Macunaíma

Macunaíma Mário de Andrade
Angelo Abu




Resenhas - Macunaíma


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Gica Brombini 24/02/2023

O CONCEITO de uma nação sem caráter & A VANGUARDA CRÍTICA dentro de Macunaíma.
Devo começar admitindo que li esta obra, única e exclusivamente, pela universidade.
Sou estudante de Letras Vernáculas, e mesmo que tenha negligenciado um contato anterior com Macunaíma, eu sabia que agora não poderia fazer o mesmo descaso - afinal, meus estudos acadêmicos irão influenciar diretamente meu papel profissional na docência. É imprescindível o fato de que esta história é um grande marco da literatura brasileira e que, justamente por isso, é considerada um clássico.
Seguindo a partir disso, explicarei brevemente sobre a minha avaliação e experiência pessoal com o livro, a qual é, em muitas partes, desvinculada da minha relação de estudo e pesquisa da obra de Mário de Andrade.
Minha experiência de leitura foi puramente chata e enfadonha. Esta não é, de forma alguma, uma narrativa fácil de ser lida, e a escrita também a torna desafiadora. A personagem principal, Macunaíma, "o herói sem nenhum caráter", é exatamente isso: um humano com atitudes extremamente repreensíveis e desgostosas. Não há nada que me agrade nas falas, ações ou escolhas do personagem. É claro que, em um panorama geral sobre gostos literários, isto é completamente compreensível. Não nos apegamos e nem nos importamos muito com o que o herói irá viver. As aventuras, por assim dizer, são confusas, "sem pé nem cabeça", e não apresentam um propósito direto para a formação de Macunaíma - até porque, sua essência já está moldada; não há caráter, muito menos mudanças/transformações, apenas persistência no que já é intrínseco nele: a falta de uma moral pessoal e a malandragem do "jeitinho brasileiro".
Porém, entrando nos aspectos de análise literária e da relevância desta obra, tanto para o contexto de sua criação, quanto para o reflexo e a marca que viria a ser na história da literatura brasileira, Macunaíma é um CLÁSSICO. Macunaíma não é fácil de ser compreendido. É uma história recheada de metáforas e analogias indiretas sobre a formação da nacionalidade, da cultura, da arte e da política brasileira.
Em seu contexto de produção, temos artistas de "Vanguarda", os quais buscavam uma identidade nacional desvinculada dos modelos clássicos europeus e ocidentais, e que tentavam recuperar e representar através das mais diversas formas de arte, a originalidade do nosso país. É claro que, essas inovações artísticas vieram diretamente vinculadas a movimentos de crítica sobre muitos aspectos e camadas da sociedade do século XX no Brasil.
Gostaria de frisar aqui que, esta explicação é muito simplifica e nada aprofunda; estou dando aqui apenas um panorama geral do que ocorria no momento histórico em que Macunaíma foi escrito.
Retomando... Justamente pelos motivos citados acima, é evidente que o livro de Mário de Andrade não foi escrito para um público leitor burguês, e seu romance não pretendia fazer parte da massa do mercado. Macunaíma é um protesto. Toda a história é puramente um movimento, um conceito artístico a ser explorado e escancarado, estando assim, muito longe da função "entretenimento" ou “agrado”.
Esta é uma obra crítica, extremamente elaborada e consciente sobre o que quer relatar. A escrita, a linguagem, a narrativa e o enredo seguem diretamente um propósito de manifestação - e nesse sentido, a cada análise e contato com textos teóricos que exploram minuciosamente a complexidade dessa história, só podemos chegar a uma conclusão: Mário de Andrade foi genial e "cirúrgico" com essa criação, o que tornou Macunaíma um retrato fiel sobre as naturezas contraditórias e sobre a formação miscigenada do povo e do caráter brasileiro (em todos os âmbitos possíveis).
Portanto, a minha nota aqui no Skoob é uma mescla da minha experiência pessoal, que foi longe de ser agradável e prazerosa em entretenimento, junto com a minha inegável admiração por todas as nuances que constituem a criação de Macunaíma.
QUEIJO460 18/08/2023minha estante
Boa resenha.




