24 letras por segundo

24 letras por segundo Eric Novello




Resenhas - 24 letras por segundo


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E. Dantas 06/10/2011

Play it again, Sam!
Assim como a frase acima nunca foi dita em Casablanca, os contos aqui selecionados nunca foram escritos por qualquer dos diretores citados. Mas assim como o pianista tocou o repeteco de "As Time goes by", os Dezessete gênios não só sacaram, como acertaram em cheio a proposta.
O livro tem capa de VHS ( com direito à etiqueta de cadastro e o velho adesivinho "gold"), espessura de DVD ( e não há como não dizer que esta é proposital) e detalhes gráficos caprichadíssimos. Não devemos julgar o livro pela capa, mas é impossível não julgar a capa desse livro. Eu sou um amante do produto; do que vai pra prateleira, e isso é estória e apresentação. É ponto, Brasil!
Já o conteúdo, esse é de uma pretensão que não cabe ao bongô do Jô ( e nem à minha rima cretina). Os caras resolvem interpretar em contos não só o estilo, mas o intelecto, a capacidade, a estética e a própria criatividade de cada um dos maiores diretores contemporâneos mundiais. E o resultado, que tinha tudo pra ser um fiasco regado à citações e meras cópias, é de uma (acima de todas as qualidades) beleza sem precedentes. Tudo que conhecemos de nossos filmes favoritos e seus diretores; a poesia torta de Tim Burton; A entorpecência de Terry Gilliam; O papo-furado-genial de Kevin Smith; A narrativa sombria de Zé Mojica; O surreal-suburbano de Woody Allen; O descompasso dos Coen; O sangue óbvio e comemorado de Tarantino; tudo, absolutamente tudo de cada um está lá! Da vírgula do diálogo ao, acreditem, plano de câmera. Mas além disso, está o exercício nota 10 de uma classe de autores que precisa ter muito culhão pra assumir a empreitada.
Me surpreendi demais com o talento exclusivo de cada autor e me assustei com a bomba que foi gerada com a junção destes.
Ao fim do livro, a gente aplaude de pé; analisa novamente cada detalhe da obra; verifica com gosto a lombada encaixadinha no Hall dos "lidos", mas acima de tudo, sente uma vontade tremenda de fazer parte dessa galera genial. E eu não tô falando dos diretores...

Vale muito!
Beijos e inté!
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Anica 11/10/2011

24 Letras por Segundo (Vários)
Não é segredo que o cinema usa muito da literatura como inspiração. É só pensar que uma das maiores premiações da sétima arte tem uma categoria dedicada a roteiros adaptados – majoritariamente de livros. E como seria o caminho inverso, da telona para as páginas? Pois a Não Editora trouxe a resposta com a coletânea de contos 24 Letras por Segundo, organizada por Rodrigo Rosp. O título é uma referência à cadência de projeção padrão de cinema, e acredite, a brincadeira de referências vai muito além disso: basta ver a capa (que lembra uma uma fita vhs, daquelas que emprestávamos em locadoras), as ilustrações que antecedem cada conto e até o “Por favor, rebobine o livro” no final. É muito divertido ficar procurando esses detalhes, e é um ponto altíssimo para a Não Editora o cuidado que tem com o visual dos livros que publicam, já que eles também tem no catálogo o ótimo Ficção de Polpa.

Por falar em Ficção de Polpa, saiba que se você é como eu mais um daqueles fãs da série que aguarda ansiosamente o quinto volume, 24 Letras por Segundo vem como um ótimo remédio para aliviar a espera. Como boa parte dos contistas já publicaram nos volumes do Ficção de Polpa (Bernardo Moraes, Rodrigo Rosp, Juarez Guedes Cruz, Silvio Pilau, Bruno Mattos, Samir Machado de Machado, Antônio Xerxenesky e Rafael Bán Jacobsen), há ali uma gostosa sensação de familiaridade, é quase o mesmo que dizer que deu para matar saudades.

Mas sim, 24 Letras por Segundo tem vida própria. O que une os contos da coletânea é a proposta de passar para o papel em forma de conto o que seria um filme típico de determinado diretor. Cada autor escolheu um diretor para representar em conto que sempre abre com a já comentada ilustração do título, além de uma mini-bio do autor, filmografia do diretor e um comentário do autor sobre o cineasta que “adaptou” para o livro. Alguns focam os temas principais dos filmes (como o de Tarantino), outros tentam conversar com algum filme em questão (como o de Shyamalan e o de Almodóvar), outros captam a essência dos trabalhos do diretor (como o de Spielberg). O resultado geral, como é de se esperar, é ótimo.

