Julia G 11/03/2015Até eu te encontrar Comentei outra vez por aqui que, muitas vezes, não sei qual leitura iniciar e, quando isso acontece, são os livros que me escolhem. Desde o ano passado, Até eu te encontrar, de Graciela Mayrink, estava esperando uma oportunidade e, por mais que eu o tenha tido em mãos várias vezes, nunca havia lido nem a primeira página... até que o livro finalmente me escolheu, e eu não tive qualquer chance de largá-lo pelos dois dias seguintes.
"- Coincidências não existem - disse Sônia. - O que acontece é
que a vida sempre nos leva na direção de certas pessoas." (p. 38)
Ambientado na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, a história criada por Graciela mistura um ambiente jovem e a sensação de estar entre amigos, descobrindo algumas verdades e sensações da vida pela primeira vez, com algo totalmente inusitado e que pode, à primeira vista, parecer não se encaixar: Wicca e, por consequência, bruxas e feitiços.
Por incrível que pareça, a junção de todos esses elementos foi feita com tal sutileza pela autora que é possível mergulhar na trama e mesmo acreditar na possibilidade de aquilo existir. Tais elementos foram tratados como um complemento a todo o resto, e se tornaram tão naturais em meio ao enredo que deram um toque especial à construção da obra.
A escrita simples e cotidiana, desprovida de frases poetizadas, não pode, de jeito algum, ser considerada sem graça ou qualquer adjetivo parecido. Pelo contrário. Enquanto o enredo se incumbe de envolver o leitor e de fazê-lo devorar as páginas, a linguagem trata de aproximar leitores de qualquer idade, por não se tornar barreira nem para os mais jovens, nem para os mais velhos. O que quero dizer é que o que encanta no livro não é uma linguagem rebuscada, mas uma comunicação bastante fluida - com base em fatos que poderiam acontecer na vida de qualquer jovem ou, caso não pudessem, que, no fundo, muitos de nós gostaríamos de vivenciar.
"- Eu não quero que ele seja minha alma gêmea. Não pode ser,
eu não gosto dele.
- Será?
- O que você quer dizer?
- Por que você pensa que não gosta dele?
Flávia suspirou. Deu um passo para a frente, mas parou.
O que quer que ela fosse fazer, desistiu. Tinha o olhar distante.
- Ele é irritante demais. Está sempre sorrindo,
sempre sendo simpático e atencioso.
Não sei explicar, mas ele sempre me tira do sério.
- É isso mesmo? Ou você que tenta sentir isso?
- Como assim?
- Você realmente não gosta dele ou você não quer gostar dele.
Pense bem, Flávia. São coisas diferentes." (p. 252-253)
Outro ponto a ser citado é que, apesar de jovens, os personagens criados pela autora têm inseguranças e medos naturais da idade, sem serem irritantes. Cito isso por ser comum os autores errarem a mão e criarem personagens ou adultos demais, ou crianças demais, e não é o que acontece neste livro. Eles passam por aquele momento de sair da casa dos pais e têm de aprender a viver sozinhos e, portanto, amadurecer.
O fato de a história se passar no Brasil e, ainda, em uma Universidade Federal contribuiu muito para a identificação com a trama. Isso também me trouxe uma sensação gostosa de nostalgia, de saudades de coisas que nem mesmo vivi, porque, ao mesmo tempo que tenho muito em comum com a personagem, minha vida não tem nada a ver com a de Flávia.
Eu adorei Até eu te encontrar. Foi uma história leve, gostosa, que vale muito a pena ser conhecida.
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http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2014/07/ate-eu-te-encontrar-graciela-mayrink.html