Marcha de Radetzky

Marcha de Radetzky Joseph Roth
Joseph Roth




Resenhas - A marcha de Radetzky


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Gustavo.Romero 05/01/2020

Belíssimo
O poder descritivo de Roth neste livro deixa qualquer um abismado. Mesmo se tratando de uma obra detalhista, com descrições que herdam tardiamente o "modus" realista da literatura, não há uma palavra sequer desperdiçada. Todas compõem um riquíssimo mosaico fazendo o próprio texto uma metáfora do retratado Império Austro-Hungaro: heterogêneo, conflituoso, belo e anacrônico.
Impressiona como o escritor não se perde em momento algum ao transmitir a decadência iminente do Império e de toda uma "época " por meio da perspectiva individual, dos personagens. Somos capazes de, ao ler, sentir como os Trotta, que já sabem do fim iminente da monarquia, mas não deixam de ficar perplexos quando o conflito armado se concretiza. Penso se essa não é a reflexão mais geral e poética trazida pelo livro - o "saudosismo" nao como medida estetica ou política conservadoral, mas como um escape, como a última resposta ainda razoável e racional frente à perplexidade que nos assola ao testemunharmos a bestialidade (para usar o termo de Roth) da guerra e do autoritarismo esfarelar nossa tão pura e ingênua crença na cultura. Como sugeriria Walter Benjamin, se essa imagem do passado em nada nos alcançar e sensibilizar no presente, o documento de cultura assumirá seu caráter definitivo como documento de barbárie.
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Valéria Cristina 04/06/2022

Uma obra-prima
Na apresentação, a editora diz que "Roth não nós serve nada frio". Afirmação que confirmei com a leitura do livro.

O período retratado no romance vai da Batalha de Solferino, em 1859, até a morte do Kaiser Franz Joseph I, em 1916.

Roth conta a história de três gerações de homens no império austro-húngaro. Ao contá-la, expõe o desaparecimento de uma época e suas consequências nesse mundo do final do século XIX.

Com notas de um humor fino e elegante ironia, as vidas dos personagens vão se desenrolando e suas tradições, amores e angústias nós são narradas. As descrições são minuciosas, porém maravilhosas.

O capítulo XV e o Epílogo são uns dos textos mais bonitos que já li.

Realmente, Roth não nos entrega nada frio.
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Filipe 19/06/2021

Este livro me provocou uma reflexão profunda sobre a bagagem que herdamos de nossos ascendentes, e como ela pode definir todos os rumos da nossa vida. A tragédia se faz presente, direta ou indiretamente, em toda a obra de Roth. A contextualização histórica é integrada ao romance de forma didática e eficaz. Definitivamente uma das melhores leituras do ano.
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jota 05/09/2012

Marcha soldado, dança soldado
Cheguei ao livro de Joseph Roth (publicado pela primeira vez em 1932), tido como sua obra-prima (Roth também autor de Jó e Berlim, ambos pela Companhia das Letras) através da leitura do estupendo livro de Edmund de Waal, A Lebre Com Olhos de Âmbar (lido em março/2012). Os Ephrussi, banqueiros, empreendedores, artistas, etc., parentes de Waal, aqui aparecem como personagens – banqueiros, logicamente.

A célebre marcha militar composta por Johann Strauss e que dá título ao livro de Roth é mencionada diversas vezes (se livros de papel tivessem som eu diria executada), pois o enredo trata basicamente de três gerações de militares. Tudo começou quando o avô de Carlos José von Trotta (o personagem principal) salvou a vida do imperador Francisco José (ou Franz Joseph), o último da casa Habsbourg, numa batalha em 1859 (Solferino).

Acompanhamos, então, a história desse avô-herói, do pai de Carlos José, dele próprio, e também da desintegração social e política do império austro-húngaro. O livro não é empolgante, mas tem alguns momentos comoventes e interessa pelo exame que faz da sociedade austríaca de então. Além disso, o imperador e os Trotta são construídos por Roth de um modo marcante, com suas virtudes e fraquezas, quase as mesmas que todos os seres humanos apresentam (nada de muito heroísmo).

Viena, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, se encontrava no auge. Não era uma festa permanente, como Paris seria depois, mas a capital do império austro-húngaro atraia todo tipo de gente em busca de negócios ou diversão. Entretanto, os dias de glória do imperador Francisco José, que o avô do personagem Carlos José Von Trotta salvou da morte certa vão longe. Ele está fraco, envelhecido, nem se lembra mais da batalha de Solferino, onde isso aconteceu.

Como numa metáfora, a morte do criado Jacques, que acompanhava a família Von Trotta desde há muito, precede a derrocada do próprio império. Enquanto isso, Carlos José tem seus casos com mulheres mais velhas, viúvas e até involuntariamente provoca um duelo, onde morre seu melhor amigo. E a Marcha de Radetzky continua tocando o tempo todo enquanto o exército do imperador vai entrando em colapso.

