Leila de Carvalho e Gonçalves 13/07/2018
Obra Póstuma
Nascido em 1831, Álvares de Azevedo morreu aos vinte anos de tuberculose, legando uma obra pequena, de inquestionável qualidade e que só veio a público postumamente.
"Macário", considerado seu melhor texto, é de difícil classificação, oscilando entre teatro, diário íntimo e narrativa. Nitidamente romântico, divide-se em dois episódios: no primeiro, é apresentado o encontro entre o protagonista e Satã que o leva para conhecer uma cidade grande (talvez São Paulo da época de acordo com estudiosos); já no segundo, ambientado na Itália, entra em cena Penseroso, um jovem melancólico em busca de um amor virginal que acaba cometendo suicídio.
Curiosamente, no desfecho, Satã leva Macário, amigo de Penseroso, para admirar uma cena onde cinco amigos dormem após uma noite de orgia. Esse é o cenário de "Noite na Taverna", uma seleção de sete contos de Azevedo. Por esse motivo, é frequente os dois textos aparecerem reunidos numa mesma edição.
Acredita-se que "Macário" e "Noite na Taverna" fizessem parte de um único projeto que o escritor desmembrou ou não chegou a concluir. Girando em torno do amor e da morte, essa coletânea exibe relatos sobre necrofilia, incesto, assassinato, canibalismo e várias formas de loucura. No entanto, ela não envereda para o sobrenatural, mas para o extravagante, repleta de debates filosóficos.
Original, "Noite na Taverna" sofreu forte influência de Hoffman e Byron, por conta de sua abordagem mórbida e decadente. Vale mencionar que esse não era o mundo de Azevedo, um jovem instruído e de boa família que, precocemente doente, vivia distante da depravação. Portanto, todos esses assuntos foram introjetados em sua obra através da leitura, fato que surpreende pela naturalidade que sabe manejá-los.