Lola 26/06/2012O mundo é dos que têm coragem para admitir suas fraquezas. "Matarana, a cidade das aparências, onde nem sempre o mocinho é bom e o vilão, mau. Um romance country contemporâneo com mulheres fortes, homens destemidos, pistoleiros, matadores de aluguel e paixões devastadoras.
A humanidade posta à prova em situações-limite..."
Nunca busquei ter um estilo literário, de ler apenas esse ou aquele gênero de livro. Confesso que alguns enredos não me atraem. Por exemplo faroestes, bag-bang’s, caubóis e toda essa coisa meio EUA nunca fez minha cabeça.
Eis que um belo dia li a resenha de um livro nacional super bem indicado pela blogueira Mi, do Inteiramente Diva que me fez querer dar uma chance aos caubóis.
Um tempo depois surgiu a oportunidade de participar do BookTour do livro “Terra Ardente – Amor e Ódio onde nem os fortes têm vez.” E aqui estou para contar para vocês a primeira coisa mais importante que descobri: o livro não é um faroeste fajuto que imita a cultura do Texas apenas abrasileirando os personagens.
Janice Diniz construiu o que há muito está em falta no mercado literário: um romance tipicamente brasileiro, ambientado em uma cidade pequena localizada no cerrado, com homens rústicos e mulheres que aprendem desde cedo a ser fortes. Porque afinal Matarana nunca foi o lar de ninguém.
Uma terra colonizada por influência do governo e onde a lei costuma encontrar dificuldades para se sobrepor aos bandidos disfarçados de ricos latifundiários.
As desconfianças que eu tinha eram a respeito da forma que a autora usaria para ambientar esse enredo, bem como a respeito de sua forma de escrita.
Já no prólogo acabaram-se as desconfianças. Janice utiliza uma linguagem que oscila entre o coloquial e o rústico. Apesar de tudo se passar em uma cidade relativamente pequena ela teve o cuidado de não inserir em seus personagens características forçadas que os deixassem inverossímeis.
O delegado Rodrigo Malverde é o “viúvo convicto” cobiçado pelas mulheres da cidade, que ama a lei acima de tudo. Graças ao seu bom caráter, possivelmente ele não esteja em segurança.
Como é mesmo que dizem, que alguns amigos são lobos vestidos em pele de cordeiro?
Eu definiria assim Thales Dolejal, o 2º homem mais poderoso da cidade. Ele tem ao seu dispor homens dispostos a tudo para obter o reconhecimento do patrão.
Qual será a sensação de ter alguém capaz de tomar um tiro por você?
Talvez Franco, ou melhor, o nosso diabo loiro, possa te dar essa resposta. Do alto da sua masculinidade ele tem um passado que o atormenta. Mas o chefe da segurança de Dolejal quer mais do que reconhecimento. Aparentando ser um homem destemido, talvez sua vida esteja a perigo já que ousou meter-se com a amante do patrão.
E por falar em amante, logo conhecemos Karen, uma mulher que aprendeu a ser forte e controlar suas emoções. Pois se não fosse assim de que forma administraria sua propriedade, suas dívidas, um filho adolescente e uma avó para lá de desligada? Apesar da má fama e dos poucos amigos seu coração almeja o melhor para aqueles que ama. Custe o que custar.
Por outro lado Nova Monteiro, a jornalista da cidade, não tem nem de perto a mesma fama de Karen. Uma mulher de constituição física pequena, mas cheia de amor por Cristiano Bittencourt, o charmoso pediatra e seu melhor amigo. Uma pena é que ele não esteja disposto a romper as amarras de medo que o prendem.
E é como todos sabemos: muitas vezes criamos uma ilusão e de tanto depositarmos nossas esperanças nisso, acabamos acreditando que a vida só terá sentido se aquele sonho tornar-se real.
Porém, o que é a vida senão um conjunto de fatos surpreendentes?
E é nesse clima de romance, perseguições, revelações e perigos que nossos protagonistas serão envolvidos, e no final será impossível tirar do rosto do leitor aquele sorriso de canto e aquela sensação de que na vida aquilo que nos faz feliz, sempre vale a pena lutar.
Um romance sensual sem ser vulgar, uma narrativa em 3ª pessoa que agrada, transmite o íntimo de cada personagem sem tornar-se dramática em excesso nem detalhista demais.
Terra Ardente quer mostrar que ser fraco e ser forte em nada tem a ver com força física, mas sim com caráter. Forte é quem tem coragem de assumir suas próprias fraquezas, é aquele que jamais desiste dessa tal felicidade. Mesmo que demore, mesmo que hajam inúmeros obstáculos.
Forte é quem se joga de cabeça em águas turvas, que deixa o passado e vem sonhar com o futuro e viver o presente da melhor forma possível.
Lutar por aqueles que você ama, ainda que isso lhe custe a vida: esses são os fortes. Esses são os sobreviventes de Matarana.
Resenha Originalmente Postada no seguinte Blog: http://adventurerpenelope.blogspot.com.br/2012/06/booktour-terra-ardente-janice-diniz.html