Laninha 18/07/2022

Leitura obrigatória
Li na época do ensino médio, como leitura obrigatória. Na época não entendi e gostei.
Li agora, novamente como leitura obrigatória de um curso que estou fazendo. E mais uma vez não entendi e não gostei.
Marília 12/08/2022minha estante
Não entendi e não gostei esse é um belo resumo ara o livro rs




Newton Nitro 12/01/2015

A Pura Brincadeira de Mário de Andrade!
No meio da leitura dos livros de contos do Rubem Fonseca Amálgama (2013), Feliz Ano Novo (1975), O Buraco na Parede (1995), O Cobrador (1979) e Pequenas Criaturas (2002), dos quais vou fazer uma resenha inteira usando a experiência de ler em sequência, deu uma paradinha para aproveitar que a minha esposa escritora resolveu ler Macunaíma, para ler uma das obras primas do Modernismo Brasileiro, a saga do herói sem caráter de Mário de Andrade. Ter um parceiro de leitura, uma pessoa que lê o mesmo livro que você está lendo, é muito legal, dá para comentar a experiência durante a leitura, com os dois coabitando o mesmo espaço imaginário. E não tem espaço imaginário mais brasileiro do que o de Macunaíma!

Macunaíma foi escrito em 1928, pelo monstro intelectual Mário de Andrade, infelizmente mais citado do que lido atualmente. É considerado um dos mais importantes exemplares do Modernismo brasileiro e reflete essa tentativa de se criar uma cultura brasileira, antropofágica, de criação livre, de ruptura estética com o passado, e no caso de Macunaíma, isso se traduziu em uma espécie de indianismo moderno.

O resultado é um purê brasileiro, como se Andrade tivesse jogado em um liquidificador de criação poética as lendas e mitologia indígenas, a espiritualidade e cultura afro-brasileira, o desenvolvimento urbano esquizofrênico de São Paulo e Rio, que já eram modelos de urbanização descontrolada na época, a espiritualidade católica, a herança portuguesa, a mineiridade e a vida dos sertões, a miscigenação e hedonismo presente na nossa mistura de raças, os aforismos, os ditados populares, a volúpia, sensualidade, a sacanagem e tudo o mais que compunha o cenário brasileiro da colonização até os anos vinte.

Essa colagem de inspirações de milhares de fontes é feita, em Macunaíma, dentro de uma visão poética. Nas outras resenhas do livro que li, muitos resenhistas reclamam do texto, de ser muito obscuro, de difícil leitura, mas, ao meu ver, Macunaíma deve ser lido e abordado como poesia, e não como prosa. O mais interessante é a confissão de Mário de Andrade nos prefácios publicados na edição da editora Nova Fronteira (de 2013) http://www.amazon.com.br/Macuna%C3%ADma-Mario-Andrade/dp/8520933610/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1421088172&sr=1-1&keywords=macuna%C3%ADma . Ele compara a sua obra aos repentes dos cantadores do nordeste, que incorporam em suas cantigas lendas, histórias, mitos, causos, alterando e fantasiando para incorporar nas canções.

E Macunaíma, encarado como poesia, mostra toda sua força quando lido em voz alta. É fantástico! O texto de Andrade segue a tradição oral, são causos e mais causos contados em diversos registros, seja com linguagem popular, linguagem simulando a indígena, registros emulando textos de intelectuais brasileiros e portugueses, registros emulando a linguagem urbana, etc. Ele segue a lógica dos contos de fada, de histórias contadas por uma criança, a lógica da narrativa mitológica, a lógica dos sonhos, e exige uma leitura diferente, relaxada, gostosa, curtida. Não andianta interligar tudo em uma relação de causa e efeito, em algum tipo de racionalidade. Cada capítulo, cada parágrafo, cada frase são como versos, feitos para criar alusões, sensações, para rir, para chorar, para divertir, para fazer sonhar. E refletir.

Notei também o alto grau de compressão poética, ou seja, cada frase, cada parágrafo, capítulo, estão repletos de alusões, símbolos, jogos poéticos com as palavras, ressonância de temas, seguindo uma sequência narrativa mais próxima às canções, a dos causos, e até dos hinos religiosos, como Andrade esclarece em seu prefácio) do que a prosa tradicional em si.

O livro é repleto de jogos de linguagem. Por exemplo a frase característica da personagem é "Ai, que preguiça!". Como na língua indígena o som "aique" significa "preguiça", Macunaíma seria duplamente preguiçoso.

E é ser divertidíssimo, cheio de rimas que me levaram de volta à infância “Zé Prequeté, tira bicho do pé pra comer com café!”, passagens muito engraçadas, considero Macunaíma algo como um Ulysses brasuca, ou em termos nerds, o nosso Silmarilion (uai, tem até uma saga envolvendo a pedra “muiraquitã” a versão tupiniquim das silmarils!).


