Li 06/07/2012
para quem quer saber o que é o construtivismo
Neste livro, Telma vai contando à entrevistadora como foi se delineando nela a professora reflexiva, profundamente engajada na construção de um modelo de ensino que leva em conta o saber dos excluídos, que enxerga neles sujeitos capazes de aprender, que busca conhecer e se aproximar dos saberes quanto a como o ser humano aprende e que delineia a partir desse posicionamento e desses saberes modos de ensinar, modos de intervir na escola. Esse livro, que resulta de extenso material gravado e de outros registros, bem como da colaboração de ex-alunas de Telma, tem sido referência em cursos de formação permanente e presença constante na bibliografia de concursos públicos para professores. É um livro que funciona muito bem como primeira leitura daqueles que estão ingressando nos cursos de Pedagogia, na Educação ou que queiram, por serem professores de redes de ensino que optaram pelo modelo sócio-interacionista de ensino, saber do que se trata esse modelo, seus pressupostos teóricos e políticos, e isso não por meio da leitura de textos técnicos, densos e frios, mas por meio de uma leitura que em muito se assemelha com uma conversa. Por que é esta a característica maior desse texto, cuja linguagem é tão viva, íntima e apaixonada quanto um bate-papo com um Mestre, justamente aquele que de tanto saber, adquiriu a humildade daqueles que têm prazer em servir, em compartilhar suas descobertas, sonhos e metas.
O que distingue essa professora que hoje dá formação a outras professoras é o olhar sensível. Ela percebeu aspectos do ensinar, da escola e do grupo que esta atende que para muitos outros profissionais da educação passam despercebidos, como:
• As escolas deixam para professores iniciantes as classes compostas por crianças que mais precisam de intervenção especializada.
• Os repetentes são os mais pobres ou de pele não clara.
• Crianças que trabalham na rua vendendo doces são exímias ao realizarem cálculos mentais que envolvam o troco, mas não sabem resolver os problemas propostos pela escola. Esta por sua vez não busca criar nexos entre o saber dessas crianças e o saber por ela ensinado, taxando-as de incapazes de aprender.
• As crianças que “demoram” para adquirir a compreensão de como se escreve já têm hipóteses sobre como esta se dá e escrevem de acordo com elas. Não é que não saibam escrever, elas não se apropriaram do modo padrão da escrita. Quando a escola diz ”ele não aprende” exime-se do seu compromisso de criar soluções para este problema que não é só da criança, é também dela.
Para melhor agir, para compreender como a criança aprende, a autora leu textos de Piaget em francês. Quantos professores se disporiam a tal?
Essa opção de ser vem da opção de não ser uma presença neutra no mundo, mas de ser um agente transformador dele. É sem dúvida um posicionamento político e ideológico oriundo da consciência da não adaptação nos modos de ser da sociedade e do mundo, e sim da transformação dele.
Mais que a natureza da linguagem, o que também distingue esse livro dos demais que tratam do mesmo tema é o fato d estabelecer com o leitor uma interlocução com quem está produzindo teoria a partir do cotidiano da sala de aula. Há nele a análise e a reflexão a partir da experiência observada e sala de aula. No capítulo um ela conta como deu início a sua trajetória de educadora. Do capítulo dois ao quatro ela conceitua o construtivismo e esclarece alguns equívocos sobre ele. Do capítulo cinco ao oito ela discorrre sobre tópicos tais como:
• O porquê de não ser possível formular receitas prontas para serem aplicadas a quaisquer grupos de alunos (“a prática pedagógica é complexa e contextualizada”);
• Para mudar é preciso reconstruir toda a prática a partir de um novo paradigma teórico;
• A organização da tarefa garante a máxima circulação de informação possível (“o conhecimento avança quando o aprendiz enfrenta questões sobre as quais ainda não havia parado para pensar”);
• O conteúdo trabalhado deve manter suas características de objeto sociocultural real (leitura e escrita de textos reais x escrita de redações sem destinatários reais que não o professor);
• Quando corrigir, quando não corrigir , a correção informativa;
• A avaliação da aprendizagem é também a avaliação do trabalho do professor ( o ensino deve ser planejado e replanejado em função das aprendizagens conquistadas ou não);
• Os que não vão bem devem receber ajuda pedagógica (as dificuldades precisam ser rapidamente detectadas para que as crianças sejam apoiadas, continuem progredindo e não desenvolvam bloqueios);
• Formação permanente pressupõe estudo e reflexão contínuos;
• Tematização do que ocorre na sala de aula;
• Registro do trabalho por parte do professor (escrever para comunicar uma reflexão sobre o que se fez na prática profissional obriga a organizar as idéias, o que pressupõe documentos que em muito superam os diários de classe);
• Por ser este um tempo de transformações cada vez mais radicais, por ser cada vez mais inviável os métodos de ensino que pressupõe o aprendizado como a aquisição de conhecimento ( quando o que se dá é a construção dele por parte do indivíduo que aprende), por ser o construtivismo um modelo de ensino baseado em pesquisas idôneas e das mais diversas áreas, entre outros é que se faz necessária a leitura desse livro, pelo convite à inteligência ao novo.