O Dossiê Odessa

O Dossiê Odessa Frederick Forsyth




Resenhas - O DOSSIÊ DE ODESSA


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Spy Books Brasil 16/07/2023

Um subversão aos cânones da escrita criativa
Além de ser um baita thriller de espionagem, no melhor estilo Frederick Forsyth, O Dossiê Odessa é também uma aula de como subverter alguns dos cânones da escrita criativa, sem no entanto abandoná-los por completo.

Eu consegui identificar a manipulação muito inteligente, e com bons resultados, de pelo menos três pilares consagrados dos bons thrillers.

Antes de entrar na análise técnica, vamos conhecer melhor a trama.

A trama - A história começa em novembro de 1963, no dia do assassinato do presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy.

Peter Miller é um jovem alemão que trabalha como repórter frilancer em Hamburgo. Aos 29 anos de idade, ele vive com a namorada – a dançarina de strip-tease Sigi – num belo apartamento e se desloca pelas ruas num possante Jaguar XK 150 S, um carro esportivo inglês fabricado em 1960, pintado na cor preta, com uma faixa amarela na laterial.

Em outras palavras, Miller é um playboy. Mas essa situação está prestes a mudar.

O Jaguar 1960 semelhante ao de Peter Miller, protagonista da história.

No dia em que ouve pelo rádio a notícia do assassinato de Kennedy, ele está na estrada voltando de uma visita à mãe. Ele para seu carro no acostamento para ouvir mais detalhes e, por esse detalhe fortuito, acaba vendo uma ambulância que se desloca em velocidade, com as sirenes abertas, para atender uma ocorrência.

Como repórter frilancer, Miller decide seguir a ambulância. Talvez o leve a uma grande história. Ao chegar ao local, porém, descobre que era apenas um suicídio de um homem velho e solitário. Por outra dessas coincidências, o policial que atende o caso é um conhecido de Miller, que afinal cobria a área policial como repórter.

Alguns dias depois, o investigador entrega a ele um diário que foi encontrado ao lado do morto. O suicida se chamava Salomon Tauber, era um judeu alemão, sobrevivente do Gueto de Riga, e narra no diário as atrocidades por que passou.

Lá ele explica o motivo de se ter suicidado: alguns dias antes, viu na rua, em Hamburgo, andando livremente, o homem responsável pelo assassinato de 80 mil judeus no campo em que ele esteve. Conhecido como "açougueiro de Riga", Eduard Roschmann havia desaparecido ao final da guerra e agora Tauber o vira saindo de um teatro, bem vestido, próspero e livre.

Miller, então, decide encontrar Roschmann para transformar a história numa reportagem.

As personagens - A principal personagem que nos guia pela caçada é o repórter Peter Miller. Em sua busca, ele acaba cruzando o caminho de várias personagens secundárias que o ajudam – ou o atrapalham, dependendo do lado em que se encontram –, mas não há uma segunda protagonista.

O grande vilão é a Odessa, organização formada ao final da Segunda Guerra Mundial para proteger ex-membros e oficiais das SS e ajudá-los a escapar às responsabilidaes pelos crimes que praticaram. Roschmann, em si, é um vilão de certa forma onipresente. Encontrá-lo é o desejo de Miller, mas ele não aparece em situações do tempo presente na maior parte do livro.

Quando descobre o interesse de Miller em encontrar Roschmann, a Odessa começa a se movimentar para tentar impedi-lo e aí entram em cena alguns coadjuvantes de vilania que tentarão pará-lo a qualquer custo.

A busca de Miller também acaba despertando a atenção do Mossad, o serviço secreto israelense, que entra em campo como um aliado coadjuvante. O Mossad está interessado na Odessa porque descobriu que seus membros estão ajudando o Egito a recrutar cientistas alemães para desenvolver mísseis teleguiados capazes de atinger Israel com ogivas químicas e biológicas.

Apesar das manobras dessas duas forças antagonistas, Miller meio que segue seu caminho solo. Ele ignora as ameaças, aceita alguma ajuda dos judeus para tentar se infiltrar na Odessa, mas não forma uma aliança com eles. Como diz em certo ponto do livro, seu interesse é em encontrar Roschmann. Ele não está nem aí para os foguetes egípcios.

A necessidade de Miller - Em quaquer história, contada na forma de livro ou de roteiro, é meio consenso que uma boa personagem precisa ter um desejo que move a trama, e uma necessidade psicológica mais ampla, que vai ajudar a justificar esse desejo. Forsyth manipula esse ponto de maneira magistral.

O desejo que move Peter Miller é cristalino desde o início: encontrar um criminoso de guerra que circula livremente por seu país. Mas por que ele quer achar esse homem? Essa é uma pergunta que todas as coadjuvantes a quem ele pede ajuda lhe fazem, e ele nunca responde.

Ele poderia alegar que daria uma ótima reportagem, mas esse motivo cai por terra logo no início, quando o editor na revista para quem ele tenta vender a história rejeita a empreitada. O homem o alerta de que a Alemanha não quer mais saber de histórias do tempo da guerra. Ninguém quer se defrontar com fantasmas do passado, especialmente o de um homem que matou 80 mil judeus que eram, em sua maioria, alemães.

A mãe dele também tenta dissuadi-lo, a polícia, os promotores que deveriam investigar o caso... Ninguém parece interessado no açougueiro de Riga, além de Peter Miller. E dos israelenses, claro.

Na verdade, Miller tem uma necessidade oculta, que Forsyth mantém meio escondida do leitor até o penúltimo capítulo.

Para continuar lendo esta resenha, visite o Spy Books Brasil. Lá você vai saber como Forsyth subverte outros dois pilares dos bons thrillers de espionagem. Confira.

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