Recomendo a leitura, nem que lenda, capítulo por capítulo, como poesia, lendo em voz alta, sentindo os ritmos das frases, as alusões, o colorido das descrições, a criatividade da ortografia (cuspe é guspe, por exemplo). E além de tudo, Macunaíma expande o vocabulário de qualquer leitor, e inspira a criatividade de qualquer escritor. É, além de tudo, um manifesto a favor da liberdade de expressão literária e de criação poética. Mário de Andrade grita, a cada frase, “seja livre! Seja livre para criar o que quiser!”. :)

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BONUS STAGE DA RESENHA - PALÁVRAS DO MÁRIO MACUNAÍMA DE ANDRADE!

Esses são alguns textos escritos pelo Mário e que explodiram a minha cabeça e expandiram a minha leitura do Macunaíma!

2º PREFÁCIO - MÁRIO DE ANDRADE SOBRE MACUNAÍMA

27 de Março de 1928 - Prefácio da Segunda Edição do Romance

Este livro de pura brincadeira escrito na primeira redação em seis dias ininterruptos de rede, cigarros e cigarras na chacra de Pio Lourenço perto do ninho da luz que é Araraquara, afinal resolvi dar sem mais preocupação. Já estava me enquizilando... Jamais não tive tanto como diante dele a impossibilidade de ajuizar dos valores possíveis duma obra minha.

Não sei ter humildades falsas não e se publico um livro é porque acredito no valor dele. O que reconheço é que muitas vezes publico uma coisa ruim em si, por outros valores que podem resultar dela. É o caso por exemplo do poder de ensaios de língua brasileira, tão díspares entre si, tão péssimos alguns. Não me amolo que sejam péssimos e mesmo que minha obra toda tenha a transitoriedade precária da minha vida. O que me interessa mesmo é dar pra mim o destino que as minhas possibilidades me davam. E que tenho sido útil: as preocupações, as tentativas, as amizades e até as repulsas (dinâmicas?) que tenho despertado provam bem. Principalmente disso vem o orgulho tamanho que possuo e me impede completamente qualquer manifestação de vaidade. Eu não me contentei em desejar a felicidade, me fiz feliz.

Ora este livro que não passou dum jeito pensativo e gozado de descansar umas férias, relumeante de pesquisas e intenções, muitas das quais só se tornavam conscientes no nascer da escrita, me parece que vale um bocado como sintoma de cultura nacional.

Me parece que os melhores elementos duma cultura nacional aparecem nele. Possui psicologia própria e maneira de expressão própria. Possui uma filosofia aplicada entre otimismo ao excesso e pessimismo ao excesso dum país bem onde o praceano considera a Providência como sendo brasileira e o homem da terra pita o conceito da pachorra mais que fumo. Possui aceitação sem timidez nem vanglória da entidade nacional e a concebe tão permanente e unida que o país aparece desgeograficado no clima na flora na fauna no homem, na lenda, na tradição histórica até quanto isso possa divertir ou concluir um dado sem repugnar pelo absurdo.

Falar em “pagos” e “querências” em relação às terras do Uraricoera é bom. Além disso possui colaboração estrangeira e aproveitamento dos outros, complacente, sem temor, e sobretudo sem o exclusivismo de todo ser bem nascido pras idéias comunistas. O próprio herói do livro que tirei do alemão de Koch-Grünberg, nem se pode falar que é do Brasil. É tão ou mais venezuelano como da gente e desconhece a estupidez dos limites pra parar na “terra dos ingleses” como ele chama a Guiana Inglesa. Essa circunstância do herói do livro não ser absolutamente brasileiro me agrada como o quê. Me alarga o peito bem, coisa que antigamente os homens expressavam pelo “me enche os olhos de lágrimas”.

Agora: não quero que imaginem que pretendi fazer deste livro uma expressão de cultura nacional brasileira. Deus me livre. É agora, depois dele feito, que me parece descobrir nele um sintoma de cultura nossa. Lenda, história, tradição, psicologia, ciência, objetividade nacional, coopeeração acomodada de elementos estrangeiros passam aí. Por isso que malicio nele o fenômeno complexo que o torna sintomático.

Quanto às intenções que bordaram o esquerzo, tive intenções por demais. Só não quero é que tomem Macunaíma e outros personagens como símbolos. É certo que não tive intenção de sintetizar o brasileiro em Macunaíma nem o estrangeiro no gigante Piaimã. Apesar de todas as referências figuradas que a gente possa perceber entre Macunaíma e o homem brasileiro, Venceslau Pietro Pietra e o homem estrangeiro, tem duas omissões voluntárias que tiram por completo o conceito simbólico dos dois: a simbologia é episódica, aparece por intermitência quando calha pra tirar efeito cômico e não tem antítese. Venceslau Pietro Pietra e Macunaíma nem são antagônicos, nem se completam e muito menos a luta entre os dois tem qualquer valor sociológico.

