Celso Niwa 29/03/2023
O que seria da filosofia senão uma busca incessante pelo verdadeiro, o bom e o belo em si?
E porque Sócrates temeria a morte, se o verdadeiro filósofo é aquele que pensa durante toda a sua vida sobre o que é a morte?
Essa é a postura de Sócrates, que escuta sua "voz" interna (daimon) em busca dos verdadeiros sábios, e dialoga um a um "dando nomes aos bois", através do "parto de ideias"; sejam eles oradores, poetas, políticos ou artesãos. Quando as respostas são suficientes, prossegue no aprendizado do que é verdadeiro e virtuoso, porém, se são insuficientes, não hesita em confrontar os filósofos da opinião, que usam e abusam da retórica com a finalidade de obter prestígios, prazeres, dinheiro e auto engano, o que lhe deram muitas inimizades.
Sua postura é clara: não se confronta a injustiça com outra injustiça; fugir da prisão seria contradizer seus ensinamentos; tão pouco mede forças, age sempre com amor à verdade. As leis dos homens, mesmo que por vezes possam ser injustas, devem ser seguidas, pois elas são constituídas como o reflexo das ações individuais, no seu corpo privado, para reverberar na constituição da vida pública. Além disso, sabe com total convicção que a lei do eterno nunca falha. Não há negociação quando a questão é a sua conduta. Nos seus 70 anos de vida seguiu reto, firme e inabalável ao seu amor pela sabedoria.
A sua reputação de sábio não foi requisitada como um direito, tão pouco ele se considerava um, pois sabia que nada sabia completamente. Cada um de seus discípulos o seguiam e o conhecimento lhes foi sendo revelado, andou com homens e mulheres reais, na experiência do olho no olho, passando a verdade como chama no coração dos seus discípulos, por isso, mesmo pobre, pouco se preocupou com obras escritas, em sua defesa no tribunal disse que não cobrou uma prata sequer para transmitir seu conhecimento sobre as virtudes e a justiça do divino, mesmo assim nada lhe faltou.
Quanto mais sábio, mais alegre e sereno se tornava. E assim partiu para outro plano, quando tomou sua dose de cicuta, na esperança de voltar ao estado de que tanto em vida dizia ser o lugar das Formas, o saber das coisas em si, desassociada da matéria e do corpo, ou seja, uma reminiscência do conhecimento do que é o divino.