Ricardo Santos 27/05/2017Autoajuda sincera, mas frágilApesar de suas boas intenções, o livro é um amontoado de equívocos. O argumento do autor é que as religiões, com sua sistematização da fé, por meio de regras, rituais e práticas, têm muito a ensinar aos céticos e ateus. Esse bando de desgarrados com enormes dificuldades em influenciar o pensamento em grande escala e interferir de fato na vida pública. O autor não acredita em qualquer tipo de deus ou entidade sobrenatural. Mas reconhece a utilidade social das religiões em agregar e convencer as pessoas a pensar de determinada maneira, de forma a melhor a vida pessoal e coletiva. Então, à medida que o autor analisa vários aspectos da prática religiosa, ele propõe alternativas seculares, inspiradas no cristianismo, budismo e judaísmo, como forma de criar comunidades coesas e elevar o espírito de realização dos não crentes. Não sou daqueles que acreditam que religião é o ópio do povo. Religiões são criações humanas complexas, ficções da vida real cheias de significados, que fazem parte da ampla necessidade do ser humano por narrativas, que organizam e dão sentido à existência, apesar (ou por causa) de seus mistérios. Sempre deve haver respeito entre céticos e crentes. O problema é que o autor não leva muito em contas as barbaridades cometidas em nome das religiões ao longo da História. E pior, o livro é como um manual de como viver melhor dentro de uma economia de mercado perversa, aviltante. Não há qualquer proposta do autor de quebra profunda das normas, seja para crentes ou céticos. A mensagem seria: tente aproveitar o melhor possível dentro do status quo. O livro não é de todo ruim. Há insights interessantes e passagens informativas. Mas que se perdem num mar de ideias frágeis. No final, o livro não passa de uma autoajuda mais sincera e melhor escrita do que a média.