Se Macunaíma consegue retomar a muiraquitã é porque eu carecia de fazer ele morrer no Norte. E é impossível de se ver na morte do gigante qualquer aparência de simbologia. As próprias alusões, sem continuidade ao elemento estrangeiro que o gigante faz nascer, concorrem pra minha observação do sintoma cultural do livro: é uma complacência gozada, uma acomodação aceita tão conscientemente que a própria mulher dele é uma caapora e a filha vira estrela.

Me repugnaria bem que se enxergasse em Macunaíma a intenção minha dele ser o herói nacional. É o herói desta brincadeira, isso sim, e os valores nacionais que o animam são apenas o jeito dele possuir o “Sein” de Keyserling a significação imprescindível a meu ver, que desperta empatia. Uma significação não precisa de ser total pra ser profunda. E é por meio de “Sein” (ver o prefácio do tradutor em Le Monde qui Naît) que a arte pode ser aceita dentro da vida. Ele é que fez da arte e da vida um sistema de vasos comunicantes, equilibrando o líquido que agora não turtuveio em chamar de lágrima.

Outro problema do livro que careço explicar é da imoralidade. Palavra que seria falso concluir pela imoralidade e pela porcariada mesmo que está aqui dentro, que me comprazo com isso. Quando muito admito que concluam que me comprazo... com o brasileiro.

Uma coisa fácil de constatar é a constância da porcaria e da imoralidade nas lendas de primitivos em geral e nos livros religiosos. Não só aceitei mas acentuei isso. Não vou me desculpar falando que as flores do mal dão horror do mal não. Até que despertam muito a curiosidade... Minha intenção aí foi verificar uma constância brasileira que não sou o primeiro a verificar, debicá-la numa caçoada complacente que a satiriza sem tomar um pitium moralizante. Macunaíma afinal afrouxou e num esforço... de herói, se acaba ver peixe, pela... boca. Mas me repugnava servir de mendoim pra piazotes e velhotes. Empreguei todos os calmantes possíveis: a perífrase, as palavras indígenas, o cômico, e um estilo poético inspirado diretamente dos livros religiosos. Creio que assim pude restabelecer a paz entre os homens de boa vontade.

E resta a circunstância da falta de caráter do herói. Falta de caráter no duplo sentido de indivíduo sem caráter moral e sem característico. Está certo. Sem esse pessimismo eu não seria amigo sincero dos meus patrícios. É a sátira dura do livro. Heroísmo de arroubo é fácil de ter. Porém o galho mais alto dum pau gigante que eu saiba não é lugar propício pra gente dormir sossegado.

Como se vê não é o preconceito contra a moral nem vergonha de parecer moralista na roda inda decadente que me leva a certas complacências.

Nas épocas de transição social como a de agora é duro o compromisso com o que tem de vir e quase ninguém não sabe. Eu não sei. Não desejo a volta do passado e por isso já não posso tirar dele uma fábula normativa. Por outro lado o jeito de Jeremias me parece ineficiente. O presente é uma neblina vasta. Hesitar é sinal de fraqueza, eu sei. Mas comigo não se trata de hesitação. Se trata duma verdadeira impossibilidade, a pior de todas, a de nem saber o nome das incógnitas. Dirão que a culpa é minha, que não arregimentei o espírito na cultura legítima. Está certo. Mas isso dizem os pesados de Maritain, dizem os que espigaram de Spengler, os que pensam por Wells ou por Lenine e viva Einstein!

Mas resta pros decididos como eu que a neblina da época está matando o consolo maternal dos museus. Entre a certeza decidida que eletrocuta e a fé franca que se recusa a julgar, nasci pra esta. Ou o tempo nasceu por mim... Pode ser que os outros sejam mais nobres. Mais calmos certamente que não. Mas não tenho medo de ser mais trágico.

Escrito por Mário de Andrade, para a 2ª edição de Macunaíma, em
27 de Março de 1928

SOBRE AS ALEGORIAS E SÍMBOLOS EM MACUNAÍMA

Essa é de um texto do Mário (escrito aqui em Belzonte!) em 1943, sobre a alegoria da criação ou do fracasso da criação de uma civilização tropical. Posto aqui o trecho publicado no livro.

NOTAS DIÁRIAS
Especial para Mensagem

[...]
...a observação de Sérgio Milliet me obrigou a esta releitura dos três capítulos finais de Macunaíma...

