jota 05/09/2012Marcha soldado, dança soldadoCheguei ao livro de Joseph Roth (publicado pela primeira vez em 1932), tido como sua obra-prima (Roth também autor de Jó e Berlim, ambos pela Companhia das Letras) através da leitura do estupendo livro de Edmund de Waal, A Lebre Com Olhos de Âmbar (lido em março/2012). Os Ephrussi, banqueiros, empreendedores, artistas, etc., parentes de Waal, aqui aparecem como personagens – banqueiros, logicamente.
A célebre marcha militar composta por Johann Strauss e que dá título ao livro de Roth é mencionada diversas vezes (se livros de papel tivessem som eu diria executada), pois o enredo trata basicamente de três gerações de militares. Tudo começou quando o avô de Carlos José von Trotta (o personagem principal) salvou a vida do imperador Francisco José (ou Franz Joseph), o último da casa Habsbourg, numa batalha em 1859 (Solferino).
Acompanhamos, então, a história desse avô-herói, do pai de Carlos José, dele próprio, e também da desintegração social e política do império austro-húngaro. O livro não é empolgante, mas tem alguns momentos comoventes e interessa pelo exame que faz da sociedade austríaca de então. Além disso, o imperador e os Trotta são construídos por Roth de um modo marcante, com suas virtudes e fraquezas, quase as mesmas que todos os seres humanos apresentam (nada de muito heroísmo).
Viena, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, se encontrava no auge. Não era uma festa permanente, como Paris seria depois, mas a capital do império austro-húngaro atraia todo tipo de gente em busca de negócios ou diversão. Entretanto, os dias de glória do imperador Francisco José, que o avô do personagem Carlos José Von Trotta salvou da morte certa vão longe. Ele está fraco, envelhecido, nem se lembra mais da batalha de Solferino, onde isso aconteceu.
Como numa metáfora, a morte do criado Jacques, que acompanhava a família Von Trotta desde há muito, precede a derrocada do próprio império. Enquanto isso, Carlos José tem seus casos com mulheres mais velhas, viúvas e até involuntariamente provoca um duelo, onde morre seu melhor amigo. E a Marcha de Radetzky continua tocando o tempo todo enquanto o exército do imperador vai entrando em colapso.
O livro termina justamente no início da Primeira Guerra Mundial. Com um ato de bravura e de loucura de Carlos José, sonhando, heroicamente, em dar sua vida pelo imperador.
Lido entre 26.08 e 05.09.2012.