Conchego das Letras 07/06/2017
Resenha Completa
Olá, pessoal!
Minha resenha hoje é sobre um romance daqueles “ame ou odeie”.
Começando pelo contexto, a história se passa no século XII d. C., na Inglaterra, em um período denominado Anarquia. À época, os nobres se dividem entre apoiar o Rei Estêvão de Blois e a Imperatriz Matilda, a qual reivindicava o trono, e como consequência o país é assolado pela guerra civil. A autora faz duas notas, uma no início e outra no final do livro, bastante esclarecedoras sobre o contexto histórico e político do período, mas eu não diria que se trata de romance histórico.
Apesar de bem coerente com o contexto da época e deste justificar as ações de alguns personagens, não há menção a fatos históricos na trama propriamente dita e aquelas de cunho político presentes no texto são bem superficiais. Eu o classificaria, então, como um romance de época.
Você deve estar se perguntando: o que há, então, de importante no contexto? O leitor verá, caso se arrisque a ler, que é justamente o contexto político que levará a mocinha, Lady Meriel de Vere, a tomar certas atitudes que serão determinantes de seu destino.
Além de uma verdadeira aula de história, como curiosidade, vale a pena mencionar que o romance é também uma lição de Falcoaria. Apesar de esse “esporte aristocrático” ser comumente abordado em romances dessa natureza, eu nunca havia lido um que trouxesse tantas informações e ainda tão detalhadas a esse respeito, sobre como era praticado na época. Adorei conhecer um pouco mais sobre essa arte, Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO desde 2010.
Vamos ao que mais interessa?
Quem lê minhas resenhas, sabe que gosto de destacar os pontos que considero mais interessantes; aqui eu darei especial atenção às personalidades dos protagonistas, principalmente do mocinho, que, assim como o contexto histórico, é bastante dual.
Desde que ele era criança, notando o lado selvagem de sua personalidade, a família de Adrian tratou de encucar nele rígidos princípios religiosos. Obedecendo ao conselho da mãe, ele ingressa como noviço em uma ordem religiosa cisterciense, uma das mais rígidas da época.
Aos quinze anos, antes de fazer os votos, Adrian recebe a notícia de que sua família foi dizimada e é obrigado a deixar a ordem monástica para assumir sua herança. Ao deixar o monastério, no entanto, promete, perante o maior símbolo do cristianismo, vingança àquele que matou toda a sua família e é nesse momento que se inicia o processo de distanciamento da vida espiritual. Como resultado, temos um mocinho cuja alma está em constante conflito com o espírito; uma personalidade complexa, senão ambígua; uma alma atormentada pela culpa e pelo desejo.
A mocinha, por sua vez, apesar de ser um espírito livre, também vive muitos anos em uma instituição religiosa. Ela, porém, deixa o convento, também antes de fazer os votos, por vontade própria, ao perceber que não tem vocação para a vida de privações de uma freira.
Doze anos depois de deixar o monastério, Adrian é um poderoso lorde e um guerreiro sem igual. Ao conhecer Meriel, toda vontade de seu espírito é subjugada pela da “carne”, e é quando o leitor terá que decidir entre amá-lo ou odiá-lo, pois seu comportamento será abominável.
Eu, pessoalmente, não sou adepta de histórias onde os personagens justificam seus erros em sofrimentos do passado, muito menos de se “romantizar” certos comportamentos. Mas, em “Divino Tormento”, compreendi que se trata de um conflito psicológico do qual pessoas muito religiosas, obrigadas a confrontar as “tentações” mundanas, devem viver com frequência. Além disso, o mocinho não se justifica, ao contrário, ele se culpa e aceita com resignação as consequências de seus erros e até se autoflagela; algo que não se espera de um poderoso lorde da época em questão.
Chegaremos ao momento da redenção? Talvez...
Mais que isso, caros leitores, não posso contar... Só lendo mesmo para decidir se a leitura é um “tormento” que vale a pena ou não. Eu, pessoalmente, apesar de querer matar tanto mocinha quanto mocinho, e também a autora (desculpe, Putney, rsrsr), gostei muito do livro. A leitura me prendeu do início ao fim.
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