A trégua

A trégua Primo Levi




Resenhas - A trégua


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Afonso74 19/02/2022

Um pesadelo depois do maior pesadelo
Depois de ver tantos filmes e ler alguns livros sobre II Guerra Mundial e Holocausto, essa obra toca em uma ferida que eu, e creio que muitas outras pessoas, nunca havia pensado a respeito : como foi o período pós libertação dos campos de concentração.
Talvez seja porque tenhamos uma idéia meio “filme da Disney” de que todos viveram felizes para sempre após a libertação. E como houve o reconhecimento do estado de Israel e uma diminuição do anti-semitismo, construímos uma ideia de que o pós guerra foi apenas de alívio para o povo judaico, apesar dos óbvios e imensos traumas.
A escala do sofrimento nesse período pós-libertação é apenas amenizada, mas ainda assim seguem presentes a fome, o frio, o desamparo e a solidão.

Sobre o livro em si, é uma continuação de “É Isso um Homem” na qual Primo Levi descreve e transmite de forma muito competente o sofrimento e o medo de morrer mesmo depois da libertação pelos soviéticos. O relato em primeira pessoa funcionou mais para mim no primeiro livro pois, de forma geral, sabemos as razões de existirem os campos de concentração e um relato pessoal de como era sobreviver ali é fascinante, embora macabro. Embora não seja uma falha do livro, “A Trégua” segue com esse relato mais pessoal e senti falta de saber como foi a libertação de outros campos de concentração e como o tema foi tratado pelos Aliados, que provavelmente estavam focados em seguir com a invasão da Alemanha e conquista de Berlim.
@procura_se_umlivro 19/02/2022minha estante
Realmente! Vou adicionar ele aqui.


Larissa.Moreira 19/02/2022minha estante
Deve ser comovente ler tais relatos, mas ainda não me sinto preparada. É impossível imaginar como deve ter sido o momento de libertação, porém com certeza, um final feliz não caberia em tal situação, não por falta de mérito, de modo algum, mas como viver feliz depois de tudo? Depois de toda dor física, mental, a humilhação, a perda de filhos, esposas, maridos, mães, pais? impossível.




Catiane. Rodrigues 29/07/2023

Triste... Muito triste!
... Na alemanha encontram pão, arame farpado, o trabalho duro, a ordem alemã, a servidão e a vergonha: e sob o peso da vergonha eram agora repatriadas, sem felicidade e sem esperança..
A Trégua o livro do Primo Levi ( sequência do maravilhoso: É isso um homem?) nos conta a volta para o seu país de origem após a Rússia derrota Alemanha, com isso, os campos de Auschwitz foram destruídos e os "prisioneiros" " libertados" porém muitos deles não moravam na Alemanha como era caso do Primo Levi que era da Itália.
Esse viagem durou à cerca de 2 anos, ele nos relatos tudo as dificuldades, o medo e a sensação do que é liberdade.
No final do livro, quando enfim ele chega à Itália e percebido que apesar dele ter "sobrevivo" o holacusto ele sente que aquele fato horroroso irá se carregado para toda sua vida no seguinte trecho: "Estou à mesa com minha família, ou com amigos, ou no trabalho, ou no campo verdejante: um ambiente, afinal, plácido e livre, aparentemente desprovido de tensão e sofrimento; mas, mesmo assim, sinto uma angústia sutil e profunda, a sensação definida de uma ameaça que domina".
Um livro mais que necessário, Primo Levi relata como foram os Campos de Concentrações e todo sofrimento.
Dou ????? .
Catiane. Rodrigues 29/07/2023minha estante
Escrevi palavra errada é Holocausto.




Paula 24/10/2010

É isto mesmo uma trégua?
Apesar de ter o mesmo título, esse livro não tem semelhança nenhuma com A trégua do meu querido Mario Benedetti. Primo Levi foi um judeu italiano que foi preso em Auschwitz, o famoso campo de concentração nazista na época da guerra. A questão é que ele "sobreviveu" ao campo de concentração (e o livro nos faz pensar muito se é realmente possível sobreviver a tanta barbárie) e depois disso, como que para se libertar do sofrimento imenso que essa experiência lhe causou, ou pelo menos tentar, ele escreveu vários livros sobre o assunto.

