Luiz Pereira Júnior 25/07/2020
Curto, porém denso
Uma obra curta, mas densa, cheia de meandros e psicologismos, é o que se pode resumir de “O silêncio das sereias” (favor não confundir com o conto de Kafka, de onde a autora retira o título). Melhor dizendo: psicologismos tanto para o melhor quanto para o pior, diga-se de passagem.
No melhor uso do termo, a autora constrói personagens complexas, cheias de traumas e recalques, muitos simplesmente inexplicados e ocultos (como sói acontecer). No pior uso do termo, isso acaba tornando o livro um tanto repetitivo, muitas vezes passando a impressão de que os males dos personagens são fúteis (já que razões congruentes para os comportamentos deles não são explicados ao leitor) e que o livro parece ser um exercício de esnobismo da autora (“eu sei fazer altas análises psicológicas de meus personagens” – é como se ela estivesse querendo provar isso ao leitor).
Ao observarmos mais atentamente o desenrolar da obra, percebemos que, por trás de um enredo banal (a mulher que se apaixona por um homem distante que lhe dá esperanças, mas que acaba por rejeitá-la por completo), esconde-se um profundo retrato da depressão (uma palavra que não aparece na obra, salvo engano) e do isolamento. Aliás, a palavra “depressão” parece estar sendo usada para todos os males dos seres humanos (“estou em depressão, porque o meu celular quebrou”, “minhas curtidas diminuíram e entrei em depressão”, “não consegui passar de nível e entrei em depressão” – já escutei tudo isso e mais um pouco).
Enfim, um livro curto, barato (encontrável apenas em sebos) e que não desmerece a inteligência do leitor.
P.S.: agora, se você procura um livro no estilo vira-páginas, com muita ação e correria, ou se não tem paciência para enredos densos, longos parágrafos e personagens complexos, esqueça o parágrafo anterior e não gaste seu sagrado dinheirinho com esse livro...