O jogo das contas de vidro

O jogo das contas de vidro Hermann Hesse




Resenhas - O Jogo das Contas de Vidro


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3.0.3 01/02/2024

Que o teu eco ressoe em ti
“Sonhava-se com um novo alfabeto, com uma nova linguagem figurada em que fosse possível fixar e transmitir as novas vivências espirituais.”

Ambientado no ano 2200, século XXIII, O jogo das contas de vidro (1943), de Hermann Hesse (1877-1962), se desenrola na sociedade de Castália, onde reside uma comunidade de intelectuais que abdicou da vida mundana. Fundindo as sabedorias ocidental e oriental, a obra guia os leitores a uma jornada surpreendente que se baseia nos ensinamentos de diversos sábios.

A narrativa acompanha a vida de José Servo, que explora diferentes caminhos em sua busca do autoconhecimento. No cargo de Magister Ludi, que é o mestre do jogo das contas de vidro (ou o Jogo de Avelórios), ele embarca em uma viagem que desvenda o profundo significado da história, e isso o leva a questionar as estruturas da própria existência e, em última análise, acaba provocando uma grande mudança interior. O livro termina com a história de Tito, seu último discípulo, e a conclusão sombria, que nos causa profundas reflexões.

Em Castália – sociedade que se assemelha a uma comunidade monástica –, os intelectuais vivem isolados em uma cidade cuja estrutura é dividida em vários grupos, cada um dedicado ao estudo de uma disciplina específica. Há, no entanto, o grupo dos jogadores de Avelórios, que funciona como força unificadora, abrangendo todas as áreas do conhecimento. O verdadeiro significado do jogo reside na sua capacidade de integrar com perfeição os múltiplos campos do intelecto, permitindo, por exemplo, a experiência dos saberes matemáticos por meio de estruturas musicais.

No entanto, é crucial reconhecer que a apresentação do mundo castálico funciona apenas como pano de fundo da obra, pois a verdadeira essência do livro está na narrativa de José Servo, o habilidoso mestre do Jogo de Avelórios. Sua vida serve de reflexão para os leitores, levando-os a pensar sobre suas próprias vidas. Embora seja um homem sereno, o percurso de José Servo rumo à transcendência é marcado por momentos de incerteza, pois o protagonista faz da dúvida um catalisador da fé.

Um aspecto fascinante do livro é como José Servo vivencia momentos de alegria e de tristeza ao longo da narrativa. Ao invés de o protagonista se concentrar na busca de sua felicidade, o seu caminho rumo à transcendência o leva a procurar a serenidade e a harmonia, que são menos vulneráveis ​​ao impacto da tristeza. O que mais nos intriga durante a leitura é que essas emoções não são alcançadas por meio da entrega aos prazeres, mas por meio do ato de contemplação de uma música, de um poema, da beleza da natureza ou da vastidão do universo. Nesse sentido, José Servo se realiza na contemplação da amizade, do amor e das artes.

O percurso do Magister e a sua insatisfação com os privilégios que observa é verdadeiramente notável. Ele é um personagem de grande complexidade, característica frequentemente encontrada nas obras de Hermann Hesse. No livro, o autor explora fortes amizades, como a entre José Servo e Fritz Tegularius, grande jogador de Avelórios. A relação que Servo cria com Plínio Designori oscila entre a amizade e o confronto ideológico e funciona como catalisador para as decisões transformadoras do personagem. Embora a narrativa se desenrole de forma lenta, ela é consistente.

“O mundo estava cheio de devir, cheio de história, cheio de tentativas e de um começo eternamente novo. Talvez caótico, mas era a pátria onde nascem e o solo onde germinam todos os destinos, todos os enaltecimentos, todas as artes, toda a humanidade.”