Comecei por A trégua porque julguei que não seria tão pesado assim, já que ele narra os acontecimentos a partir do dia que a guerra acabou e que ele foi libertado. Um engano. Porque eu ingenuamente pensava que os sobreviventes voltaram para seus lares imediatamente após o término da guerra, e finalmente teriam um pouco de paz, mas não foi isso que ocorreu. Ele só conseguiu retornar para a Itália meses depois e, quando foi libertado, doente tanto fisicamente quanto emocionalmente, sem dinheiro, sem roupas adequadas, sem sapatos, tendo que caminhar no frio (e o frio da Polônia quer dizer neve) e lidar com a burocracia dos "vencedores", pois a dificuldade de voltar para sua terra natal era imensa devido ao rigor nas fronteiras, ao impecilho do idioma e também à natureza humana, entre outras coisas.

Um livro que me deixou sem dormir ontem, e que me levou às lágrimas algumas vezes, mas que considero indispensável. Não só para quem se interessa pela cultura e história da Alemanha (tenho tentado ler mais sobre o assunto para entender um pouco mais sobre o que escrevem os autores alemães, porque eles carregam esse peso e isso se reflete muito na literatura alemã, o que nem sempre a gente compreende), mas para todos nós, para que essas coisas nunca mais se repitam, para que a gente reflita sobre os absurdos da natureza humana.

Agora estou me preparando (e preparando as lágrimas, porque está aí um tema que acaba comigo e que dói demais de ler) para ler "É isto um homem?", livro do mesmo autor que narra todo o período em que o autor esteve preso em Auschwitz. Um dos relatos mais importantes sobre o Holocausto. Recomendo, mas aviso aos corações sensíveis como o meu que se preparem.

"Na subida para a fronteira italiana o trem, mais cansado do que nós, partiu-se em dois, como um fio demasiadamente esticado: muitos ficaram feridos, e essa foi a última aventura. No meio da noite, passamos o Brenner, que tínhamos atravessado para o exílio vinte meses antes: os companheiros menos sofridos, em alegre tumulto; Leonardo e eu, num silêncio transido de memória. De seiscentos e cinquenta, todos os que então partíramos, voltávamos três. E quanto perdêramos naqueles vinte meses? O que encontraríamos em casa? Quanto de nós fora corroído, apagado? Retornávamos mais ricos ou mais pobres, mais fortes ou mais vazios? Não sabíamos; mas sabíamos que nas soleiras de nossas casas, para o bem ou para o mal, nos esperava uma provação, e a antecipávamos com temor. Sentíamos fluir nas veias, junto com o sangue extenuado, veneno de Auschwitz: onde iríamos conseguir forças para voltar a viver, para cortar as sebes, que crescem espontaneamente durante todas as ausências, em torno de toda casa deserta, de toda toca vazia? Logo, amanhã mesmo, devíamos lutar contra inimigos ignorados, dentro e fora de nós mesmos: com que armas, com que energia, com que vontade?" [página 211]
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Jivago 25/04/2022

A volta para casa
Impera no ocidente um imaginário limitado quando a questão é fim do regime nazista e as atrocidades humanitárias cometidas pelos signatários do terceiro reich. Primo Levi escreve "A trégua" para narrar sua angustiante, atormentada, aviltante, desesperadora viagem de volta para casa após a liberação da barbárie dos campos de concentração - narrados de maneira primorosa por ele em "É isto um homem?". Ou melhor, diria que o autor escreve essa sequência para provar que não há horror que não possa ser narrado; é justamente o oposto: a própria natureza das experiências às quais uma parcela significativa de judeus e indivíduos "desviantes" em relação à máquina de morte nazista foram submetidos exige que a história seja contada repetidamente para que se posso expor ao mundo a extensão do seu horror e para que sirva de alerta às gerações futuras.
O retorno, como nunca poderíamos imaginar se não fosse pelo registro de quem viveu, e claro, pelo trabalho dos historiadores, acabou por se configurar como um adiamento da sonhada liberdade. Ao serem libertados dos campos de concentração os prisioneiros passam às mãos da máquina burocrática da então combalida URSS. Primo Levi transitaria, saindo da Polônia e transportado em vagões de trens, pelos confins do leste europeu. Um sentido oposto ao da localização geográfica de sua pátria, a Itália. O autor e seus companheiros de período pós-libertação têm que lidar durante meses com a fome, as doenças, o desalento, mas, sobretudo, com a incerteza e a angústia de um futuro incerto e o intenso desejo de ter sua liberdade finalmente consumada. No percurso, através da ótica do próprio autor, testemunhamos uma Europa e seus filhos arrasados pelas marcas da guerra. Muitos dos personagens que cruzam o caminho de Primo Levi encontram-se em situação análoga: sejam eles órfãos, médicos ou militares, o pós-guerra representou para todos um período de completo desarranjo e demandou esforço incomensurável para que a sonhada normalidade e, no caso de alguns, repatriamento, fossem conquistados.
Mas mesmo com a prolongação das angústias e do sofrimento somos felizmente saudados com o retorno do autor à sua terra. Embora leiamos o livro já sabendo da sobrevivência daquele que narra, é curioso como o final tem um efeito completamente diverso daquele que somos levados a acreditar que encontraríamos, muito por conta da ideia de uma "jornada" que parece que vai se delineando à nossa frente à medida que progredimos na leitura. É o completo oposto, o final do livro talvez seja a grande revelação do abismo criado pelo regime nazista nas almas daqueles que sofreram sobre seu julgo. As marcas dessa experiência na psique desses indivíduos são inimagináveis e duradouras, eternas talvez. Por isso a sensação de que não há um fechamento, um final apropriado, mas sim o início de uma nova jornada, silenciosa, melancólica, mais íntima, a partir daquele momento. Primo Levi coloca muito de sua própria personalidade em sua escrita, em suas rememorações precisas e (correndo o risco de ser contraditório ao me referir à essa catástrofe dessa maneira: poéticas) de paisagens, cenas, pessoas e situações com as quais se deparou durante o período pós-libertação. Sua narrativa é um relato pessoal e assombroso de uma catástrofe superada, mas que perdura no nosso imaginário e moldou a história do mundo. Lê-lo é não somente adentrar sua história em nível pessoal, mas cumprir um dever cívico diante da humanidade e a tomada de consciência desse dever é talvez o feito que se sobressai após a leitura da obra.
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Mari 04/08/2023

