Lodir 24/11/2011Após o sucesso do “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, nada mais esperado que uma “seqüência” embalada no sucesso. Leandro Narloch, jornalista com passagem por diversas revistas da editora Abril – entre elas Veja e Superinteressante – pegou onda no sucesso de Laurentino Gomes e ajudou a mostrar que livros de história vendem no Brasil – e vendem muito. Agora, o conceito de livro polêmico, que tem a intenção de mudar a forma como vemos a história aprendida na escola, passa a ter foco na América Latina. Assim como o autor colheu diversas passagens brasileiras no livro anterior, agora é a vez dos personagens e fatos que marcaram os nossos países vizinhos. Dessa vez, ele convocou um colega seu, outro jornalista da editora, para co-escrever o livro, uma diferença que pode ser facilmente notada com relação ao anterior.
Este guia traz personagens como Che Guevara, a família Perón, Salvador Allende, Hugo Chávez, Simon Bolívar, Fidel Castro e Pancho Villa, relatando os momentos da história que trouxeram esses personagens. Os grandes destaques são, como era de se esperar, os capítulos de Che, Perón e Bolívar, por serem os nomes mais conhecidos aos brasileiros, e por trazerem informações interessantes e relevantes sobre eles. O grande destaque da obra é o capítulo sobre Che Guevara. Ele, um personagem histórico pouco conhecido pela população em geral, acabou tornando-se um mito e uma figura simbólica que representou diversas revoluções, ainda que ninguém saiba dizer ao certo o motivo. Os autores mostram que, ainda que muita gente use a famosa foto de Che estampada em camisetas, a maioria não sabe do passado terrível e sanguinário que o ditador teve. Basta dizer que, além de todos os registros contra ele, há vídeos no Youtube com discursos do próprio Che onde ele confessa já ter fuzilado muitos de seus opositores – e que ele pretendia continuar fazendo isso.
Outras verdades são apontadas por Narloch e Teixeira sobre as demais figuras. A obra mostra que Perón abrigou nazistas, afundou a economia argentina quando ela vivia seu melhor momento e se envolveu com meninas de treze anos – em plena Casa Rosada, sob o conhecimento de todos. Bolívar, ditador que queria comandar toda a América Latina, aparece no livro com um perfil bem diferente ao que Hugo Chávez mostra aos venezuelanos hoje. Ao invés do homem libertador e preocupado, Bolívar é retratado como o homem arrogante que afundou todas as regiões em que fez política.
Este, no entanto, não é tão bom quanto o livro sobre o Brasil. Também é interessante e fácil de ler, principalmente tratando-se de um livro de história, mas não tanto quanto seu antecessor. A sensação que fica é que, quando escreveu o primeiro, o autor realmente tinha versões diferentes e contraditórias para contar, que batiam de frente com a história oficial que é ensinada. Já nesse segundo volume, talvez a maior inspiração tenha sido o apelo comercial após o sucesso de estréia, e provavelmente não havia tanta coisa nova sobre a América Latina. Capítulos como o sobre Salvador Allende, Pancho Villa e a civilização inca não apresentam nada de interessante, tornando-se enfadonhos a maior parte do tempo – exatamente como os livros de história da escola.
Esse fato pode preocupar, já que o próximo lançamento da dupla será sobre a história geral do mundo – ou não. Com um leque maior de possibilidades e opções, os autores talvez encontrem mais novidades para contar aos seus leitores – algo realmente novo e polêmico. Um argumento usado freqüentemente contra eles é o de que seus livros não têm boa base de pesquisa, o que não é verdade. Basta consultar a vasta bibliografia ao final de cada capítulo para constatar isso. O problema, contudo, é que a intenção dos autores é justamente vender polêmica e ir contra o senso comum, o que obviamente causa atritos. O tenso bate-boca entre Leandro Narloch e Fernando Morais que aconteceu na Fliporto agora em novembro, em Olinda, exemplifica isso. Morais, outro historiador best-seller, não gostou do que ouviu do jovem jornalista sobre Cuba, e partiu grosseiramente para o ataque. Polêmica vende, é claro. O difícil é convencer a pensar diferente quem já está acomodado com uma versão dos fatos.
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