Moonlight Books 30/12/2012
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Você já enviou um e-mail por engano?
É assim que começa o relacionamento virtual e Emmi Rothner e Leo Leike. Ela querendo cancelar a assinatura de uma revista envia um e-mail à editora, mas ao digitar um letra errada, quem recebe o e-mail é Leo. Porém não fica em apenas um e-mail, cansada de ser ignorada em suas solicitações, Emmi descarrega toda sua frustração em outras mensagens, levando Leo à responder. O que poderia dar fim a troca de e-mails, seria apenas o começo de tudo.
Leo e Emmi passam a conversar. No começo as mensagens tem um intervalo grande, mas logo o que eram dias de distância, passam a ser segundos. Na frente da tela do computador eles desenvolvem um relacionamento pouco convencional, nada de revelar tudo sobre suas vidas, são apenas momentos de ironia, desabafo ou apenas um bom dia. O segredo é manter certa distância, mas também uma proximidade única, que só pode existir entre duas pessoas que nunca se encontraram, mas ali naquelas mensagens podem mostrar seu lado mais intimo, ou seu lado mais vil, como Leo sempre afirma que Emmi costuma fazer.
"Você fez do meu monólogo interior um diálogo. Você enriquece minha vida interior. Você questiona, insiste, satiriza, você entra em conflito comigo. Eu lhe agradeço tanto por seu humor, seu charme, por sua vivacidade e, sim, até mesmo por suas "vilezas".
Mesmo com todo o cuidado para não identificarem -se, afim de manter o mistério como pano de fundo, Leo descobre que Emmi é casada e ela que Leo acabou de sair de um relacionamento amoroso e não superou isso totalmente. Ambos encaram suas conversas como uma bela amizade, mas logo fica difícil manter tudo neste nível, a intimidade cresce e eles começam a questionar -se sobre o que poderia acontecer caso um encontro pessoalmente ocorresse. Até onde eles seriam capazes de chegar. Mas mesmo com toda esta tensão eles continuam amigos e confidentes, desnudando suas almas.
@mor é um livro sem igual, desde a primeira página já comecei a me divertir com Emmi e Leo. Ambos são personagens muito humanos, o que os torna muito reais. Ela tem um humor bem volátil, o que é bem comum nas mulheres, hora um doce, outras cheia de espinhos. Leo descrevia como um "morde e assopra".
Leo é o sabichão na maior parte do tempo, interpretando cada letra digitada por Emmi, ganhando até mesmo o apelido de "Psicólogo da Linguagem" (ele dizia que isso era por conta de seu trabalho), mas outras vezes ele também se mostra um cara normal, que sofre por um amor que não deu certo e está muito carente.
A evolução do relacionamento é facilmente observada nos textos dos e-mails, é mensurável o grau de intimidade pelas palavras. Começa assim: "Cordialmente", depois um "abraços", logo "com carinho", "beijinhos" e finalmente, "Tenha um belo dia de primavera, seu Leo."
Vindo a intimidade, as conversas ficam mais sugestivas, a aparência ganha certa importância (maior por parte de Emmi e Leo se fazendo de desinteressado), algumas noites eles dividem uma taça de vinho na frente da tela. Garanto que dei boas risadas com os porres de Leo, ele ficava muito mais espontâneo.
A narrativa é acelerada, não que a história seja corrida, ela desenvolve -se no tempo certo. Quando digo acelerada é por causa que sentia as conversas com a velocidade de um e-mail. O escritor conseguiu transmitir toda a veracidade dos sentimentos e humores dos personagens de maneira excelente, sem cair em uma linguagem pobre, típica de mensagens rápidas e nem mesmo vulgar quando os protagonistas mostram sua atração mútua.
A expectativa gira em torno de um encontro. Leo e Emmi nunca estão de acordo neste ponto, quando um quer fervorosamente que aconteça, outro encontra várias desculpas. Como uma prévia deste momento, eles deixam recados gravados nas suas secretárias eletrônicas, é um momento sensacional, melhor até que se eles estivessem frente a frente.
Dez Minutos depois
Re:
Isso não pode significar nada que preste. Eu sei exatamente sobre o que você está pensando. Leo, por favor, vamos nos encontrar! Não vamos perder o que pode ser talvez a última oportunidade razoável pra isso. O que você arrisca com isso? O que você tem a perder?
Dois minutos depois
Fw:
1) Você
2) A mim
3) A nós.
Eu achei este livro muito inteligente, com humor na medida certa, leve. Retrata muito bem a personalidade humana. Não há como não identificar-se com muitas atitudes e pensamentos dos personagens. Eu amei, odiei, ri, várias e várias vezes com esta dupla fabulosa. Confesso que a espera pelo encontro é enervante, levando a devorar o livro sem nem mesmo perceber.
O final é algo que eu queria e não queria que acontecesse, é contraditório, mas a mais pura verdade.
A tradição de romances epistolares, aqueles vivido pela troca de cartas, é repaginado em forma de e-mail, por Daniel Glattauer nas páginas de @mor. O título original do livro não é este, na verdade é algo bem ligado a história, mas só quem ler vai entender. Seria algo como, Bom Para o Vento Norte.
Se eu recomendo? É claro que sim!!!
"Escrever é como beijar, só que sem os lábios. Escrever é beijar com a cabeça."