Sem ação, a obra sustenta mais um sentido de contemplação e de introspecção. Até mesmo os conflitos centrais são lutas internas do protagonista. Mesmo assim, a obra não deixa de criticar a sociedade utópica e aquela que vigorava em sua época. Enquanto Castália se abstém de interferências políticas no mundo, o livro denuncia os intelectuais do seu tempo pela sua falta de envolvimento político e critica aqueles que esquecem o quão importante é a história, a ilusão de liberdade que o liberalismo vende e a natureza opressiva que existe em regimes marcados pelo totalitarismo e pela hierarquização.

O trabalho literário deixado por José Servo é fabuloso. Mesmo depois de uma leitura longa, continua a ser um desafio mergulhar nos domínios metafísicos e envolver-se com as “Três Existências”. Essas narrativas cativam pela sua potência, seu fluxo rítmico e suas mudanças repentinas de circunstância. Nessas obras, vislumbramos José Servo como se a sua consciência se manifestasse a cada linha. É evidente que Hermann Hesse, no auge de sua maturidade, procurou criar contos que atestassem as suas afinidades com as crenças hindu.

O capítulo “O Conjurador de Chuva” explora a ideia de que, embora os primeiros humanos não possuíssem a sofisticação da racionalidade, os seus sentidos e a sua intuição eram altamente avançados. Investiga o significado do medo que eles sentiam em relação à natureza, aos elementos, aos animais e às doenças, e como isso contribuiu para o seu crescimento espiritual. Em contraste, na nossa era moderna marcada pelo excesso tecnológico, a humanidade perdeu de vista o propósito e o significado da vida.

“O Confessor” centra-se na segunda manifestação de José Servo, especificamente na forma do arrependido Josephus Famulus. Este capítulo investiga o tema do serviço altruísta, um princípio cristão fundamental que permeia toda a narrativa. Dion Pugil transmite sabedorias a Josefo Famulus, enfatizando a importância de não tentar converter pagãos satisfeitos, mas focar naqueles que são infelizes e que precisam de assistência. Pugil observa astutamente que, mais cedo ou mais tarde, a natureza passageira de sua felicidade os levará a buscar consolo em Deus.

“A Encarnação Hindu” enfatiza a prática da ioga, especificamente da disciplina seguida pelos iogues ascéticos. Aqui, o autor mergulha no reino da filosofia e da espiritualidade orientais, inspirando-se no taoísmo e no budismo, para apresentar uma narrativa cativante da vida de Dasa e um retrato vívido da natureza ilusória da existência, conhecida como maia.

O jogo das contas de vidro é uma ode ao indivíduo, enfatizando a importância da autodeterminação, do serviço e da busca por um espírito nobre. Aqueles que aspiram ao crescimento pessoal contribuem positivamente para o mundo ao seu redor. Por meio da vida de José Servo, assistimos a um percurso caracterizado por momentos de incerteza, mas também por momentos de profundo crescimento e iluminação. Assim como São Cristóvão, José dedicou-se a servir quem ocupava posições de poder, buscando transcender as próprias limitações e despertar para novas possibilidades. Nesse sentido, o livro investiga o conceito de uma aristocracia espiritual, que tem o poder de elevar um indivíduo comum a um nobre em uma única vida.

As seções do livro se entrelaçam, e cada parte ilumina as outras. Este é um livro que necessita de um consumo lento, apreciando sua complexidade e beleza. O jogo das contas de vidro está longe de ser uma leitura simples e certamente é uma obra que não tem como objetivo entreter; em vez disso, Hermann Hesse investiga domínios mais profundos. Nesse sentido, a vida de José Servo espelha grandes transformações, e aquele que decidir enfrentar a obra não passará indiferente ao poderoso universo criado por Hermann Hesse, universo que é ao mesmo tempo sereno e harmônico, agressivo e caótico.

“E logo em seguida se despertava de novo, devia-se deixar penetrar de novo no coração as torrentes da vida, e nos olhos o terrível, belo e atroz fluxo de imagens sem fim, inelutável, até ao próximo desfalecer, até à próxima morte. A morte era talvez uma pausa, um curto e ínfimo repouso, o tempo de se retomar alento, mas depois tudo continuava, e éramos de novo uma das milhares de figuras na dança selvagem, embriagante e desesperada da vida. Ah! Não havia extinção, não havia fim.”
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Fabio Shiva 04/10/2011

O testamento literário de Hermann Hesse, seu último livro, sua obra magna!

