Jefferson Nóbrega 01/07/2022
A face desnuda da elite brasileira
Em dezembro de 1963, uma sexta-feira 13, a matriarca Quitéria Campolargo arregala os olhos em sua tumba, imaginando estar frente a frente com o Criador. Mas logo descobre que está do lado de fora do cemitério da cidade de Antares, junto com outros seis cadáveres, mortos-vivos como ela, todos insepultos.
?Incidente em Antares? de Érico Veríssimo não é apenas um livro de Realismo Mágico, a obra ultrapassa isso e traz na figura da cidade de Antares e de seus habitantes uma crítica à mediocridade da burguesia, do conservadorismo e da política brasileira.
A obra é dividida em duas partes, na primeira temos a história de Antares, uma cidade fronteiriça no Rio Grande do Sul dividia pela guerra entre as famílias Vacariano e Campolargo. Através da vida dos personagens o autor vai passando pela história do Brasil e narrando fatos importantes da República Velha, Era Vargas até o Regime Ditatorial Militar. Na segunda vem o ?Incidente?, onde devido uma greve geral os sete mortos que não puderam ser sepultados levantaram de seus caixões para exigir o direito ao sepultamento. E nessa fatídica sexta-feira 13, os mortos reunidos na praça desnudam toda a hipocrisia, as mazelas, as traições e os crimes da sociedade antarense. As grandes personalidades, membros honrosos de uma comunidade rica e religiosa, têm arrancados de suas faces as máscaras da vergonha.
?Incidentes em Antares? tem ?zumbis?, sangue, intrigas, romance, história do país e críticas, ou seja, é uma obra completa. Particularmente senti na primeira parte que o livro ficou um pouco maçante ao narrar os acontecimentos do país, porém percebi que isso foi intencional do autor, acredito que ele queria que sentíssemos como a vida dessas pessoas, presas em amarras sociais e religiosas, repletas de dias monótonos e chatos.
O livro lançado em 1971 é recheado de críticas bastante atuais, onde conservadores lutam para manter os privilégios da elite e os que buscam um mínimo de justiça social são caçados como ?comunista?, o que nos faz refleti se os erros passados não foram suficientes olhando para onde estamos atualmente.