Amor sem fim

Amor sem fim Ian McEwan




Resenhas - Amor Sem Fim


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Guilherme Duarte 24/04/2021

Às vezes denso demais
O livro demanda atenção. A forma envolvente da narrativa muitas vezes é baseada em um detalhamento profundo (até demais), muitas vezes em situações que parecem estar totalmente alheias ao seu cerne, que são as consequência de um acidente de balão. O resultado disso é uma história com personagens bem construídos e às vezes mais densos do que o necessário.Embora eles não sejam muito carismáticos, ainda assim podem ser envolventes e até mesmo ludibriar o leitor. Em alguns pontos a narrativa pode se tornar cansativa, e até mesmo angustiante devido algumas situações internas ao próprio livro, mas nada que seja prejudicial.
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Marcelo.Castro 21/05/2020

Altos e baixos
O livro parte da narrativa aparentemente banal de um acidente pela ótica do personagem principal. A dinâmica desses fatos é narrada de forma pormenorizada (e por vezes até enfadonha) e gera um desdobramento incomum. A partir daí a história começa a ganhar corpo e ritmo e o autor brilhantemente nos leva a sentir a angústia e questionar a própria realidade e sanidade do protagonista. Mas o final vai para um anticlimax com um quê de decepcionante, confirmando tudo que aconteceu e finalizando a obra com um apêndice extremamente técnico. A escrita de McEwan é bem peculiar e o autor gosta de subverter as perspectivas a que o leitor normalmente está habituado, o tirando de sua zona de conforto. Mas nessa obra, embora haja esse aspecto instigante, as passagens excessivamente pormenorizadas ou técnicas e o próprio desfecho da narrativa deixam a desejar e prejudicam a experiência geral da leitura.
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Gláucia 09/05/2020

Amor Sem Fim - Ian McEwan
Gosto muito da escrita desse autor, seus romances são sempre muito intrigantes, desses que a gente se sente presa pela narrativa por não sabermos exatamente o que está acontecendo e onde tudo vai desembocar. Não foi diferente com esse, segui algumas pistas falsas que me levaram a um final não esperado.
Me lembrou muito um filme francês que gostei muito, ambos tratam do mesmo tema e, caso você o tenha visto, só saber qual é já será um spoiler do livro. Trata-se de Mal me quer bem me quer.
Ah, o primeiro capítulo desse livro é de tirar o fôlego!
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Aguinaldo 14/05/2011

"Amor sem fim" de Ian McEwan é um romance que sutilmente contrapõe ciência e religião, mas talvez seja mais correto dizer que apresenta ao leitor um jogo onde se confrontam a maneira de se entender o mundo cientificamente e as maneiras como quaisquer outras formas de conhecimento entendem o mundo. Estes jogos estavam na moda no final do milênio, como é o caso de quando o livro foi publicado originalmente, 1997. Agora, finda a primeira década deste século XXI, pode-se dizer sem medo que o obscurantismo e o anti-cientifismo dominam com folga, como a tempos não dominavam, o cenário dos projetos de entendimento do mundo, imersos que estamos nesta espécie de reinado da imbecilidade em que vivemos (e não digo isto olhando apenas para o Brasil). Bueno. Um sujeito, Joe Rose, físico de formação, trabalha com jornalismo científico e, apesar de lamentar-se um tanto ter abandonado o mundo da ciência pura, alcançou sucesso e reconhecimento em suas atividades. Ele é casado com uma acadêmica da área de letras, Clarissa Mellon, especialista em Keats. Um bizarro incidente em um dia estival no campo inglês transforma radicalmente sua vida. Um balão de ar quente perde o controle. Joe e um grupo de outros três ou quatro sujeitos tentam segurar o balão próximo ao solo para evitar que ele suba sem controle, levando embora uma pequena criança. Por azar um dos sujeitos que tentavam evitar que o balão se perca o segura por tempo demais e acaba caindo do balão e morrendo. O livro seria banal caso descrevesse apenas o dilema moral de Joe, que em um primeiro momento sente-se culpado por ter sido o outro e não ele o sujeito que segurou por tempo demais a corda do balão e que por conta disto morreu. McEwan faz com que um dos sujeitos que partilhou a tentativa de socorro ao balão passe a desenvolver uma curiosa patologia em relação a Joe. A partir daquele evento o outro sujeito, Jed Parry, entende-se completamente apaixonado por Joe e entende que esta paixão é recíproca (o que escrevo aqui não é exatamente um spoil, pois estes dois eventos, acidente e paixão, são descritos por McEwan nas primeiras trinta ou quarenta páginas). O que acompanhamos no livro são as várias estratégias que os personagens do livro desenvolvem para resolver o conflito em que se meteram. Acompanhamos os desdobramentos destas estratégias, pois todos, o casal, o sujeito apaixonado, a polícia, a viúva do sujeito que morreu, reagem de formas distintas a estas estratégias. McEwan acrescenta ao livro (mas faz parte dele, como um truque metalinguístico) uma espécie de artigo científico, um paper, onde descreve a síndrome erotomaníaca de Clérambault, que é a doença de que padece seu personagem. O livro é repleto de discussões que remetem ao mundo acadêmico e científico. Não é o melhor Ian McEwan que já li (gosto mais de "O jardim de cimento" e "A reparação", ou mesmo dos contos de "Primeiro amor, últimos ritos"), mas é um livro que se lê com prazer. Ao ler o livro lembrei do Fernando Landgraf, que sempre se perguntava porque não havia um livro decente que tratasse do mundo da academia, da vida universitária. A meu juízo o melhor desta classe de livros ainda é "Todas as almas", do Javier Marías, mas este "Amor sem fim" tem lá seu valor. [início 07/04/2011 - fim 14/04/2011]
"Amor sem fim”, Ian McEwan, tradução de Jorio Dauster, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2011), brochura 14x21cm, 291 págs. ISBN: 978-85-359-1835-9 [edição original: Enduring love, Jonathan Cape, 1997]
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Marselle Urman 13/10/2011