“O Jogo das Contas de Vidro” é ápice da realização intelectual humana, um passatempo criado por uma sociedade futurista que tem em Castália o seu templo sagrado. Lá são realizadas as sessões cerimoniais do Jogo, que dura semanas e até meses. Cabe ao Magister Ludi a função mais alta e sublime, de idealizar e conduzir o Jogo, que sintetiza música e astronomia, matemática e linguística, filosofia e física, o supra sumo de todo engenho e arte da humanidade.

O livro é a biografia de José Servo (Joseph Knecht), lendário Magister Ludi de Castália, acompanhada por textos póstumos de Servo. É como um livro dentro de outro, o tal chamado “livro moldura”. Bem no estilo de Hesse, Só Para Raros.

A primeira parte é lenta, solene, comedida. Ao ler agora pela segunda vez, mais de dez anos depois, foi só lá pela página 400 que lembrei porque considerava esse livro um dos melhores que li na vida. Lindo e essencial.

A segunda parte está certamente dentre o melhor do melhor já produzido por Mahatma Hesse. Reproduzo abaixo uma passagem para gravar na alma!

Viva O Jogo das Contas de Vidro! Viva Hermann Hesse!

Valeu Marcia querida por esse lindo presente!

(30.09.11)

Citação

“(...) Fizera também a experiência de que os homens que se dedicam ao espírito despertam nos outros uma estranha repulsa e antipatia, e que só são apreciados de longe, e lembrados em caso de necessidade, mas sem amor; não são considerados pelos outros seu igual, e sendo possível, evitam-no. Também ficara sabendo por experiência própria que os doentes ou infelizes preferem as inovações mágicas e os exorcismos, tradicionais ou recém-inventados, a sábios conselhos; que o homem prefere ser atingido pela desgraça ou praticar penitência pública a transformar-se interiormente, ou mesmo até a fazer um exame de consciência; que acredita mais facilmente em feitiços do que na razão, em exorcismos mais que na experiência: coisas essas que, conforme parece, nos milênios que decorreram desde então, não mudaram tanto como pretendem muitos tratados de história.

Mas Servo aprendera também que um homem que procura decifrar os domínios do espírito não deve deixar de amar: deve observar sem orgulho os desejos e loucuras da humanidade, mas sem deixar-se dominar por eles; que do sábio ao charlatão, do sacerdote ao malandro, do irmão que presta auxílio ao vagabundo parasita, existe apenas um passo de distância, e que o povo, afinal, prefere pagar a um trapaceiro e deixar-se explorar por um propagandista de feira, a aceitar de graça um auxílio altruísta. Os homens não gostavam de pagar com confiança e amor, mas sim com dinheiro e mercadoria. Enganavam-se mutuamente e ficavam à espera de ser enganados. Era preciso aprender a considerar os homens seres fracos, egoístas e covardes, e a ver quão profundamente nos próprios participamos dessas más qualidades e instintos, sem no entanto deixar de crer e alimentar com essa crença a própria alma; o homem também possui espírito e amor, nele habita algo que se contrapõe aos instintos e anseia por enobrecê-los.”