Fica a pergunta: preciso ser um cinéfilo para gostar do livro? A resposta é não. Muito embora seja evidente que reconhecer seu diretor favorito em um texto, ou mesmo perceber referências e brincadeiras com filmes que você gostou, faz parte da experiência de leitura que 24 Letras por Segundo propõe, mas ele não precisa ser lido só desta maneira. Digo isso porque confesso aqui minha completa ignorância sobre a filmografia de alguns diretores escolhidos (ok, para falar a verdade “a completa ignorância sobre alguns diretores escolhidos”) e mesmo assim gostei dos contos, o que acabou trazendo o extra de atiçar minha curiosidade para ir atrás de alguns filmes. Então se você não se acha tão entendido em cinema, saiba que sim, dá para se divertir muito com 24 Letras por Segundomesmo assim.

Sobre os contos, mantendo a tradição da casa dá para dizer que estão todos para acima da média para excelentes. A coletânea abre com O túmulo frio de Mimi Meyers de Bruno Novaes (referência a Tarantino). A única coisa que faltou nele foi referência às músicas da década de 70 que costumam aparecer nos filmes do norte-americano, mas fora isso é quase como se você estivesse acompanhando algo novo de Tarantino, é divertidíssimo.

Segue então com Um mar para Carmina de Monique Revillon (referência a Tim Burton) que conseguiu captar muito bem o tom fantástico e poético dos filmes de Burton, assim como Rodrigo Rosp nos entrega Todos os homens dizem eu te amo (referência a Woody Allen) que tem o típico personagem neurótico cheio de tiradinhas ácidas especialmente sobre si, muito engraçado.

Inquebrável de Juarez Guedes Cruz (referência a M. Night Shyamalan) traz uma proposta interessante de narrarCorpo Fechado a partir do ponto de vista da mãe da personagem Elias. Meu único pé atrás é que eu realmente não gosto deste filme, então digo com tranquilidade que o conto consegue ser bem superior à película.

Reginaldo Pujol Filho assume a difícil (pelo menos eu acho) tarefa de trazer os irmãos Coen para o papel, com o conto Irmãos que não só ficou muito bom, mas também diverte ficar procurando o modo que o autor conseguiu encaixar cada um dos títulos dos filmes deles na história. Após este conto, por coincidência vem dois seguidos cujos diretores homenageados eu conheço pouco, então acabei lendo sem buscar as referências, no caso O Conchário de Pena Cabreira (referência a Terry Gilliam, que só conheço pelo lado Monty Python) e O elevador de Pedro Gonzaga (referência a Wong Kar-Wai, de quem assisti absolutamente nada) e aqui reforço o que já disse antes sobre não haver necessidade de conhecer os filmes e os diretores para apreciar os contos.

Vem então um dos meus favoritos da coletânea, No trânsito de Silvio Pilau (referência a Kevin Smith). Muito engraçado, lembrando os melhores momentos de Smith (que considero qualquer coisa até Dogma), ele vem em forma de roteiro. Depois temos Os velhinhos de Milton Ribeiro (referência a Roman Polanski), trazendo uma versão de escritores a famosa história do pacto com o diabo (e até Roberto Bolaño aparece ali!). Então a coletânea segue com os ótimos Esqueletos no armário de Eric Novello (referência a Bernardo Bertolucci) e Se não ficares até o fim, eles te passam a perna de Bruno Mattos (referência a José Mojica Marins). No caso do último eu desafio qualquer leitor a ler sem imaginar a voz do narrador como a do Zé do Caixão!

Temos então um toque francófono com Três copos de Diego Grando (referência a Sylvian Chomet) e Visitas de Samir Machado de Machado (referência a Spielberg). Esse conto já esteve presente em outra coletânea da Não Editora, o Ficção de Polpa 2, mas é tão legal que vale a pena reler (mesmo). Sobrevivendo à razão de Antônio Xerxenesky (referência a Hal Hartley) foi um daqueles casos de diretor que até então eu desconhecia e que agora estou morrendo de curiosidade de assistir.

O desfecho da coletânea fica por conta de O paradigma do mexilhão de Rafael Bán Jacobsen (referência a Almodóvar), O fabuloso Juarez de Victor Paes (referência a Milos Forman) e Um dia na vida de David Lynch de Márcio André. Os três conseguem captar muito bem a assinatura desses diretores, e o que é interessante é que apesar da homenagem, conseguem ser originais mantendo o que acredito ser um estilo próprio.

Então se você é cinéfilo e também gosta de ler, não perca tempo e corra atrás de 24 Letras por Segundo – eu duvido que você não encontre nele algumas boas horas de diversão, nem que seja a brincadeira de encontrar referências. Mas se cinema não é muito sua praia, não desanime: a coletânea é tão bacana que é capaz de despertar em você um gosto que até então você desconhecia.
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Palazo 23/11/2011

A sétima arte costuma utilizar em muitos filmes a inspiração proveniente da literatura, ou como é mais chamada de adaptação para o cinema. Muitos livros ganham suas versões cinematográficas e geram discussões calorosas sobre a fidelidade do filme à obra literária, o elenco escolhido, a visão do diretor e outros aspectos que recaem sobre a mesma pergunta:

O filme superou a obra literária?