Francamente às vezes até me chateia, mais freqüentemente me assusta, a versidade de intençõezinhas, de subentendidos, de alusões, de símbolos que dispersei no livro. Talvez eu devesse escrever no livro, pelo menos ensaio, Ao lado de Macunaíma, comentando tudo o que botei nele. Até sem querer!

De uma das alegorias não me lembrava, porém a leitura de hoje fez ela me ressaltar bem viva na lembrança. Talvez a recordação chegasse tão viva agora porque, tendo imaginado retomar a composição do meu romance Café, o problema de formarmos, de querermos formar uma cultura e civilização de base cristã-européia, que seria por assim dizer a tese do romance, esteja me preocupando muito.

Já me esquecera da alegoria que pusera sobre isso no Macunaíma... Mas agora tudo se relembrou em mim vividamente, ao ler a frase: “Era malvadeza da vingarenta (a velha Vei, a Sol) só por causa do herói não ter se amulherado com uma das filhas da luz”, isto é, as grandes civilizações tropicais, China, Índia, Peru, México, Egito, filhas do calor.

A alegoria está desenvolvida no capítulo intitulado Vei, a Sol. Macunaíma aceita se casar com uma das filhas solares, mas nem bem a futura sogra se afasta, não se amola mais com a promessa, e sai à procura de mulher. E se amulhera com uma portuguesa, o Portugal que nos herdou os princípios cristãos-europeus. E por isso, aqui no acabar do livro, no capítulo final, Vei se vinga do herói e o quer matar. Ela é que faz aparecer a Uiara que destroça Macunaíma. Foi vingança da região quente solar. Macunaíma não se realiza, não consegue adquirir um caráter. E vai pro céu, viver o “brilho inútil das estrelas”.

...pra completar a nota acima: um dos elementos sorridentemente amargos da alegoria é o custo, a hesitação de Macunaíma, quando deseja se jogar nos braços da Uiara enganosa, com que Vei, a Sol, o pretende matar. Estou me referindo à imagem da água estar fria, forçadamente fria naquele clima do Uraricoera e naquela hora alta do dia.

A água destrança as suas ondinhas de “ouro e prata” (alusão à cantiga-de-roda ibérica da Senhora dona Sancha) e aparece a uiara falsa. Macunaíma sente um desejo enorme de ir brincar com ela, talvez a fecundasse, talvez nascesse um novo filho-guaraná, como dos seus amores com Ci... Mas põe o dedão do pé e tem medo do frio, isto é, se arreceia de uma civilização, de uma cultura de clima moderado europeu.

E Macunaíma, como num pressentimento, retira o dedão, não se atira n’água. O herói se salva essa primeira vez. E a água mexida pelo dedão do herói se entrança de novo num tecido de ouro e prata, escondendo a visagem da Uiara-dona-Sancha. A qual é dona Sancha pra ser européia, pois Vei, em vez de se utilizar duma das suas filhas, europeíza o seu instrumento de vingança. Ela percebe que, sem o europeísmo a que se acostumou, Macunaíma não se enganava. Vei não desanima e pra enfim vencer acaba se servindo de um argumento exatamente tropical. Pega num chicote de calor e dá uma lambada no herói. Este não resiste mais. Se atira na água fria, preferindo os braços da iara ilusória. E vai ser devorado pelos bichos da água, botos, piranhas.

Ainda consegue voltar à praia, mas é um frangalho de homem. Como agora? sem uma perna, sem isto e mais aquilo, e sem principalmente a muiraquitã que lhe dá razão-de-ser, poderá se organizar, se reorganizar numa vida legítima e funcional?... Não tem mais possibilidade disso. Desiste de ir viver com Delmiro Gouveia, o grande criador. Desiste de ir pra Marajó, único lugar do Brasil em que ficaram traços duma civilização superior. Lhe falta o amuleto nacional, não conseguirá mais vencer nada. Então ele prefere ir brilhar do brilho inútil das estrelas.

MÁRIO DE ANDRADE


(O cara é foda mesmo vééééio! E vamos ler porque ler é doidimais!!!)


Gabriela 02/03/2015minha estante
Fiquei muito feliz ao ler a sua resenha, pois amo Macunaíma e Rubem Fonseca! :p




Ana Paula 18/06/2023

O Movimento Modernista buscava uma estética nacional, e para isso Mário de Andrade faz uso aqui do realismo mágico e de uma vasta pesquisa sobre a cultura indígena e afro-brasileira. A linguagem pode ser desafiadora e ao mesmo tempo bastante prazerosa, mas o tom de sátira me causou um certo incômodo, como no capítulo Macumba ou quando os irmãos saem de um banho com etnias diferentes, entre outros. Para rebater críticas à obra, o autor dizia que tudo não passava de uma brincadeira, numa tarde preguiçosa, deitado numa rede. Não sei o que pensar, até ri, mas foi de nervoso.

