Juliana Pires 07/06/2012O Silêncio do Túmulo - Arnaldur Indridason / Companhia das Letras Hoje com 23 anos, eu só presenciei uma vez algum tipo de violência doméstica, foi quando eu era criança na casa de uma amiga, eu nunca me esqueci daquela cena, aquilo me deixou chocada, e hoje tanto anos depois qualquer tipo de violência doméstica ainda me deixa, mesmo que seja em um livro que é uma ficção, não consigo deixar de pensar quantas mulheres/crianças passam por isso e não tem a oportunidade de se defenderem, isso ao contrário do que muita gente gosta de acreditar não é uma realidade distante, não é algo que acontece só na periferia, pelo contrário esta entranhada em todas as camadas da sociedade.
Eu comecei com esse breve relato por que a violência doméstica é um tema abordado no livro, e é algo que me deixa tão revoltada com o ser humano de uma forma geral que eu precisava falar um pouco disso antes de começar a resenha de fato.
O Silêncio do Túmulo é um livro policial um pouco diferente, esta longe do ritmo frenético de alguns outros livros do gênero que eu já li, como os livros do Harlan Coben e James Patterson, se passa num país totalmente diferente e do qual eu só tinha “visitado” uma vez ao ler Viagem ao centro da terra, a Islândia e a investigação é de um crime que provavelmente ocorreu há mais de 70 anos.
Uma ossada humana é encontrada parcialmente enterrada em um terreno nos arredores de Reykjavík, de acordo com os especialistas a ossada deve ter por volta de 60/70 anos, então se houve de fato um assassinato ele ocorreu na época da Segunda Guerra Mundial, mas isso não é um empecilho para o detetive Erlendur e sua equipe, que tratarão o caso da mesma forma que qualquer outro.
Achar testemunhas que possam esclarecer o caso de alguma forma é difícil, por que a maioria já morreu ou esta muito velha para dar uma explicação lúcida. Mas com jeito os detetives vão encontrando pistas e aos poucos o caso vai sendo elucidado.
Enquanto acompanhamos a história no tempo real, somos apresentados a uma família que viveu na colina por volta de 1940 e pode ter relação com o caso. Eu preciso confessar que eu morri de ódio nessas partes, pois o marido batia tanto na mulher e ela não entendia o porquê de tanta violência – ela não fazia nada, e nem que fizesse - quando tentava fugir, ele ia atrás, ameaçava os filhos – que ele não amava – era o típico corvadão fora de casa era legal com todo mundo, gentil, até sorria – como o próprio filho dele constatou - mas em casa era o diabo na terra.
Também acompanhamos – em segundo plano – a vida familiar conturbada do detetive Erlendur, sua filha com quem não tinha muito contato, esta em coma por excesso de uso de drogas, e nas visitas que ele faz a ela nós vamos descobrindo mais sobre ele, sobre sua infância, sobre seus traumas, sobre o porquê ele abandonou a família.
Como eu disse antes o livro tem um ritmo mais lento, mas nem por isso é menos interessante, por que o mais importante é o aspecto psicológico dos personagens que é muito bem desenvolvido, e apesar do final um pouco óbvio eu ainda consegui me surpreender, e gostei muito do livro.
Achei interessante falar sobre a violência doméstica por que é uma questão importante do livro, e é um assunto que precisa ser discutido, pois fechar os olhos para isso justificando que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher é inaceitável.
Eu não sei onde precisamos mudar para suprimir esse tipo de violência, ela esta enraizada no machismo, que considera a mulher um objeto, um mercadoria, “algo” – não alguém – que não merece respeito, que nasceu para servir aos homens, que não tem direitos iguais. Como mudar essa cultura, é outra coisa que também não sei, e acho difícil que alguém saiba. Talvez, só talvez se pararmos de dividir, classificar, estereotipar os gêneros – por que para mim homens e mulheres só são diferentes biologicamente – podemos começar a melhorar essa questão.
É algo em que se pensar, espero que vocês tenham gostado da resenha e me desculpem pelo tom pessoal com o qual a escrevi, mais considero esse assunto muito importante e que precisa ser debatido.
O livro tem uma história fechada, mais assim com outras séries policias que narram diversas investigações de um mesmo detetive, como o Myron Bolitar do Harlan Coben e o Alex Cross do James Patterson, também temos mais livros do detetive Erlendur e sua equipe – Elinborg e Sigurdu Óli, esses nomes são muito engraçados.