Pesado, mas necessário
O livro é uma continuação de ?É isto um homem??, e só não é mais pesado por justamente tratar do período após a libertação dos campos pelos aliados.
A obra foi mais uma das minhas leituras preparatórias pra Marcha da Vida, e eu tive a sorte de ter sido guiada na visita aos campos de concentração por um guia que teve a sensibilidade de trazer relatos de sobreviventes nos lugares a que eles faziam referência - e dentre esses relatos, os de Primo Levi.
A trégua trata muito desse período pós libertação, tão pouco tratado em aulas de História, em que o pós Guerra é retratado como se fosse uma grande festa, como se todos os sobreviventes encontrados tivessem sobrevivido após comer uma barra de chocolate americano, como se de repente, não existissem mais antissemitas, nazistas, xenofóbicos. Primo Levi é extremamente sensível e detalhista em suas descrições, e eu não posso deixar de imaginar como deve ter sido doloroso pra ele relembrar de tudo, escrever sobre tudo, ter uma memória tão boa sobre tantos eventos traumáticos.
Não posso deixar de mencionar a inteligência e perspicácia impressionantes de Levi. O cara, mesmo nas condições mais adversas, conseguia fazer amizades, aprender novos idiomas, manter uma memória dos fatos, sem perder a esperança de que dias melhores estariam por vir, ainda que naquele momento nada disso fosse possível de visualizar.
Mais uma vez, a mensagem de lembrar para não esquecer e para não se repetir. Mais uma vez a mensagem: o que podemos fazer para evitar que sejamos tão indiferentes à dor alheia?
Tirei meia estrelinha só pela comparação com ?É isto um homem??, mas não para desmerecer a obra ou não recomendar a leitura
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Flavio 27/02/2021

Levi, foi um sobrevivente do holocausto judeu durante a II Guerra Mundial. Neste livro testemunho, o autor narra a libertação dos judeus e outros prisioneiros dos campos de extermínio nazistas. Escrito em primeira pessoa, revela que mesmo diante das atrocidades, a capacidade de resiliência e determinação que o indivíduo tem em alcançar a sua liberdade.
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Marcelo 04/04/2021

Após sobreviver ao Lager era necessário voltar para casa. Primo Levi conta o retorno à Itália em uma Europa arrasada pela guerra.
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Greice 15/04/2020

O retorno desordenado para casa: a longa espera
É isto um homem? de Primo Levi.
A trégua, de Primo Levi.

