O Seminário, livro 20

O Seminário, livro 20 Jacques Lacan




Resenhas - O Seminário, livro 20


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isabellebessaa 28/12/2021

Nunca pensei que fosse dizer isso de algo que Lacan escreveu, mas eu amei esse seminário kkkkkk.

Aqui Lacan vai se delinear acerca do gozo, da paixão, da posição feminina, do gozo místico... Muito muito bom.

Li em grupo então facilitou bastante pra compreender algumas coisas e dificultou na compreensão de outras justamente por não ser no seu tempo mas no tempo do grupo. Ganhos e perdas. Mas valeu super a pena.

Recomendo ler o livro de Ana Suy antes pra facilitar o entendimento.
taís albuquerque 09/06/2022minha estante
qual livro da ana suy?


isabellebessaa 10/06/2022minha estante
Amor, desejo e psicanálise




Cesinha 26/05/2022

O Seminário 20 é uma espécie de ponto de chegada de um percurso iniciado no Sem. 16. Indo do mais-de-gozar (ou mais-gozar) e chegando nas fórmulas da sexuação. Como tudo em Lacan, não se trata de uma leitura, mas sim de um projeto de pesquisa. Abaixo alguns excertos. A tradução de M.D. Magno talvez tenha sido a primeira a ser publicada (a tradução de Betty Milan do Sem. 1 foi mais antiga, pois ela conta que inclusive mostrava para o próprio autor seus achados, no livro autobiográfica "Lacan, ainda", mas acredito que foi editada de fato só depois). E como pioneira, é bem mais atrapalhada, pois o tradutor chegou quando tudo era mato.

Sobre o gozo:

"O que é o gozo? Aqui ele se reduz a ser apenas uma instância negativa. O gozo é aquilo que não serve para nada.

Aí eu aponto a reserva que implica o campo do direito-ao-gozo. O direito não é o dever. Nada força ninguém a gozar, senão o superego. O superego é o imperativo do gozo - Goza!" (pg. 11)

"Não é isso quer dizer que, no desejo de todo pedido, não há senão a requerência do objeto a, do objeto que viria satisfazer o gozo" (pg. 134)

A experiência analítica não é decifração de sentido nem esvaziar do inconsciente como se fosse um balde com tranqueiras:

"A análise veio nos anunciar que há saber que não se sabe, um saber que se baseia no significante como tal. Um sonho, isso não introduz a nenhuma experiência insondável, a nenhuma mística, isso se lê do que dele se diz, e que se poderá ir mais longe ao tomar seus equívocos no sentido mais anagramático do termo. É neste ponto da linguagem que um Saussure se colocava a questão de saber se nos versos saturninos, onde ele encontrava as mais estranhas pontuações de escrita, isto era intencional ou não. É aí que Saussure espera por Freud. E é aí que se renova a questão do saber." (pg. 102)


Por quê se dar ao trabalho de formalizar? E com algo tão difícil como é a topologia?
"A formalização matemática é nosso fim, nosso ideal. Por que? Porque só ela é materna, quer dizer, capaz de transmitir integralmente. A formalização matemática, é a escrita, mas que só subsiste se eu emprego, para apresentá-la, a língua que uso. Aí é que está a objeção - nenhuma formalização da língua é transmissível sem uso da própria língua. É por meu dizer que essa formalização, ideal metalinguagem, eu a faço ex-sistir. É assim que o simbólico não se confunde, longe disso, com o ser, mas ele subsiste como ex-sistência do dizer. É o que sublinhei, no texto dito l'Étourdit, o Aturdito, ao dizer que o simbólico só suporta a ex-sistência" (pg. 139)

Ainda sobre a topologia do nó borromeano:
"Por que foi que fiz intervir; em tempo antigo, o nó borromeano? Era para traduzir a fórmula eu te peço - o quê? - que recuses - o quê? - o que te ofereço - por quê? - porque não é isso - isso, vocês sabem o que é, é o objeto a. O objeto a não é nenhum ser. O objeto a é aquilo que supõe de vazio um pedido, o qual, só situando-o pela metonímia, quer dizer, pela pura continuidade garantida do começo ao fim da frase, podemos imaginar o que pode ser de um desejo que nenhum ser suporta. Um desejo sem outra substância que não a que se garante pelos próprios nós" (pg. 134)
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Jess.Carmo 26/06/2022

Ética, gozo e fórmulas da sexuação.
Lacan não queria publicar o seminário sobre a ética da psicanálise. Para tratar da ética da psicanálise, Lacan parte da "Ética a Nicômaco" de Aristóteles. Ele diz que não só deseja reescrever o seminário como precisa reescrevê-lo.