Amor sem fim?
Mais um McEwan complexo, embora no Apêndice I (leitura indispensável), o autor 'tire o coelho da cartola' revelando o caso documentado sobre o qual foi escrito este romance. Citação científica, afinal, totalmente necessária, ao dar o mérito à pesquisa psicológica e ao caso que fundamenta essa ficção.

O protagonista, Joe Rose, assemelha-se a outros personagens do autor, exceto pela estabilidade de sua vida pessoal, que existia ao menos quando o romance começa. Mais do que a visão racionalista do autor, e mesmo que as deliciosas pitadas de conhecimento político, literário, filosófico e científico que saem das bocas de seus personagens, para mim caracteriza-se aqui mais uma estória sobre as consequências retumbantes da falta de comunicação entre as pessoas. Ou melhor: como os comportamentos exacerbados, emocionais, de todas as partes, podem ser destrutivos. Voltamos ao racionalismo, afinal.

A narrativa de Ian é deliciosa, minimalista como já disse antes. Flui. A identificação com os pensamentos íntimos dos personagens é fácil, e podemos ver as questões de vários ângulos pessoais com facilidade. Os breves argumentos científicos, filosóficos (etc...) não entediam em momento algum, pois são apenas centelhas ou pensamentos soltos.
Em termos tradicionais de enredo, deixa a desejar. Talvez por sua necessidade de se manter fiel ao caso clínico; tão propício ao emprego de sua visão particular. Falta de imaginação passou pela minha mente, mas isso é algo inimputável a McEwan.

O amor, afinal, sucumbe com a morte de seu sujeito. É uma triste ameaça.

Ótima leitura.
André Foltran 05/11/2016minha estante
O Apêndice I (assim como o II) é pura ficção. A cara do McEwan, não?




jota 13/01/2014

Síndrome e drama
Amor Sem Fim começa muito bem, com uma reviravolta (de mestre, de Ian McEwan) já nas primeiras linhas. Num daqueles belos e raros domingos ingleses de sol, que prometia muita coisa que não fosse exatamente uma tragédia, infelizmente acaba acontecendo uma que traz consequências nefastas para o casal Joe Rose e Clarissa Mellon, dois dos personagens principais do livro.

Joe e Clarissa vão ter a vida quase plenamente feliz que levavam perturbada por um acontecimento inesperado, pelo imponderável, melhor dizendo. E daí tudo muda na rotina deles com a intromissão de outro protagonista, Jed Parry. Este, um sujeito mentalmente desequilibrado por conta de seu fanatismo religioso e de certos traços de personalidade homoerótica. O tal de “amor sem fim” do título é aquilo que Parry passa, a partir do incidente do domingo, a dirigir com insistência patológica para Joe. Que o repudia veementemente, claro.

Enquanto vão se acumulando pequenos fatos que percebemos que cedo ou tarde levarão a outra tragédia (e antes disso temos uma tentativa de assassinato em plena hora do almoço num restaurante que os personagens frequentam), parte da história vai se desenvolvendo no mundo acadêmico e científico de que Joe e Clarissa fazem parte.