Comunidade Resenhas Literárias

Aproveito para convidar todos a conhecerem a comunidade Resenhas Literárias, um espaço agradável para troca de ideias e experiências sobre livros:
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http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=36063717
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http://www.comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/
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Pedróviz 10/11/2023

O Jogo das Contas de Vidro
O livro O jogo das contas de vidro, de Hermann Hesse, não é uma leitura fácil. O autor parece chamar atenção para isso no trecho em que descreve um livro que José Servo examina: "Por fim, puxou um volume encadernado, já um pouco desbotado, cujo título, Sabedoria de um brâmane, o atraiu. Primeiro em pé, logo depois sentado, folheou o livro que continha centenas de poesias didáticas, uma curiosa miscelânea de verbosidade oca e de verdadeira sabedoria, de filistinismo e autêntico estro poético. Não faltava esoterismo a esse livro estranho e tocante, assim quis lhe parecer, mas essa doutrina arcana vinha envolta numa casca grosseira, de fabricação caseira."
De fato, por vezes a leitura é monótona e prolixa, de uma narrativa densa mas vazia de significado. Este não é um livro para entreter, longe disso. O autor buscou algo mais, de modo que não, não é nada fácil este livro. Das poucas resenhas que li deste livro, todas foram muito superficiais e8 parece que ou o livro foi lido às pressas ou não se compreendeu a mensagem.
O jogo das contas de vidro foi o ponto culminante da carreira do escritor, já idoso, e lhe valeu o Prêmio Nobel de Literatura de 1946.
O livro é dividido em três partes.
A primeira, dividida em 12 capítulos, é uma biografia do protagonista.
A segunda parte é um conjunto de poemas escritos por José Servo.
Na terceira parte são narradas três "existências" do protagonista, que são exercícios propostos a ele como parte de suas atividades em Castália.
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Iniciei a releitura a partir da terceira parte do livro, que narra as três encarnações anteriores de José Servo. Acabei de ler o capítulo intitulado "O Conjurador da Chuva". Simplesmente magnífico, tanto pelo enredo como pelo conteúdo. Nada melhor que uma releitura passados tantos anos da primeira imersão neste livro. É como se agora eu compreendesse o que na primeira ocasião não percebia.
Neste capítulo aborda-se o fato de, apesar do homem primitivo não ter sido dotado do refinamento da razão, seus sentidos e intuição eram mais desenvolvidos. Aborda-se o papel que o medo da natureza, dos elementos, das feras e doenças teve na espiritualização do homem primitivo. Hoje, com a hybris científica, o homem perde inclusive o sentido da vida.
A segunda encarnação de José Servo é o tema de "O Confessor". Neste capítulo, trata-se da encarnação de José Servo na pessoa do penitente Josephus Famulus. Um elemento presente ao longo de toda a obra é o conceito de servir ao próximo, um conceito essencialmente cristão. Näo é acaso o nome do protagonista. Um capítulo dos mais emocionantes do livro.
Um momento que chamou de modo especial minha atenção foi quando Dion Pugil falou a Josephus Famulus que o cristão não deve tentar converter os pagãos felizes, mas sim aos infelizes que buscam ajuda e que mais cedo ou mais tarde algo acontece com aquela volátil felicidade e acabam por buscar a Deus. Enquanto em "O conjurador da chuva" a ênfase foi o animismo, nos dois seguintes, "O confessor" e "A encarnação hindu" tem-se respectivamente o cristianismo e a filosofia hindu.
O capítulo "A encarnação hindu" é uma belíssima narrativa da vida de Dasa e uma ilustração sobre maia, a natureza ilusória da existência. Neste livro e nos livros Siddhartha e O Lobo da Estepe o autor demonstra influência da filosofia e da espiritualidade orientais, mais notadamente o budismo e o taoismo. Neste capítulo é dada grande ênfase para a ioga, isto é, a praticada pelos ascetas iogues.
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O livro é um grande tributo ao indivíduo, à autodeterminação, ao serviço e, sim, à busca da nobreza de espírito. O livro narra a vida de José Servo, cuja trajetória  foi marcada por dúvidas, mas também pela transcendência e pelo despertar. A caminhada do protagonista foi marcada pelo serviço ao modo de São  Cristóvão,  que visava sempre servir aos senhores mais poderosos (para um cristão não há outra coisa que se possa fazer que não seja servir ao maior Senhor, já que toda obra é feita para Sua glória). José queria que sua vida fosse um transcender, um progredir, um despertar ao final de cada etapa da vida, quando o ânimo e as possibilidades parecem se esgotar. Pode parecer algo egoísta, mas é falsa aparência. Quem faz o bem visando seu crescimento somente pode fazer bem ao mundo. Outro aspecto explorado é uma aristocracia do espírito, capaz de transmutar, no período de uma vida, um mero plebeu num verdadeiro nobre. Mas a impressão que tive é que o livro fala muito mais do que está escrito.  Toda a vida de José Servo, a constante mudança dos meios na busca de uma transcendência e, finalmente, seu último discípulo, Tito,  e o triste desfecho do livro, me fizeram pensar. Havia pensado sobre o tom orientalista do livro, e se talvez Hermann Hesse quisesse expressar, desse modo, maia. Sim, as partes do livro estão interligadas, uma parte explica a outra.  Confesso que nesta segunda leitura compreendi muito melhor a obra, mas este é o tipo de leitura para se digerir lentamente com o tempo. É uma obra monumental pela sua complexidade e beleza e o autor faz jus ao Nobel recebido em 1946.
*****
Um lado negativo no livro é a ênfase dada à filosofia e religião orientais. O cristianismo tem um pequeno lugar na obra. A moda orientalista vigorava nos tempos do autor. Como diz Jeffrey Nyquist em "O Tolo e seu Inimigo": cui bono?
Linharesmaia 06/12/2023minha estante
Excelente resenha.
Me esquiviei algumas vezes da obra, mas suas palavras dão um novo colorido - acho que vale mais uma chance.




