Rafael 22/07/2023
Um livro confuso como as possibilidades do universo
Em Restaurante no Fim do Universo, segundo livro da série Guia do Mochileiro das Galáxias, Adams extrapola conceitos científicos para atar os desenvolvimentos de suas personagens, em uma sequência confusa e ao mesmo tempo reveladora.
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O Restaurante no Fim do Universo é um livro com propósito difícil de se entender. Lançado em 1980, a sequência do livro que dá nome a série, mostra que, uma vez que a barra de genialidade de situações improváveis é sátiras ácidas foi elevada, qualquer coisa que não atinja os mesmos parâmetros tem a chance de ser questionada e não tão bem recebida, como a anterior.
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São muitas situações e opções narrativas que colocam a história neste ponto. Seguindo diretamente os acontecimentos de o Guia do Mochileiro das Galáxias, nos vemos aqui, junto com os tripulantes da nave Coração de Ouro, indo em direção ao Restaurante no Fim do Universo para arranjar algo para comer, no que parece uma trama simples e de gatilho para o desenvolvimento dos arcos das personagens. O que acontece, no entanto, é que somos distraídos várias vezes deste caminho, por uma inumerável quantidade de tramas paralelas, que mais prejudicam do que contribuem para a formação do arco da história, em um sentimento de enrolação que permeia boa parte do começo do livro.
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Adams opta, põe diversas vezes, em separar suas personagens em tramas paralelas, que mesmo sendo suficientemente divertidas, acabam não tendo o mesmo valor que teriam se as personagens estivessem juntas. Com boas ideias, como o encontro com o governante do universo e seu gato Senhor, ou com viagens no tempo para locais já visitados anteriormente na série, nos vemos presos dentro de acontecimentos que parecem não se conectar da mesma forma que no livro anterior.
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A conexão faltante é a interação entre as personagens, que era um dos maiores pontos positivos do livro anterior. Um atenuante ainda mais preocupante é que as personagens isoladas, não tem uma leitura tão atrativa como quando estão juntas em suas situações improváveis. Isso pode ser explicado pelos problemas e enrolações da trama, mas alguns plots aqui são verdadeiramente difíceis de se ler, e de se acompanhar também.
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A questão é que o tempo que aqui nos foi dado, e tomado, parece, da mesma forma que algumas situações da trama, mal aproveitado. Apesar do clímax ser mais conclusivo e interessante do que no livro anterior, acabamos aqui, tentando mais ligar as linhas que nem sempre estão muito a vista, do que propriamente apreciar o desenvolvimento das situações irrisórias que nos são apresentadas.
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Adams é um mestre em criar a partir de uma concepção sua de algo de nosso cotidiano, uma situação impossível, carregada de comédia e comentários pessoais sobre temas complexos e questionadores, no que ainda é o ponto alto da franquia, mas que não foi tão bem empregada aqui.
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Com pontos altos e baixos, nos vemos em uma montanha russa de fases, no que caracteriza uma história mal estruturada, e que, poderia, ser muito mais do que é. Mas, assim como o universo, a percepção de que algo não é o que parece ser, é apenas o primeiro passo da percepção do grande e constante desapontamento de Marvin, que nos foi compartilhado por muitos momentos nesta sequência confusa.
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Mais sobre o Restaurante no Fim do Universo em @rafaelpf00 (só dá um tempinho pra eu postar, pra ficar bonitinho, tá? ?)