O livro termina justamente no início da Primeira Guerra Mundial. Com um ato de bravura e de loucura de Carlos José, sonhando, heroicamente, em dar sua vida pelo imperador.

Lido entre 26.08 e 05.09.2012.
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Aguinaldo 27/01/2016

marcha de radetzky
"Marcha de Radetzky" é o romance mais ambicioso de Joseph Roth. Antes de ser a história de três gerações de uma família, desde meados do século XIX até o início da primeira grande guerra, o que o leitor acompanha são os últimos momentos de um império, o Austro-húngaro, que se esfacela. Um jovem tenente de origem eslovena chamado Joseph Trotta salva a vida do imperador, o Kaiser Francisco José I, durante a batalha de Solferino, em 1859. Por conta deste gesto ganha um título de nobreza, o de barão de Sipolje. Trotta casa-se e enviúva cedo. Incomodado com as citações algo exageradas sobre sua bravura ao salvar o Kaiser, transcritas em livros escolares, ele resolve abandonar o exército e educar seu filho único, Franz Freiherr, para seguir carreira como funcionário público. Esse filho, o segundo barão von Trotta, torna-se um respeitado comissário distrital, uma espécie de governador geral de uma das províncias centrais do Império (na região da atual República Tcheca). Ele pouco sabe do passado simples do pai, das razões dele ter se afastado do exército apesar de seu reconhecido heroísmo, e da existência do avó esloveno, um velho guarda caça da periferia. Passa os dias como eficiente membro da enorme máquina burocrática de administração do Império. Franz von Trotta também se casa e enviúva cedo, também tem um único filho, Carl Joseph. Ao contrário de seu pai, Franz não impede o desejo do filho de entrar para o exército. Carl Joseph torna-se tenente como seu avô e é designado para servir num respeitado regimento de cavalaria. De alguma forma a burocracia do Império facilita os planos do rapaz, assim como havia facilitado a ascensão do pai, mas sua inaptidão para a vida militar faz com que Carl se envolva em situações embaraçosas que acabam obrigando-o a mudar de regimento, passando a servir na inóspita fronteira Russa. Mas também ali seus vícios de caráter e tibiez geram problemas e constrangimentos: o envolvimento com uma mulher casada, o contínuo entorpecimento provocado pela bebida, as mentiras que conta para o pai e o acúmulo de dívidas de jogo o fazem flertar com a possibilidade de fugir do exército. Quando o pai se prontifica a encontrar-se com o próprio Kaiser para conseguir uma solução para os problemas do filho eis que o Império sofre o trauma do assassinato do herdeiro do trono e se mobiliza para o que viria a ser o início da primeira grande guerra. Carl poderá finalmente experimentar as loucuras de um campo de batalha, como seu avô. Roth é um mestre no encadeamento de cenas. O romance é longo, mais de quatrocentas páginas compactas, mas a leitura é fácil, a psicologia dos personagens nítida, os diálogos quase sempre irônicos e divertidos. Roth nos apresenta uma sociedade sem identidade, que passou por muitas experiências mas não aprendeu nada com elas, um conjunto de indivíduos que não percebe o anacronismo de sua situação, a proximidade de um desastre definitivo, a inevitabilidade de sua destruição e morte. A mediocridade da educação das elites burocráticas e do treinamento dos militares condena antecipadamente a todos. Os interesses difusos de todos os povos aglutinados ao Império são mais que contraditórios. Não há o que lamentar quando um povo inteiro se ilude, não pesa as consequências de seus atos desarrazoados e escolhas ruins. Belo livro.
[início: 09/09/2015 - fim: 01/10/2015]
"Marcha de Radetzky", Joseph Roth, tradução de Luís S. Krausz, São Paulo: editora Madalena/Mundaréu (coleção Linha do Tempo), 1a. edição (2015), brochura 13x21 cm., 423 págs., ISBN: 978-85-68259-01-6 [edição original: Radetzkymarsch (Köln: Kiepenheuer) 1932]

site: http://guinamedici.blogspot.com.br/2015/11/marcha-de-radetzky.html
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anapaivapaula_ 04/03/2022

?Agora, ele sente aquela ansiedade bem característica, da qual sempre foi acometido antes de todas as mudanças em sua vida. Ele sente presente a ameaça de um novo perigo, o maior de todos os perigos que pode haver, isto é, o perigo pelo qual ele mesmo ansiava. [?] Há um medo do prazer que é, ele mesmo, prazeroso, assim como o medo da morte pode ser mortal.?

?Para que um revólver? Não se viam ursos nem lobos na fronteira! Via-se, apenas, o declínio do mundo.?
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