Thiago 23/09/2020

Um livro cheio de sutilezas
Este foi um livro muito diferente de tudo que já li. Você não encontrará um clímax, reviravoltas, ou nenhuma grande tragédia.

Ainda assim, apesar de um pouco monótono, a todo momento somos convidados a refletir. São refloxões densas e, por vezes, bastante complexas. É um livro a ser degustado, com tempo e paciência.

Valeu a leitura!
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Breno 17/01/2012

Livro Preferido
O Jogo das Contas de Vidro é sublime!
Durante sua leitura, entrei em estados alterados de percepção, tamanha foi a paz e iluminação proporcionadas pela sabedoria de Herman Hesse. Nenhum outro livro jamais me sensibilizou de modo tão intenso e profundo.
É uma obra que fala sobre auto-conhecimento sem adotar um posicionamento mais ou menos favorável diante de qualquer ideologia ou organização.
Já dei O Jogo das Contas de Vidro de presente para 20 pessoas, e vou continuar a fazê-lo.
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Goldenlion85 14/04/2009

Apesar de ser um bom livro,
é muito detalhado e isso faz
com que eu não me interesse
muito nele.
Aline 15/03/2011minha estante
... me interesse POR ele.
Quem se interessa, se interessa POR alguma coisa.


TomAs.Henrique 06/12/2016minha estante
temos uma "professora de rede social aqui"




João Paulo 04/12/2011

O livro consiste de uma história enorme, relatando a vida de Joseph Knecht desde a infância até sua vida pós Magister Ludi. Depois seguem alguns poemas escritos por Knecht e três contos. Todas as obras giram em torno do mesmo tema: transcender. O que imagino signifcar: fazer sua parte e seguir em frente.
As histórias são muito detalhadas, especialmente a primeira, o que tornou a leitura difícil, como ter que atravessar uma parede usando uma colher. Depois que descobri a "chave" da leitura, tudo se tornou mais fluido.
O livro mostra como a ausência de liberdade pode tornar as pessoas amargas,embora sempre exista uma brecha por onde pode-se fugir. Se o povo de Castália tem a liberdade de abandonar sua "torre de marfim", eu, mero mortal, tenho o dever de viver livre.
Para reler daqui a alguns anos.
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Lucas 29/01/2015

