desgastante tempo depois, em que perdia a graça e jogava fora.

Leia mais: http://hangoverat16.blogspot.com.br/2012/07/o-livro-de-julieta.html
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Ana Ferreira 17/07/2012

Cruel e delicadamente verdadeiro
"[...]o tipo de pessoa em que estamos nos transformando, tudo isso são escolhas íntimas e pessoais, que só devemos a nós mesmos.
Por mais que não se escolha, não podemos cruzar os braços e fechar os olhos. Existe um dever de amor a ser cumprido."
p. 41

Se tivesse que definir “O Livro de Julieta” em uma palavra, acabaria por classificá-lo como ambíguo. De todas as maneiras possíveis. Cristina Sánchez-Andrade, jornalista espanhola e escritora, apresenta-nos aqui um pouco de sua difícil história quando, na 3ª ida à maternidade, descobriu que a filha era portadora da síndrome de Down e como, a partir daquele momento, todas as suas perspectivas de vida caíram por terra, obrigando-a a viver uma nova e duríssima realidade materna.

Ao ler o subtítulo presente na capa do livro, “Uma menina com síndrome de Down e a ternura de sua mãe”, imaginei que se tratasse total e puramente de um causo repleto de belos momentos vividos em família e do amor inabalável entre pais e filhos. O que não deixa de ser em nenhum instante, naturalmente, porém com alguns toques mais dramáticos típicos de uma descoberta amarga de que a doença não está na vizinhança, mas no próprio núcleo, tendo que ser enfrentada dia após dia num esforço coletivo, um esforço muito humano que fará com que centenas de mães na mesma situação de Cristina a compreendam por completo.

A jornalista não nos priva dos sentimentos que passam por sua cabeça, alternando a narrativa de cunho psicológico em diversos momentos, desde o nascimento de Julieta até os 7 anos da menina, aproximadamente, avançando e retrocedendo conforme suas ideias, situações vivenciadas e cartas de seus outros três filhos nas quais estes fazem um retrato da relação com a irmã e as eventuais dificuldades de convivência.

Temos, então, Julieta, que é por si só a estrela do livro. Uma menina teimosa, fã de maiôs da Hello Kitty e da irmã caçula (Inês), bagunceira, extremamente curiosa - como qualquer outro pupilo de sua idade -, que adora ser o centro das atenções, aos 6 anos tem atitudes de crianças de apenas 4 e que, acima de tudo, é dotada de uma imensa capacidade de perdão, invulnerável a quaisquer rancores, estando sempre, sempre pronta para amar de todo coração, o que apenas resulta em mais ternura por parte de sua mãe, contradizendo cada ambiguidade responsável por lhe fazer amaldiçoar a doença. Cristina não se esforça para esconder do leitor a raiva e o medo dos quais foi assolada ao diagnóstico, nem tampouco tenta provar que tudo depois daquele momento foi belo e comum. De seu compromisso jornalístico com a verossimilhança dos fatos, a autora faz um relato fiel das noites insones de choro, dos desagradáveis comentários daqueles que tentavam agradar ao receber a notícia de que sua filha é portadora da síndrome de Down, das visitas rotineiras a hospitais, do progresso exageradamente lento no crescimento psicológico de Julieta, das vezes em que a menina, por pirraça, urinou nas próprias roupas... E também nos fala, em contrapartida, de cada conquista, de cada tarde no parque com uma Julieta a brincar sorridente, do fascínio pela música e do simples prazer de ser capaz de amá-la.

Com uma narrativa fluida, períodos curtos e capítulos com certa independência entre si, “O Livro de Julieta” é uma afirmação sincera do renovado afeto materno. Aquele que deve ser cultivado a cada dia, que vem da alegria em ver o filho feliz e também da obrigação contínua de zelar por ele. Cristina Sánchez-Andrade traduz muito habilmente, numa centena e algumas dezenas de páginas repletas de passagens de sua vida, o quão humana Julieta - uma menina, acima de tudo, especial - a fez ser.

“Hoje, vendo-a sozinha na água, nadando como se fosse uma rã e gritando para o professor “Olha, elou kitty”, penso nas outras recompensas que tive ao longo da vida após grandes esforços. Terminei o curso de direito pela UNED, publiquei meu primeiro livro...
Mas nenhuma delas se compara a ver Julieta na água.
Às vezes, a felicidade é uma cosquinha.”
p. 62
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