📖"'É isto um homem?" é um libelo contra a morte moral do indivíduo. No livro, o escritor e químico italiano Primo Levi relembra seu sofrimento num campo de extermínio, sem, contudo, invocar qualquer resquício de autopiedade ou vingança. Deportado para Auschwitz em 1944, entre outros 650 judeus italianos, Levi foi um dos poucos que sobreviveram, retornando à Itália em 1945. (Resumo da Editora)
📖 "A trégua" narra a longa e incrível viagem de volta para casa depois da libertação de Auschwitz e do fim da guerra. Numa Europa semidestruída, o autor e vários companheiros de estrada viajam sem destino pelo Leste até a URSS, premidos entre as ruínas da maior de todas as guerras e o absurdo da burocracia dos vencedores. (Resumo da Editora)

💔 Esta é uma resenha conjunta de dois livros da trilogia de Auschwitz, escrita por Primo Levi . “Os afogados e os sobreviventes”, que ainda não li, completa a trilogia. Li “É isto um homem?” há alguns anos e me marcou profundamente. Então, este ano, fiz uma releitura e li pela primeira vez “A trégua”. Essas duas obras biográficas recontam a trajetória de Primo Levi, desde seu envio para o campo de concentração de Auschwitz até seu retorno para casa. Por se tratar de um período um tanto sombrio da história da humanidade, alguns podem pensar que há muito ressentimento e tristeza em suas páginas, mas, na verdade, Primo Levi escreve de uma maneira direta, sem arroubos sentimentais ou busca de sentido. “O que aconteceu e como aconteceu?” Essa é a pergunta a que Primo Levi responde, sem, no entanto, deixar de evidenciar a busca em manter a própria humanidade, tarefa que vai se tornando cada vez mais difícil. Essa é uma história de perseverança, resiliência, adaptabilidade e engenhosidade humana e de como a sorte definiu a vida e a morte de milhões de pessoas. Por que alguns sobreviveram e outros não? Espero que todos possam conhecer esses livros. Leitura fundamental.

🏆 Favorito!

site: instagram.com/greiciellenrm
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Carol 28/08/2022

Sendo a continuação de "É isto um homem?", "A Trégua" vem para desmontar a mistificação que no pós-guerra e após a libertação das pessoas de Auschwitz, tudo se resolveu da noite para o dia e todos voltaram felizes para suas casas. Esse livro mostra uma Europa arrasada, com diversos povos de diferentes origens e línguas lutando pela sobrevivência e centenas de milhares de pessoas tentando o retorno após o sofrimento, tendo que arrumar diversas maneiras de conseguirem se manterem vivas e sãs após tudo o que passaram (isso se é possível alguém sair de algo tão terrível com sanidade ainda).
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otxjunior 01/01/2015

A Trégua, Primo Levi
A Trégua compreende o período de 27 de Janeiro de 1945 a 19 de Outubro do mesmo ano. A primeira data marca o fim da Segunda Guerra Mundial, quando tropas soviéticas libertam os judeus e prisioneiros de guerra dos campos de concentração nazistas. Primo Levi, sobrevivente de Auschwitz, narra sua jornada a partir daí até o dia da chegada em sua cidade natal, Turim.
Apáticos e desesperançosos, Levi e seus companheiros cruzam uma Europa caótica, enquanto aprendem a lidar com a liberdade recém-adquirida. As condições dos transportes são precárias e as acomodações improvisadas. A cada parada temos cidades em processo de reestruturação, principalmente através do comércio, em que objetos outrora de pouco valor são moedas de troca essenciais à sobrevivência.
Vale notar a presença de tutores para o então jovem narrador ao longo do percurso. Figuras que auxiliam Levi em sua readaptação. O Grego e César se destacam pelas lições de humanidade e por serem protagonistas das anedotas rememoradas pelo autor, muitas delas cômicas.
O retorno à casa, embora emocionante e libertador, não elimina as marcas profundas de sua experiência. Fiquei com a impressão de que o exercício de escrever e expor todo esse horror e dor é uma tentativa de expurgá-las.
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Vicente 16/05/2020

Forte
Segundo livro da trilogia de Primo Levi sobre auschwitz. O autor conta com detalhes suas experiências como prisioneiro em um campo de concentração nazista. Livro forte e inesquecível.
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AnaCris 31/12/2020

Sensível, transformador e muito humano
Verdadeira obra-prima, o livro conta a longa volta para casa do químico e escritor judeu-italiano Primo Levi, após a libertação de Auschwitz. Apesar de o holocausto ser um tema frequente na literatura, o que aconteceu com os sobreviventes (que não tinham mais casa nem alguém para quem voltar) é pouco visitado. Só por isso, o valor da obra é imenso. Mas, vai muito além. A pena de Primo Levi é de uma simplicidade e acurácia que poucas vezes li. Como ser tão profundo com tanta concisão, como encontrar poesia e beleza nos tropeços na torpeza humana ao longo do caminho, como sobreviver à dor que parece não ter fim fazendo alianças improváveis e negociações impossíveis... Um livro transformador. Imperdível.
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Tórtoro 15/10/2012

LEVANTEM : “WSTAVACH”

“...eu sentia o número tatuado no braço queimando como uma chaga”.