A frase mais bonita do livro:
- A tristura talqualmente correição de sacassaia viera na taba e devorara até o silêncio.
Expressão que pretendo adotar:
- Isso é muito relambório!
Vania.Cristina 18/06/2023minha estante
Eu ainda não me sinto preparada para Macunaíma. Um dia...




letícia 12/05/2023

Chato
Macunaima é chato e insuportável. Pior livro que li esse ano. Terminei amarrada de tão ruim que era.
tofsaint 12/05/2023minha estante
e deu 4,5? kkkkkkkkkkk gente




L Soares 04/08/2023

O livro conta a história de Macunaima, o herói, em sua jornada por todo o Brasil.

O livro tem uma narrativa bem folclórica, contando ou reinventando a origem de diversas coisas, da forma como nasciam e eram contadas as histórias no passado. E isso é um ponto muito bacana.

Me fez lembrar imediatamente dos flashbacks de Chicó no auto da compadecida, com suas histórias altamente fantasiosas e descabidas, terminadas em "num sei, só sei que foi assim".
Em especial as corridas sem fim pelo Brasil, em perseguições que levam os personagens por diversos estados e regiões, trazem cenas muito nítidas de histórias nas quais o fundo passa correndo enquanto os personagens correm parados, ou então correndo direto por sobre o mapa, sem nenhuma razão com a realidade das distâncias, o tom dessas cenas é bem divertido.

Mas esse livro não funciona bem pra mim. Um livro que incentiva o folclore e a contação de histórias e lendas, deveria ter uma escrita mais simples.

O livro utiliza milhares de expressões indígenas e de regiões variadas, a sensação que eu tinha lendo a maior parte do livro era de uma verdadeira cacofonia, uma confusão desagradável causada pelo excesso.

O livro conta uma história de absurdos, em um ritmo muito acelerado, e com uma linguagem muito peculiar, coisas que poderiam ser bacanas, mas nesse caso para mim o excesso em tudo não conseguiu me fisgar.

Li na adolescência pra escola, e fui reler agora para ir assistir um balé baseado na obra. Não consegui nem terminar de ler antes da apresentação, e me travou por muito tempo a fila de leituras, a leitura acabou bem arrastada por conta da forma de escrita.

No mais, gosto da idéia de "moral da história", e, "macunaíma, o herói sem nenhum caráter", é exatamente o que o subtítulo diz, forçoso chamar de herói.

Preguiçoso, arrogante, mentiroso, usa e trata mal seus irmãos, usa e descarta todas as mulheres que encontra, e na maior parte das vezes sem consequências, se safando de tudo, e reforça em alguns aspectos visões preconceituosas contra os indígenas, como sobre serem preguiçosos.

Tudo isso pesa bastanta pra mim.
Lala 11/08/2023minha estante
Um balé???Que demais, sempre quis ver um repertório inspirado em algo brasileiro




Ellis.Cristhine 26/07/2023

Macunaíma é o nome do personagem principal, sendo assim, a narrativa é contada em 1°pessoa, o livro já de início conta o nascimento da criança, a mãe do personagem parindo de cócoras, isso mesmo, ela dá luz ao menino de cócoras, eu fiquei abismada, mas é a verdade. O foco da narrativa é a trajetória dele, as suas feitorias, ele foi muito jovem expulso da sua tribo, pois era muito preguiçoso, com isso, passou a andar a pé para vários lugares, namorando com algumas mulheres, ele era muito acomodado e namorador. No decorrer da sua trajetória, ele banha no rio e fica loiro, branco, dos olhos azuis, sim, características opostas a sua aparência de nascença, analisando de forma profunda esse acontecimento, é uma provável marca do autor Mário Andrade na sociedade, para fazer uma alusão da nossa miscigenação, esse livro é sensacional, se o autor queria impressionar, ele conseguiu, a obra é usada como uma forma de representar a brasilidade e enaltecer o nosso país, por usar como figura central um indígena, sendo este, nossos originários, além disso, esse livro foi usado na Semana de Arte Moderna, para demostrar as características do nosso povo, principalmente, a acomodação, típica dos brasileiros, sinto muito, mas sim, somos preguiçosos. Contudo, eu ameiiiii o livro, indico muitoooo.
N.I.X. 26/07/2023minha estante
Vc amou e deu 3? Não entendi




Gabriel 05/10/2023

Leia
Simplesmente, leia o Macunaíma. Estou certo de que você vai se encontrar ali. De alguma forma, somos todos esse livro.
Amanda.krislayne 05/10/2023minha estante
Um livro que nunca deveria ser esquecido




