Psychobooks 07/03/2013
Classificado como 3,5 estrelas
(resenha feita pela colaboradora Sabrina Inserra)
Antes de começar a falar sobre o livro de fato, cabe um adendo: eu sei que vocês já sabem disso, mas nunca é demais enfatizar: esqueçam Harry Potter!!!! Essa história não tem absolutamente nada a ver com a saga que tanto amamos nem no conteúdo, nem na escrita! Aliás, já fica a dica de que o livro não é indicado para menores! (Sério, já teve gente que me perguntou e eu não aconselho. Tanto pelo conteúdo de violência, sexo e drogas, quanto pela escrita mesmo... Se você está na faixa dos 12 aos 15, 16... Espere mais um pouquinho!)
Tendo dito isso, também vale dizer que quando ouvi falar sobre o lançamento de The Casual Vacancy fiquei com um pé atrás. Não queria criar muitas expectativas e tinha até um certo receio do que leria. E foi melhor assim! Consegui desvincular uma coisa da outra e focar apenas no livro!
A história se inicia no dia fatídico da morte de Barry Fairbrother. O fato de ele ser um dos cidadãos mais queridos de Pagford já poderia ser uma tragédia por si só... Mas o acontecimento tem um agravante: Barry era um membro do Conselho da cidade e a vaga casual deixada por sua morte vai ser o estopim para uma verdadeira disputa política entre os moradores da região.
E que moradores! Um dos fatores que fizeram este livro ser bastante abandonado foi justamente a forma com que a autora foi introduzindo os personagens na história. Visualizem: Pagford é uma microcidade, com poucos habitantes. Porém, em vez de irmos os conhecendo aos poucos, ao longo da narrativa, já somos apresentados a todos de uma vez sério, acredito que as primeiras 50, 60, ou 70 páginas iniciais se resumem à introdução de cada um, com direito a família, filhos, profissão e, é claro, a sua reação à morte de Barry. Isso tornou a primeira parte do livro um tanto maçante.
Aliás, a impressão que tive é que essa cidadezinha não possui uma única alma que se salve, digamos assim. Se por um lado as suas complexidades, duplicidades e segredos fazem com que eles se aproximem bastante da realidade, por outro passam um sentimento de desilusão na humanidade. Não sei vocês, mas a imagem mental que fiz deles são de pessoas constantemente frias e infelizes (me julguem). Cabe aqui uma curiosidade que percebi logo no começo: o trocadilho com o nome do morto: Fair (justo) brother (irmão)... Já é meio que uma pista, afinal, pelo que vamos percebendo ao longo da leitura, ele era uma das poucas pessoas gentis e legais da cidade.
E talvez seja justamente por isso que os outros personagens sofrem um impacto tão grande com a sua morte... A cidade acaba se dividindo entre aqueles que admiravam Barry e lutam pelos seus ideais e por aqueles que, por causa de disputas políticas, o execram.
Mas, para que vocês possam entender melhor esse racha, vale a pena dar uma contextualizada. Entre as fronteiras de Pagford e Yarvill (a cidade vizinha que é vista basicamente com desprezo pelos pagfordianos) existe uma região chamada Fields. Ali acabou se concentrando a parte da população vista como a escória: drogados, desempregados, bandidos, pessoas que vivem apenas com o subsídio do governo... É claro que o rótulo não serve para todo mundo, mas ele já é o suficiente para que as duas cidades fiquem uma empurrando a responsabilidade do lugar para a outra. Atualmente ela faz parte dos domínios de Pagford, mas o Conselho, liderado pelos Mollison, quer devolvê-la para Yarvill. Já a corrente defendida por Barry e sua turma é a de que em vez de se abster da responsabilidade pelo local, a cidade deve realizar medidas sociais e integrar os moradores da região à sociedade. Mas, com a morte de Barry o seu lugar ficou vago e é claro que os dois lados querem colocar uma pessoa com o seu ponto de vista no lugar!
Acho que já deu pra perceber a disputa, certo? Mas, se você está esperando por uma batalha épica pelo poder no estilo de Game of Thrones, vai ficar desapontado. Em The Casual Vacancy esse entrave vai se dando de forma bastante diluída e até um pouco arrastada. São muitos detalhes, muitas cenas cotidianas, muitos conflitos pessoais.
Como já disse anteriormente, o principal trunfo da narrativa é a verossimilhança com o mundo real. É inegável o trabalho que a autora teve na construção dos personagens e na representação das suas personalidades. Uma coisa que eu achei bem interessante foi que, apesar de a história ser contada por meio de diversos pontos de vista e em terceira pessoa, os personagens não escondem nada: seus medos, suas loucuras, suas obsessões e psicoses estão ali, destrinchados para todo mundo ver.
Porém, apesar disso tudo, não consegui ser fisgada pelo livro. Não me entendam mal, não é um livro ruim. É muito bem escrito, aprofundado, construído... Mas não possui aquela centelha viciante, que nos faz perder noites em claro, curiosos para saber o que vai acontecer. Em alguns momentos tive que me forçar a virar as próximas páginas mais por uma questão de preciso terminar do que por estar com vontade de ler. Mas, apesar disso, me surpreendi bastante com o final! Não esperava pelo que aconteceu!
A impressão que tenho é a de que, na tentativa de provar que pode escrever algo completamente diferente de Harry Potter, a J. K. Rowling acabou forçando um pouco a mão e carregando em partes desnecessárias. Continuo a admirando e gostando muito de sua escrita mas, infelizmente, The Casual Vacancy acabou não entrando no rol dos meus favoritos. Vamos ver o que virá a seguir...!
""Ah", said Howard. "Well now. That's the question, isn't it? We've got ourselves a casual vacancy, Mo, and it could make all the difference"."