Esta magistral utopia propõe a realização do sempiterno desejo de integração do indivíduo no Todo, da união mística com o Uno, a fim de atingir o centro Absoluto de toda a variedade e diversidade da cultura humana. A música, aqui, é a mais sublime das experiências - e Bach soa quase como um redentor da humanidade. Entre muitas coisas, me chamou a atenção a semelhança com os livros do místico cristão Thomas Merton, seja no valor da contemplação e da meditação, seja no desejo de conciliar as tradições religiosas e filosóficas do Oriente e do Ocidente, seja no dilema de vivenciar a História e o século no âmbito monástico, seja pela riqueza da experiência da solidão do deserto. No meu entendimento, é obra de um verdadeiro mestre, cuja sabedoria teve o mérito de ser reconhecida pelo prêmio Nobel. O que não sei dizer é se a leitura em massa de Hesse feita pela geração da contracultura, na virada dos 1960-70, teve real proveito, no sentido de que a sabedoria do autor parece ter sido relegada a um mero diletantismo de pessoas pouco maduras.
Esley 27/05/2018minha estante
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Bruno Pinto 13/12/2013

Em seu último livro Hermann Hesse joga para o alto a dualidade um tanto simplória - apesar de muito profunda - que predominava em suas obras anteriores para criar algo muito mais complexo.

Em um mundo futurístico, utópico, há uma organização responsável pela guarda de todo o conhecimento teórico da humanidade. José Servo, protagonista da história, entra no seleto grupo e destaca-se rapidamente, ganhando habilidade no Jogo das Contas de Vidro, ou Jogo de Avelórios - um suposto sistema lúdico que concatenaria toda a ciência humana. Mas percebendo a fragilidade da organização ele desperta para o mundo "real".

Hesse dá um mergulho completo no mundo que criou: a própria narração se constitui de uma biografia que teria sido feita por gerações posteriores a José Servo, incluindo ao final obras que teriam sido escritas pelo próprio protagonista, poesias e mais três textos (O Conjurador da Chuva, O Confessor e A Encarnação Hindu - que poderiam até ter sido editados separadamente).

Toda criação de Hesse parece desembocar neste livro: há relatos do personagem desde sua infância, adolescência, contando com experiências espirituais com chineses e hindus, questionamentos existenciais e muitas frases de efeito, chegando até o fim da sua vida. É tanta coisa que fica meio pesado, mas ainda assim é um ótimo livro.

site: http://estantedopinto.blogspot.com.br/2013/11/o-jogo-das-contas-de-vidro-hermann.html
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Cristiana 20/03/2023

Bom mas não pra mim
Sei e entendo a relevância da obra pra literatura de utopias e distopias
Mas não gostei
Extremamente longo e cansativo
Parece um terno looping a vida do protagonista
A maneira que a história é narrada podia ser contada de outra forma
Uma pena pois adoro distopia e queria amar esse livro
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Paloma 24/02/2018minha estante
Pior que é...pensei a mesma coisa quando li essa parte.


leticia cordis 04/04/2021minha estante
É o famoso assassinato do personalismo kkkk




Whermeson 27/02/2020

?Assim como as flores murchas e a juventude
Dão lugar à velhice, assim floresce
Cada período de vida, e a sabedoria e a virtude,
Cada um a seu tempo, pois não podem
Durar eternamente. O coração
A cada chamado da vida deve estar
Pronto para a partida e um novo início,
Para corajosamente e sem tristeza
Entregar-se a outros, novos compromissos.
EM TODO COMEÇO RESIDE UM ENCANTO
QUE NOS PROTEGE E AJUDA A VIVER."

