Isabella.Wenderros 15/11/2021Forte, impactante e envolvente.No século 20, a União Soviética de Stalin anexou ao seu território alguns países europeus, entre eles, a Lituânia. Enquanto o mundo se concentrava na Segunda Guerra Mundial, milhões de pessoas foram consideradas traidoras do regime, presas e enviadas para campos de trabalho forçado na Sibéria. Apesar de não existirem documentos que digam o número exato de vítimas, é provável que a maioria tenha sucumbido diante de tanto sofrimento. Para aqueles que sobreviviam – depois de décadas de abusos inimagináveis – a volta para casa era agridoce: eram vistos como criminosos, suas casas pertenciam aos agentes do regime, até mesmo seus nomes, em alguns casos, tinham sido roubados. O silêncio era essencial para evitar ser assassinado ou voltar para o lugar onde tinham ficado por anos. É nesse contexto que a autora apresenta Lina Valkas e sua família.
Lina, com 15 anos, impressiona com seu talento espantoso para o desenho. Prestes a ingressar em um renomado curso de arte, vê sua vida desmoronar quando sua casa é invadida na madrugada pela NKVD e ela é levada juntamente com sua mãe e seu irmão para um trem de carga sem saber qual o motivo ou seu destino. Desse ponto em diante, o terror em que ela é jogada com milhares de desconhecidos é chocante – em alguns momentos, eu me peguei pensando sobre o nível de crueldade no qual a humanidade pode chegar.
Em contrapartida, existia tanta empatia e bondade entre a maioria das pessoas, que dava uma sensação de esperança. Elena, mãe da protagonista, foi alguém por quem eu torci muito. Ela era uma luz no meio de tanta escuridão, sempre pronta para estender a mão e acolher alguém – mas não era a única. Como podiam, todos tentavam aliviar o fardo tão pesado que precisavam carregar juntos, inclusive, crianças e idosos.
O assunto tratado por Ruta Sepetys foi uma novidade pra mim, algo sobre o qual nunca tinha ouvido falar. Com capítulos curtos, a leitura fluiu rapidamente, apesar do tema pesado. Além disso, me envolvi tanto com os personagens que não consegui largar até descobrir o que aconteceria com eles. Fiz mil pesquisas no Google, marcando outros livros que falam sobre esses campos soviéticos e assisti a adaptação de 2018 – muito boa no começo, morna no meio e gostei bem pouco do final; apesar disso, valeu a pena.
Acho que a conclusão poderia entregar um pouco mais de informações – existe epílogo do epílogo? Foi uma ótima leitura, que me surpreendeu e apresentou um episódio da história humana que eu desconhecia. Fiquei emocionada e tocada. Uma das minhas melhores leituras do ano.