tiagonbraz 04/12/2021
Hino a Afrodite e outros Poemas, de Safo de Lesbos
"Uns, renque de cavalos, outros, de soldados,
outros, de naus, dizem ser sobre a terra negra
a coisa mais bela, mas eu (digo): o que quer
que se ame."
Confesso que antes de ler o livro, nunca havia ouvido falar de Safo de Lesbos. Não estou acostumado a ler poemas, portanto foi relativamente difícil de lê-los - ainda mais porque, infelizmente, sobraram-nos apenas fragmentos da obra de Safo.
Ao ler sobre a "biografia" de Safo (coloco entre aspas devido às informações precárias que temos), deparo-me com a "Grande Questão Sáfica" - uma discussão que ganhou força nos últimos anos, com o avanço do pós-modernismo; Safo foi angariada por alguns movimentos sociais devido aos rumores de que seria homossexual (e sim, de Safo de Lesbos vem a palavra "lésbica").
Nada de novo sob o sol: desde a Antiguidade esses rumores são citados; todos de registros históricos no mínimo duvidosos, cheios de inconsistências. Não obstante, é claro que isso foi tomado como uma certeza pelos movimentos que ergueram a sua bandeira e tomaram Safo como símbolo. Tanto que no início de minha pesquisa sobre a vida de Safo achei que isso era um fato. E não o é.
O que acaba acontecendo, infelizmente - e a tradutora Giuliana Ragusa, com seu trabalho excepcional, mostra na introdução - é que a obra de Safo fica em segundo plano, com a discussão de se Safo era homossexual ou não tomando a parte principal. Sim, são apenas fragmentos, com apenas um poema completo, dez fragmentos substanciais e uma centena de citações breves de autores antigos e cerca de 50 peças de textos em papiro - o que torna a análise e o prazer de ler os poemas algo limitados. Mas, ainda assim, no mínimo interessantes.
Quanto à essa questão, a introdução de Giuliana Ragusa responderá às várias perguntas, mas deixo apenas uma das importantes passagens: "Aos que procuram a poesia de Safo, restarão seus fragmentos - vivos, desafiadores, pulsantes há séculos, a despeito de sua fragilidade material; aos que procuram Safo, a mulher, ou Safo, a lésbica, restará pouco mais do que mitos."
Nos poemas, um tema constante é o amor - com a deusa Afrodite e seu filho (?) Eros tomando parte importante. Há diversas passagens instigantes, em que você realmente se pergunta qual seria o tipo de relação que ela tinha com suas alunas (se elas fossem realmente alunas), e se havia algo de sexual nisso. Porém não passa de especulação. Outro texto recentemente encontrado (em 2004) discorre sobre a velhice e os seus efeitos no corpo - enfatizando que o ser humano reflete sobre o processo inexorável de envelhecimento há muitos séculos, e tentando aceitá-lo.
Por fim, recomendo fortemente que se compre a nova edição, pois novos textos foram encontrados em 2014. Assim, sua experiência com Safo de Lesbos será (um pouco) mais próxima do ideal.