Lariane 09/04/2012
A lista foi ideia minha.
Não queria que ninguém morresse.
Não queria ser uma heroína.
Será que, algum dia, você vai me perdoar? (Contracapa)
Dois de maio de 2008, foi o dia em que a vida de Valerie mudou radicalmente...
Como sempre, ela preferia ir de ônibus à escola a pegar carona com sua mãe. Como sempre, foi incomodada por Christy Bruter, uma menina de sua escola, dessa vez a garota má havia quebrado o MP3 de Val.
Ao chegar lá, correu para os braços de seu namorado Nick, e lhe contou tudo que acontecia. Extasiada, o viu indo na direção dela, achando que ele iria tomar satisfação. Ele o fez, só que de uma maneira inesperada, brutal e assassina: com frieza, Nick sacou uma arma e disparou contra Christy.
Depois, foi uma sucessão de mortes e, em pânico, Valerie notou que ele estava matando todas as pessoas de sua Lista Negra. Como? Por quê? A lista era somente uma brincadeira, uma forma de extravasar sua vitimização pelo bullyng. Jamais imaginaria que ele cometeria uma atrocidade como aquela. Impelida a pará-lo, impediu que ele matasse Jessica, uma poderosa do colegial, aquela que sempre induzia os outros a praticar o bullyng. Logo após Nick se mata...
“(...) E foi assim que começou a famosa Lisa Negra: como uma piada. Uma forma de descarregar a frustração. No entanto, ela acabou
se transformando em algo que eu nem imaginava.
Todos os dias, na aula de Álgebra, nós pegávamos o diário e
escrevíamos os nomes de todas as pessoas da escola que odiávamos em segredo. Sentávamos na última fila, um do lado do outro, implicando com Christy Bruter e a professora Harfelz. Pessoas que nos irritavam, pessoas que pegavam no nosso pé. Especialmente aqueles que nos intimidavam, a nós e a outras pessoas” (p.85)
Cinco meses depois era o temido dia de voltar para a escola que fora palco da tragédia. Depois de uma minuciosa apuração pela polícia, Valerie foi inocentada, comprovando que não havia corroborado para os referidos acontecimentos. Mas nem todos pensavam assim...
Seus amigos de antes não a queriam por perto, os outros somente a viam como uma aberração. E, por incrível que pareça, quem queria ajudá-la a superar era Jessica.
Em casa a situação não estava nada melhor. Seu pai a detestava, sua mãe temia que ela fizesse mal aos outros e seu irmão, aquele que ela achava que lhe apoiava, também passou a detestá-la. Detestar e detestar.
“Não estou preocupada com a possibilidade de eles morderem você.
– disse mamãe com uma voz roca. Ela ergueu os
olhos vermelhos para mim e esfregou o nariz com o lenço de papel.
Olhei dela para o doutor Hieler. Ele continuava sentado
com o indicador nos lábio. Não disse nada. Não se moveu.
- Com o que você está preocupada? – perguntei.
- Você vai fazer mal a eles? – perguntou mamãe. – Você está se aproximando
deles para terminar o que Nick começou?” (p. 145)
“Eu tinha mudado a mamãe. Mudado seu papel de mãe.
Seu propósito não era mais fácil e claro como tinha sido
no dia em que nasci. Seu papel não era mais me proteger do resto do mundo.
Agora, seu papel era proteger o resto do mundo de mim” (p. 145)
Val estava sozinha, lidando com a dor de ter perdido o guri que tanto amava. Sozinha em meio à dor e culpa. Sabia que não era culpada de matar o pessoal da escola, mas se sentia culpada por não ter visto que, para Nick, a lista não era só uma brincadeira. Por que ela não percebera? Por que não vira que Nick não era só aquilo que demonstrava? Por que não havia notado o rumo que suas conversas estavam tomando?
Como seguir em frente depois disto? Como voltar a ser a mesma depois que seu namorado havia matado várias pessoas e depois se matado? Seria igual a Nick? Seria capaz de cometer uma atrocidade assim? Com tudo isto Valerie descobriu que nada sabia sobre si, que nem fazia ideia de que pessoa era.
“- Sabe por que a gente se dá tão bem, Val? – ele perguntou depois de um tempo.
– Porque pensamos exatamente igual.
É como se tivéssemos o mesmo cérebro. É legal.
Eu me estiquei, passando minha perna ao redor da dele.
- Totalmente – disse eu. – Danem-se nossos pais.
Danem-se suas brigas estúpidas. Dane-se todo mundo.”(p. 37)
Dor.
O livro me tocou muito. No começo, antes de me conectar tanto ao drama da protagonista, até entendia o porquê a tratavam daquela forma. Ora, ela havia escrito uma lista e desejado a morte de pessoas, inclusive de seu pai. Mas, aos poucos, no decorrer da trama, a autora brilhantemente foi nos fazendo ver e conhecer a verdadeira Valerie. Ver que ela era apenas uma adolescente que amava o namorado, que extravasava suas dores em uma lista. Uma adolescente que muito sofria bullyng e só anotava na Lista Negra como brincadeira.
“- Algum dia você irá me perdoar? – quis saber. (...)
- Não. – respondeu sem me olhar. – Talvez isso faça
de mim um mal pai, mas não sei se consigo.
Não importa o que a polícia disse, você estava
envolvida no tiroteio, Valerie. Você escreveu os nomes na lista.
Você escreveu o meu nome na lista. Você tinha uma boa vida aqui.
Pode não ter puxado o gatilho, mas ajudou a provocar essa tragédia.” (p. 194)
Tenho que lhes dizer que chorei horrores! Chorei pelos dramas de Valeria, por saber que sua dor nunca iria findar por completo, por saber que a garota feliz havia morrido naquele dia fatídico. Chorei por vê-la tanto sofrer... Chorei pelo Nick, por saber que se ele tivesse ajuda, se o passado não o tivesse feito sofrer, seu destino seria outro. Chorei por Jessica, a Barbie líder do colégio, que depois da tragédia mudou complementarmente.
Chorei por saber que essa história, apesar de fictícia, é totalmente condizente com a realidade... Por ser uma verdadeira lição e nos mostrar as consequências do bullying.
Aplausos para Jennifer Brown por demostrar sabiamente que muitas de nossas atitudes, as quais consideramos somente como uma brincadeira, podem ser o estopim para a dor de muitos. Por ter criado uma personagem com vários defeitos, mas muitas qualidades, e não ter mudado sua personalidade no decorrer da trama, só a demonstrando como uma lutadora.
Aplausos maiores ainda por ela ter conseguido fazer com que eu tivesse uma reação desta ante o livro e creio que muitas pessoas também serão tocadas com o livro.
Eu recomendo MUITO o livro. Leitura mais que obrigatória.
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