EduardaMarquess 20/01/2024

?Ai? que preguiça?? ?
A máxima de Macunaíma, o herói, descreve minha reação durante a leitura do livro quase todo. A decepção deve-se ao fato de eu considerar que ele tinha tudo para ser atrativo e divertido, e simplesmente não é. O jogo de palavras é confuso, o que está ok pois parece ser a intenção do autor. Alguns mitos são criativos. A maneira de descrever o Brasil como unidade homogênea foi bem feita. Mas você envolve-se tão pouco com o protagonista, e nem é pela falta de caráter, que acaba não se empolgada em ler nada que vai acontecer Enfim, não funcionou para mim!
Aline.Peterle 20/01/2024minha estante
????




Paty 31/01/2014

Mário de Andrade queria provocar a elite burguesa e conservadora. Diria que “Macunaíma” é um livro quase impossível de ler: possui um estilo inovador e sua linguagem fora do que estamos acostumados. Ainda hoje nos tira da zona de conforto. Sua ordem não é cronológica e sua trama é surrealista, onde tudo pode ser realizado e construído. Uma insanidade, quase racional. Uma obra OBRIGATÓRIA.
Arsenio Meira 31/01/2014minha estante
E olhe que ele sacrificou boa parte do seu tempo para ensinar - isso mesmo - ensinar mais de um exército de escritores, poetas, musicistas, folcloristas e etc e tals, escrevendo mais de 100.000 cartas (é exagero), percorrendo o Brasil... Afinal, ele ele era um estudioso da música, da línguia e dos costumes da nossa gente. Mas teve tempo para romper com tudo o que havia de convencional e o fez junto com a rapaziada de 22.




Lala 29/12/2023

Loucura, loucura, loucura!
Eu sei que esse livro não é muito popular. Eu li pra faculdade e fui a única pessoa que gostou (até a professora é hater de Macunaíma) e a galera me zoa por isso até hoje kkkk. Eu entendo o porquê disso: o livro é difícil, esquisito, as coisas não fazem sentido, os personagens são tudo sequelados e é confuso. Mas eu gosto justamente disso, fazer o que kkkk.
Nos primeiros capítulos eu não estava entendendo nada e tava odiando tudo, mas depois fui me acostumando com a linguagem e isso começou a mudar. Aos poucos o livro foi me pegando. Eu sou entusiasta de folclore, então não foi muito difícil, porque esse livro é um ode a cultura popular: lendas, músicas, costumes, de tudo um pouco...tudo muito rico e muito brasileiro.
A história também é muito legal. Basicamente vemos uma jornada épica pelo Brasil atrás da lendária Muiraquitã enfrentando gigantes canibais e figuras mitológicas. O que eu mais gostei foi o maravilhoso, o non sense e o louco explorados nesse livro. Os personagens viram coisas, coisas viram pessoas, cabeças sem corpo falam, mortos são revividos com fumaça, uma amazona triste sobe até o céu escalando uma corda de estrelas, etc.
As coisas não fazem sentido e NÃO PRECISAM fazer sentido. Isso é revigorante de ler em um mundo em que até o fantástico necessita ser racionalizando, é um tipo de literatura na qual o céu é o limite e os absurdos são fascinantes. Minha cena favorita é a do Macunaíma fugindo da velha Ciuci pelo Brasil e cada vez que ele troca de cavalo, recita um versinho popular: aqui não importa a lógica de tempo e espaço, eles percorrem Amazonas-Rio Grande do Sul em passos e isso é legal demais, o livro abraça o louco sem ter vergonha disso.
A linguagem popular também é um destaque (apesar de que eu acho ela bem complicadinha) e os capítulos rapsodicos trazendo cada um uma pequena aventura. O livro, porém, tem grandes problemas de representação (em especial, da comunidade indígena) e em alguns momentos é bem datado e traz estereótipos problemáticos, o que não pode ser ignorado.
Em suma, apesar dos problemas e dificuldades, eu me diverti muito com essa leitura (que usa muito do humor na sua construção) e foi uma ótima experiência. É uma história de fantasia e aventura pra quem gosta de narrativas experimentais e excêntricas.
Sheila Pires 14/03/2024minha estante
Que resenha maravilhosa, fiquei curiosa pra ler.




wednesdayeve 20/02/2024

Mário de Andrade é um chato, sua escrita uma fubanguisse sem tamanho e seu livro um festival de horrores e racismo. "ah mas abriu o pré-modernismo" pois que deixasse fechado.
Flavia512 15/03/2024minha estante
Adorei sua resenha kkkkkk. É a mesma coisa que sinto. Tive que ler esse negócio pra faculdade e não passei de umas 5 páginas. Horrivel!




