João Goulart

João Goulart Jorge Ferreira




Resenhas - João Goulart


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Luis 01/09/2013

Jango revisitado e quase absolvido.
O professor Jorge Ferreira é um historiador trabalhista e essa afirmativa não é desculpa para se julgar a sua obra sob um viés ideológico favorável ou não, e sim, uma tentativa de entender e relativizar a interpretação da trajetória do ex-presidente exposta em “João Goulart, uma biografia”.
Logo na introdução, o autor nos adverte de que não se trata de uma “hagiografia”, mas um exercício para abandonar o velho chavão sobre o papel de Jango sobretudo nos episódios pré golpe de 1964. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Para começar, há uma certa complacência com os admitidos erros de Goulart. Mesmo para quem não tem tanta familiaridade com o cenário histórico do seu período presidencial (1961-1964), fica claro que a dúvida constante entre aderir à agenda das esquerdas radicais (capitaneadas por boa fração do PTB, sob o comando de Brizola, os sindicatos, a base soldadesca das forças armadas e os comunistas), compor com a ala moderada do PTB e com o conservador PSD ou ainda, pisar no freio e ceder em certos pontos das reformas para diminuir a ira de pelo menos parte da UDN, só dirimida quase às vésperas do golpe, em favor dos que pregavam as reformas de base “ na lei ou na marra”, facilitou e muito o trabalho daqueles que conspiravam, abertamente ou não, pela sua deposição.
É claro que, como escreve o próprio Ferreira, seria muita ingenuidade personalizar os fatos e creditar à pretensa pouca ousadia de Goulart a facilidade com que o golpe foi executado e a inexistente tentativa de reação por parte do governo. O buraco era muito mais embaixo.
Como se sabe, 1964 foi o desenlace de algo que já vinha sendo tramado bem antes : Em 1950, quando da grita geral da UDN contra a candidatura de Getúlio e , mais adiante, ao tentar impugnar sua posse com a surrada tese da maioria absoluta. Em 54, quando quase conseguiram, sendo impedidos aos 45 do segundo tempo, pela bala do Colt de Getúlio. Um ano depois, em novembro, dessa vez interceptados pelo contragolpe do Marechal Lott e, finalmente, em 1961, quando em uma espécie de ensaio geral, tentaram se aproveitar do caos instaurado pelo lunático Jânio Quadros. A bola foi tirada em cima da linha, graças à imensa mobilização civil e de boa parte da estrutura militar, sob a inspiração de Leonel Brizola e sua campanha da legalidade.
Por outro lado, também não se pode negar que as esquerdas se inebriaram com a perspectiva das reformas, subestimando as forças da reação e inclusive cutucando com uma vária extremamente curta (quase um palito) o leão da hierarquia militar. É ilusório entender o período simplesmente como de unificação das forças progressistas atropeladas pelos reacionários, estes apoiados pelos americanos. Havia um espectro variado entre os grupos reformistas e , não raro, intensa hostilidade entre eles, fazendo com que ninguém se entendesse muito bem sobre a melhor estratégia para aprová-las. Por conta disso, deu-se a apatia do governo que inutilmente tentava uma política de “conciliação”, o que só viria a acirrar os ânimos e provocar ainda mais divisão. Por aí se vê que colocar a “redentora” na conta única da inabilidade política de Jango é de um clichê clássico.
A visão de Ferreira da trajetória pessoal de João Goulart também é um tanto tolerante. Jango é descrito como um espírito puro que apesar de pertencer às elites, só se sentia verdadeiramente bem em meio aos humildes, trocando jantares sofisticados por churrascadas com os peões de suas fazendas. Também soa exagerada a aura que o presidente é apresentado como o legítimo herdeiro do Getulismo, assim reconhecido pelas massas. Difícil acreditar que em momento de tanta polarização e confusão política o povo tenha identificado Goulart como o “Messias” enviado pelo “Deus” Getúlio. Sua liderança não era absoluta nem dentro do próprio PTB.
O conhecido perfil playboy de Jango , dado a bebedeiras, jogatinas e (inúmeras) amantes também é tratado como “coisa da época”, evitando assim expor o personagem a situações que, se não são relevantes para avaliar a sua atuação pública, tão pouco deveriam ser negligenciadas em uma obra que visa dar um retrato o mais fiel possível do biografado, independente de julgamentos morais. Também parece apressada a análise do período de exílio do ex-presidente, sobretudo quando trata de sua atividade empresarial, deixando claro que Jango fez negócios milionários nessa fase, multiplicando a sua já considerável fortuna, única e exclusivamente baseado no seu talento como pecuarista e fazendeiro. Soa uma peça laudatória de defesa.
Por fim, Jorge Ferreira rechaça a conhecida tese do assassinato de Goulart, embora não negue que a operação Condor o tivesse como alvo, o autor aposta que uma sofisticada operação de troca de medicamentos importados (uma das hipóteses sobre a morte de Jango), não combinaria com os métodos menos sutis utilizados na época. Faz sentido.
De qualquer forma, apesar das questões aqui levantadas, “João Goulart, uma biografia”, é sem dúvida a contribuição mais importante para se entender um personagem fundamental no (conturbado) período democrático de 46 a 64. Personagem esse injustamente enterrado nas brumas da memória, do esquecimento e do silêncio.
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André Egg 28/08/2011

O resgate da história política, numa grande biografia
Belo livro, muito bem escrito, com posições políticas muito claras. História bem feita, com boa discussão bibliográfica e mobilizando um grande corpus documental.

Fiz uma resenha do livro para o jornal Gazeta do Povo: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1152674&tit=Jango-pelos-olhos-de-um-historiador
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Bárbara 16/07/2022

Um brinde a João Goulart
A biografia de João Goulart, escrita pelo historiador Jorge Ferreira, é uma obra que carrega a responsabilidade de desbravar a vida do ex-presidente brasileiro, desprezado pelos estudos e por boa parte da população, que foi derrubado por um golpe em 1964 morreu no exílio em 1976. São pouquíssimos os livros que buscam compreender a vida, o perfil e a carreira de Jango. Nesse sentido, meu agradecimento ao Jorge Ferreira por escrever um livro tão importante e que, acima de tudo, ajuda a manter viva a memória do único presidente brasileiro a morrer no exílio.
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Ricardo 14/01/2015

O presidente controverso
Excelente biografia de um personagem dos mais controversos, comunista para a direita, pequeno burguês vacilante para a esquerda. Jango foi o mais jovem vice-presidente e com rápida ascensão na política brasileira e o único ex-presidente a morrer no exílio. A biografia traz luz à características que ajudam a entender o contexto em que vivia e complementa as hipóteses de sua queda. Para quem gosta de história do Brasil, especialmente no século XX é um prato cheio. Sem contar que é possível traçar um paralelo entre as mentiras e os radicalismos da época com as lendas facebookianas e os extremismos das últimas eleições o que leva a concluir o risco que isso pode trazer a uma democracia.
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