Agora imaginemos o contrario, a sétima arte adaptada para a literatura. Pois esta é a ideia do livro 24 letras por segundo, lançado pela Não Editora e organizado por Rodrigo Rosp. Dezessete escritores escolhem seus diretores preferidos e escrevem um conto baseado em um filme ou na obra cinematográfica do diretor.

As adaptações dos contos seguem linhas diversas na escrita de cada autor, porém em muitos deles é possível perceber traços marcantes de cada diretor. Como por exemplo, no conto “Um mar para Carmina”, de Monique Revillion, que demonstra com maestria todo o ambiente fantástico da cinematografia de Tim Burton, fazendo uma alusão clara ao filme Peixe grande, um dos meus favoritos.

No conto “Três Copos”, de Diego Grando, é perceptível nos detalhes o diretor Sylvain Chomet (As bicicletas de Belleville e O mágico). A falta de diálogos nos obriga a seguir cada gesto, ação e expressão dos personagens que não precisam da expressão verbal para demonstrar sentimentos, trejeitos ou ações no decorrer da narrativa.

Já o conto “Inquebrável”, de Juarez Guedes Cruz, mostra um ponto de vista diferente do filme “Corpo fechado” do diretor Night Shyamalan. Na história é apresentada a versão dos fatos pela mãe do homem de ossos de vidro, um relato tocante e que dá nova cor ao filme que tem no elenco Bruce Willis e Samuel L. Jackson.

Encontramos também contos que não precisavam de qualquer indicação de qual diretor inspiraram, devido ao estilo único de cada um e que é captado pelos escritores. É o caso do suspense “Visitas” de Samir Machado de Machado, o fantástico “O túmulo frio de Mimi Meyers” de Bernardo Moraes, os diálogos desnorteados de “Todos os homens dizem eu te amo” de Rodrigo Rosp e o inesperado “O paradigma do mexilhão” de Rafael Bán Jacobsen. Impossível não dizer que esses contos são inspirados respectivamente nas obras de Spielberg, Tarantino, Woody Allen e Almodóvar.

Dois contos merecem destaque especial. “No trânsito”, de Silvio Pilau, inspirado na obra de Kevin Smith, um hilariante diálogo entre três jovens em um texto construído em forma de roteiro. O outro é o conto de Bruno Mattos, “Se não ficares até o fim, eles te passam a perna” inspirado nos filmes de José Mojica Marins, conto que ganha naturalmente a voz do personagem Zé do Caixão – eu mesmo li alguns trechos em voz alta imitando o personagem, o que torna o conto muito mais interessante.

Além de todos os contos, vale destacar o design do livro que imita em todos os seus detalhes uma fita VHS, com selos, indicações de elenco e até detalhes no começo e final do livro. Isso sem falar nas informações que precedem cada conto sobre o autor e o cineasta. Detalhes estes que não podem passar batidos, e dão um toque todo especial a obra.

Sem dúvida este é um livro que encanta, seja pela identificação de cada diretor em um conto, pela descoberta de cineastas até então desconhecidos ao leitor, pela escrita de grandes escritores ou pelos fantásticos detalhes gráficos. Além do encantamento, a inversão de papéis ao adaptar filmes em contos abre um leque de discussões ás avessas propícia para boas conversas em torno de um questionamento:

Afinal, será que esses contos superam as obras cinematográficas?

24 letras por segundo

Organização: Rodrigo Rosp

Autores: Bernardo Moraes, Monique Revillion, Rodrigo Rosp (Org.), Juarez Guedes Cruz, Reginaldo Pujol Filho, Pena Cabreira, Pedro Gonzaga, Silvio Pilau, Milton Ribeiro, Eric Novello, Bruno Mattos, Diego Grando, Samir Machado de Machado, Antônio Xerxenesky, Rafael Bán Jacobsen, Victor Paes e Márcio-André

192 páginas

Preço sugerido: R$ 32,00
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Shadai.Vieira 21/03/2019

o conto do Silvio Pilau é machista e gordofóbico!
Como já dizia Stan Lee, "com grandes poderes vem grandes responsabilidades". O ótimo design gráfico, remetendo aos VHS, e a proposta poderiam fazer essa antologia se destacar na minha estante. Porém, beleza e boas intenções não salvam o fraco conteúdo.
Há apenas 1 conto muito bom, o do Reginaldo Pujol Filho, enquanto que a maioria é mediana.

O conto escrito por Silvio Pilau recheado de diálogos machistas e gordofóbicos, é de muito mau gosto. E o do organizador do livro, Rodrigo Rosp, que utiliza o típico, mas desnecessário, protagonista infantil de meia-idade casado que se apaixona por garota de 17 anos dos filmes do Woody Allen, também incomoda.

Ser de 2011 não justifica a maior bola fora da coletânea: só tem uma escritora, Monique Revillion.

nota: 2 estrelas e meia.
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