Primo Levi
Nos últimos tempos tenho sentido uma angústia sutil e profunda, a sensação definida de uma ameaça que domina, a mesma sensação que tomou conta de Primo Levi ao voltar de Auschwitz.
E nesses momentos alguns livros me fazem mal, mas não consigo deixar de ler.
A trégua é um deles: Companhia das Letras, 215 páginas.
A partir da experiência de prisioneiro e sobrevivente do campo de extermínio (Lager) de Auschwitz, Primo Levi inscreveu seu nome entre os maiores escritores do século XX. Sua prosa literária tem a força expressiva das narrativas em que a voz da testemunha alia-se ao trabalho da memória e da recriação da vida nos limites máximos da dor e da destruição.
Nesse romance autobiográfico, Levi (Turim, 1919-87) narra a longa e incrível viagem da liberação de Auschwitz. Numa Europa semidestruída, o autor e vários companheiros de estrada viajam sem destino pelo Leste até a União Soviética, premidos entre as ruínas da maior de todas as guerras e o absurdo da burocracia dos vencedores.
Ainda em território soviético, 15 de setembro de 1945, terminada a Segunda Guerra Mundial, finda uma trégua — vinte meses transcorridos, embora duros, de vagabundagem às margens da civilização, pareciam agora uma trégua, um parêntese de ilimitada disponibilidade, um dom providencial, embora irrepetível, do destino — Levi fala do sentimento que o envolveu no momento da partida para a Itália: “Quando a partida ficou acertada, percebemos, para nossa surpresa, que aquela terra sem fim (Stáryie Doróghi) , aqueles campos e bosques, onde se desenrolara a guerra, aos quais devíamos a própria salvação, aqueles horizontes intactos e primordiais, aquela gente vigorosa e amante da vida, pertenciam ao nosso coração, penetraram em nós e permaneceram longamente imagens gloriosas e vivas de uma estação única em nossa existência . Na longa noite de vigília, ouviam-se cantos tênues e modulados dos pastores. Um cantava, o segundo respondia, a quilômetros de distância, depois outro, e mais outro, de todos os pontos do horizonte, e era como se a própria Terra cantasse”.
E essa ambigüidade de sentimentos, ao final de terríveis sofrimentos levam o autor— “sentado à mesa com a família, ou com amigos, ou no trabalho, ou no campo verdejante, num ambiente, afinal, plácido e livre, aparentemente desprovido de tensão e sofrimento”— à amarga e inesperada conclusão : “ Tudo agora tornou-se caos: estou só no centro de um nada turvo e cinzento. E, de repente, sei o que isso significa, e sei também que sempre soube disso: estou de novo no Lager, e nada era verdadeiro fora do Lager. De resto, eram férias breves, o engano dos sentidos, um sonho: a família, a natureza em flor, a casa. Agora esse sonho interno, o sonho de paz, terminou, e no sonho externo, que prossegue gélido, ouço ressoar uma voz, bastante conhecida; uma única palavra, não imperiosas, aliás breve e obediente. É o comando do amanhecer em Auschwitz, uma palavra estrangeira, temida e esperada: levantem, “Wstavach”.
Auschwitz é aqui, onde a realidade queima como uma chaga.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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Rapudo 11/01/2015

Peripécias de judeus italianos entre russos e alemães
Emprestado pelo Dóris, leitura agradável, chamou minha atenção pelo vocabulário interessante. Méritos do Autor e do tradutor, certamente.
Concentra-se mais na epopéia que foi a volta de um grupo de 1.400 italianos que partiram de Auschwitz e foram conduzidos em diversas etapas pelos exército russo por um louco tour pela Europa até chegarem finalmente à sua pátria Natal.
Diversas anedotas saborosas, e, grande virtude do Autor, conta-nos as maiores misérias experimentadas por si e por personagens com os quais encontra, com uma quase leveza, que naturaliza as condições mais degradantes. Ou seja, apesar de tudo, não escreve para reclamar das situações vividas, mas extrai de forma bastante humana e comedidamente sensível a diversidade de situações de adaptação que o homem é capaz de construir.
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ale 28/08/2016

Livro da vida
Nao é só um relato sobre a segunda guerra mundial, é um livro de uma sensibilidade incrível, o relato das outaas pessoas com quem Levi viveu aqueles momentos de dor e superação, são extremamente tocantes. Mas não é só um livro de tristeza, também tem momentos de riso, de surpresa, de humanidade. Amei, é um dos livros da vida....
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