isa 12/02/2022

Ai! Que preguiça!
Confesso ter sofrido bastante ao longo da leitura.
Foi um livro cansativo e cheio de altos e baixos. No entanto, não posso deixar de falar sobre a importância desse clássico.
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter é a cara do povo brasileiro. a malandragem, o jeito divertido e toda essa diversidade cultural,
as partes folclóricas e as falas regionalistas presentes no livro nos faz refletir o quanto o Brasil é plural.
Uma linguagem bem complicada que, apesar de eu estar acostumada com clássicos, fugiu muito do meu costume. Uma mistura clara da língua portuguesa e palavras indígenas. Foi necessário que eu diversas vezes procurasse o significado de algumas palavras.
É livro bem engraçado e fantasioso, o espaço geográfica foge muito dos padrões (ele consegue se deslocar de um estado para o outro em uma corrida KKKKKK), o anti-heroísmo do protagonista é uma característica muito interessante e o enredo é bem surrealista.
Gostei muito do final do livro, o que fez valer a pena todo o meu esforço em finalizar essa leitura.
É um bom livro, mas não leria novamente.
caspaeletrica 12/02/2022minha estante
vc odiando ler o livro e ainda dando uma nota alta




Beatriz 14/04/2024

Ai! que preguiça!...
Macunaíma fez com que eu quase me esquecesse que leio por gostar, porém, uma vez começado, senti a obrigação de terminá-lo.

Só consegui essa proeza pois ouvi junto da leitura o audiolivro, se não tivesse lançado mão dessa ferramenta eu não conseguiria concluir.

Perdoe-me os amantes da obra, os que a acham incrivelmente sensacional, mas eu achei o livro pavoroso, logo no início lia, totalmente pasma, horror atrás de horror. Várias vezes quis abandonar a leitura, e, em outras tantas, quis jogar o kindle na parede por saber que minha consciência me acusaria por não terminar o livro.

Mas, para não me alongar, está feito, terminei o livro e não tirei dele nenhum bom proveito, só a sensação estranha de que perdi meu tempo debruçada sobre os devaneios de um homem que escreveu sobre o dia em que ele pegou todos os seus pesadelos, bateu em um liquidificador e a mistura de todo o delírio resultou em Macunaíma.
Anna Picoli 09/05/2024minha estante
resumiu o que eu pensei KKKKK




Silvia402 26/04/2023

Resenha - Macunaíma - Mário de Andrade
É um livro clássico modernista e indianista, uma leitura praticamente obrigatória, que retrata a vida indígena e as aventuras do protagonista Macunaíma, o herói sem caráter. No livro tem muitos termos que são relacionados à cultura indígena, como lendas, os nomes de tribo como a que macunaima pertencia, a tribo Tapanhumas e os custemes deles. O herói viaja bastante durante a história, no livro são citados nomes de muitos estados do Brasil, ele também passa por várias transformações, faz muitas artimanhas, conta muitas histórias, lendas indígenas, e outras histórias que explicam o surgimento de alguns dizeres populares. Também é pode se perceber a aculturação que os indígenas passaram ao serem inseridos no meio urbano, e as diferenças entre a cultura e vida urbana, da vida indígena , o autor faz a crítica em relação ao eurocentrismo, a influência da Europa, principalmente da França sobre a cultura e vida no Brasil, entre outras coisas. É uma leitura construtiva, porém confusa, demorada, foi complicado terminar esse livro, a história é muito confusa em alguns pontos, são muitas histórias e termos para um livro só, enfim clássico.
"A Máquina era que matava os homens porém os homens é que mandavam na Máquina..."
"POUCA SAÚDE E MUITA SAÚVA,OS MALES DO BRASIL." Crítica.
"Carrapato já foi gente que nem nós... Uma feita botou uma vendinha na beira da estrada e fazia muitos negócios porque não se incomodava de vender fiado. Tanto fiou tanto fiou, tanto brasileiro não pagou que afinal carrapato quebrou e foi posto pra fora da vendinha. Ele agarra tanto na gente porque está cobrando as contas." História.
Tiago Absolão. 26/04/2023minha estante
Achei interessante o contraste de termos certas dificuldades com termos indígenas que não são estrangeiros, mas facilidade com termos em inglês, que é estrangeiro. Deu vontade de ler apesar de o livro parecer confuso e não linear. Sobre o trecho citado sobre as máquinas, achei fantástico.




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