Ele também usa Aristóteles para corrigir o Além do princípio do prazer freudiano. Para ele, o além do princípio do prazer é aquilo que se satisfaz com o blá-blá-blá, ou seja, com a linguagem; nada tem a ver com nosso corpo orgânico.

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Lacan define o gozo como uma instância negativa, como aquilo que não serve para nada. "Gozar tem esta propriedade fundamental de ser em suma o corpo de um que goza de uma parte do corpo do Outro" (p. 30). Lacan insiste na ambiguidade significante que há na asserção do "gozar do corpo", já que ele comporta um genitivo que abre espaço para o entendimento que o Outro que goza. A exigência do Um, de onde está o ser, sai do Outro. Ou seja, o Um sempre supõe que o significante pode ser coletivizado

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A topologia lacaniana marca uma ruptura com a filosofia, já que ela não recorre à nenhuma substância, ou seja, não se refere a nenhum ser. O que podemos apreender com ela é que nenhum predicado basta para dizer o que é o ser sexuado. É daí que Lacan vai desenvolver o conceito de gozo. O ser sexuado só está interessado no gozo, o que faz com que se imponha essa impossibilidade lógica de dizer os contornos do seu ser. Lacan diz que ele fala de essência assim como Aristóteles, o que significaria que a essência é sempre rateável, ou seja, sempre falha.

Ao contrário da definição corrente no campo analítico de que o gozo teria algo a ver com o corpo orgânico, Lacan é bastante repetitivo e insistente em dizer que o gozo "se baseia na linguagem" (p. 57).

Quanto aos quatro discursos, Lacan deixa bem claro que não está em questão sua emergência histórica. Ele chega a dizer que detesta a história, porque, para ele, ela não tem sentido. Só podemos apreender o sentido como um efeito de significante. O que está em questão é a "emergência do discurso analítico a cada travessia de um discurso a outro" (p. 23). Isso se pelo amor, que é o signo de que se troca de razão, quer dizer, que mudamos de discurso. Segundo Lacan, o discurso deve sempre ser tomado "como liame social, fundado sobre a linguagem" (p. 24).

Lacan também retoma o problema do referente e do semblante nesse seminário. A linguagem sempre produz um efeito de significado, ou seja, ela sempre nos impõe o ser. Entretanto, o psicanalista francês vai ser categórico que a linguagem é lateral em relação ao referente. Há sempre um efeito de deslocamento em relação a esse referente, de tal forma que ele nunca se completa.

Encontramos também algumas definições sobre o significante. Segundo ele, o significante é aquilo que tem efeito de significado. Lacan justifica que ênfase que ele dá ao significante é porque ele "é o fundamento da dimensão do simbólico" (p. 27). Também encontramos inúmeras vezes a formulação de que o significante se caracteriza por representar um sujeito para outro significante.

É pelo significante ter um efeito de significado que o "discurso analítico visa ao sentido" (p. 85), mas trata o sentido como aparência, como semblante. O sentido sempre "indica a direção na qual ele fracassa" (p. 85).

Quanto à discussão acerca das fórmulas da sexuação, essa primeira leitura não foi muito clara para mim. Entendo que se trata de uma tentativa de colocar em termos lógicos os lugares do seres falantes, mas a discussão me pareceu bastante confusa em muitos momentos, o que deixa brecha para uma série de interpretações problemáticas da teoria lacaniana.

A mulher, que não é a dama do senso comum, é o lugar do quadro da sexuação que não permite nenhuma universalidade, ou seja, ela é o não-todo. Por não ser universalizável, nada se pode dizer da mulher. Em alguns momentos, Lacan aproxima o lugar da mulher a um lugar místico.

O discurso analítico "se sustenta pelo enunciado de que não há, de que é impossível colocar-se a relação sexual" (p.16). Estamos aí em um impasse também no dizer o que é o homem e o que é a mulher. É uma relação que não para de não se escrever, ou seja, um impasse da formalização da definição do que é a mulher.

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Outra formulação recorrente no seminário é a noção de que a realidade é a fantasia em que o sujeito é preso, "é, como tal, o suporte do que se chama expressamente, na teoria freudiana, o princípio de realidade" (p. 86). Encontramos aqui o porquê de Lacan ser tão incisivo em querer diferenciar o Real - como impasse da formalização - da realidade - como fantasia. A realidade tem uma formulação totalmente diversa na teoria lacaniana.


site: https://www.instagram.com/carmojess/
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