Livro 05 ? 2020

O Jogo das Contas de Vidro ? Hermann Hesse

http://www.patriciatenorio.com.br/?p=3281
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Locimar 01/09/2020

Um longo caminho...
...rumo ao conhecimento de mim mesmo. "Quando o mundo está em paz, quando todas as coisas estão em calma, obedecendo em suas transformações ao seu superior, então a música pode atingir a perfeição. Quando os desejos e paixões não se encaminham por falsas vias, então a música pode aperfeiçoar-se. A música perfeita tem suas causas. Ela se originou do sentido cósmico. Por isso só se pode falar sobre música com um homem que tenha reconhecido o sentido cósmico. A música baseia-se na harmonia entre o céu e a terra, na concordância do sombrio e do luminoso."
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Paulo 01/05/2024

Nem todos podem, a vida inteira, respirar, comer e beber abstrações
Por volta de 2200 há no mundo duas instituições que sobreviveram: a Igreja Católica e a Castália, uma espécie de associação de sábios.

Em Castália não há mulheres, não há religião, nem capitalismo. Há o culto da erudição, da meditação, da música clássica e da matemática. Há renúncia aos bens materiais. Há celibato. O ápice dessa sociedade erudita e alheia ao mundo real é o “jogo das contas de vidro” ou “jogo dos avelórios”, que pretende sintetizar, em símbolos, todo o conhecimento humano universal, da música ao acasalamento das baratas. O autor não explica exatamente como esse jogo funciona, mas isso não afeta o desenrolar do romance.

As pessoas que integram a Ordem de Castália submetem-se à estrita hierarquia que aniquila completamente o individualismo. Lá não se produzem obras de arte, apenas produz-se um intelectualismo estéril.

Acompanhamos a história de José Servo, órfão que foi adotado pela Direção de Ensino de Castália. Em sua trajetória, Servo encontra mestres que lhe inspiraram, com destaque para o padre beneditino Jacobus, historiador, que lhe ensinou que “nem todos podem, a vida inteira, respirar, comer e beber abstrações”. Na juventude, Servo enfrentou acalorados debates com seu amigo Plínio, o qual defendia o mundo real e concreto frente ao artificialismo erudito de Castália. Estudou I-Ching com o Irmão Mais Velho, um eremita especializado na cultura chinesa.

Muito inteligente e perspicaz, Servo subiu rápida e naturalmente na hierarquia da Ordem, chegando ao posto máximo de Mestre do Jogo. Era ele a autoridade máxima que administrava tudo que se relacionava ao “jogo das contas de vidro”, o maior orgulho da Ordem.

Mas ele tinha uma inquietação, um aperto no peito, uma irresignação com sua posição. Não se sentia realizado com suas funções administrativas. Por outro lado, apenas se satisfazia quando tinha a oportunidade de lecionar para os mais jovens.

Após chegar ao cargo máximo, José Servo percebeu que não poderia mais contribuir efetivamente com suas funções na Ordem - decidiu largar tudo e partir para o mundo real.

José Servo teve seu “despertar”, viveu um processo de transcendência. Resolveu começar do zero e abandonar a segurança e estabilidade de sua posição. Abriu mão de reconhecimento pessoal, status, vaidade, para ir atrás do que realmente acreditava. Ele percebeu que a alma precisa do corpo, que a erudição abstrata encontra-se dissociada do mundo. Que Castália era apenas uma pequena parte do mundo. Que não há como fugir da realidade, onde o homem convive com prazer e glória, sofrimentos, decepções e dor.

Trata-se inequivocamente de um romance de formação, mas é muito mais do que isso: uma crítica feroz à sociedade do pós-guerra, ao cientificismo, ao intelectualismo, à completa perda de referências do homem desde o fim da Idade Média. De uma certa forma, o autor reconhece no cristianismo, por meio do padre Jacobus, como a última fronteira de salvação do espírito do homem ocidental.

Após a biografia de José Servo, o livro traz uma parte intitulada “Obras póstumas de José Servo”, com poesias e três contos. Todos abordam a relação mestre-discípulo, a formação dos protagonistas e o descobrimento da vocação. Todos muito bem escritos e interessantes.

Provavelmente, o melhor livro que lerei este ano. Daqueles livros que fazem refletir por meses após a leitura. Livro que promove crescimento intelectual.
Márcia Rogel 26/05/2024minha estante
Fiquei com vontade de ler?.




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