Quando Clarissa está em cena são inevitáveis várias referências aos conhecidos poetas William Wordsworth e John Keats, enquanto Joe se dedica a redigir artigos para publicações científicas. É através de seu trabalho de pesquisa que tomamos conhecimento da síndrome de Clérambault, o mal que afeta Jed Parry. E aqui se pode ligar Amor Sem Fim a outro livro de McEwan onde a ciência e os cientistas têm grande destaque, Solar, também outro livro interessante de McEwan.

A obsessão homoerótica com conotações religiosas que Parry apresenta é uma variante da síndrome de Clérambault, que evidentemente não é uma criação de McEwan para essa história; ela existe e no final do livro temos um apêndice e uma extensa bibliografia a respeito. Mas bem antes do final conhecemos também dois personagens secundários, duas crianças, Leo e Rachael, que vão trazer um pouco de alegria a Joe e também a nós, leitores.

Como as demais histórias de McEwan, Amor Sem Fim é, no mínimo, muito interessante e sua leitura bastante agradável, pois temos até mesmo alguns momentos de humor. Também é certo que sempre que estamos com um livro dele em mãos é impossível não se lembrar de duas obras-primas que escreveu, Reparação e Na Praia (eu me lembro delas invariavelmente), e daí certas comparações se tornam inevitáveis. Mas não queremos ler ou reler sempre o mesmo livro ou a mesma história, queremos?

Novamente lamento não haver aqui no Skoob uma nota 4,5, que eu penso que Amor Sem Fim mereceria receber.

Lido entre 28/12/2013 e 13/01/2014.
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Maik 12/07/2016

Surpreendente!
Ian McEwan sempre tem uma prosa elegante e bem arquitetada. O livro consegue partir de um dia que seria trivial, até que o inesperado desencadeia uma série de acontecimentos intensos e inimagináveis. Uma leitura ágil que não dá vontade de largar enquanto não se chegar à última página. Validíssimo!
Milo 05/12/2016minha estante
Seu comentário definitivamente me fez decidir pela leitura deste livro!




Camilo 01/07/2011

"Amor sem fim": racionalismo científico vs. fanatismo religioso
Ian McEwan não é apenas um dos maiores escritores da atualidade; é também um declarado humanista secular, apaixonado por ciência, o qual se alinha com orgulho ao lado de ateus notórios como Richard Dawkins, Sam Harris, Dan Dennett e Christopher Hitchens, na defesa de uma visão de mundo mais racional, mais pautada no saber científico do que nas vagas intuições e crenças sobrenaturalistas a que nós, seres humanos, estamos naturalmente propensos. Não é por acaso, portanto, que o embate entre fé e razão vez e outra dá as caras em suas obras literárias.

De fato, foi em Cães negros (Rocco, 1996) que McEwan trouxe à tona pela primeira vez a antinomia entre fé e razão, não apenas na discussão sobre a controversa natureza do bem e do mal, num romance que fala do nazismo e do colapso do Muro de Berlin e do regime soviético, mas no próprio desnudar que o livro promove das personalidades opostas de um casal que — simbolizando ela, June, o misticismo new age, e ele, Bernard, a mentalidade racionalista — representava a própria incompatibilidade entre a crendice idealizadora e espiritualizada, de um lado, e o ceticismo racional, do outro. Na década seguinte, o excelente romance Sábado (Companhia das Letras, 2005) apresentou-nos, por sua vez, o neurocirurgião Henry Perowne, a voz mais contundente do racionalismo científico num personagem de McEwan, cujo discurso narrativo jamais se deixava tomar por impressões demasiado emotivas, não importando o quão impactante fosse o que se dispunha a relatar ou analisar, ao mesmo tempo em que reconhecia que a ignorância científica era um dos grandes males do mundo. E destaque-se à parte, ainda, Solar (Companhia das Letras, 2010), romance atípico de McEwan por seu tom irônico (ausente em seus demais livros, via de regra mais sombrios), em que o autor satiriza o discurso “ecologicamente correto” e denuncia o oportunismo político em torno dele, bem como a vaidade e a ambição acadêmico-científica, as relações sociais antiéticas, a questão problemática da institucionalização da ciência, além de também chamar a atenção para o relevante tema da mudança climática e da urgente necessidade de fontes de energia renováveis, sem que jamais a narrativa subscreva o discurso negacionista nem tampouco adote o tom de pregação dos profetas do aquecimento global apocalíptico. Porém, há ainda outro romance desse talentoso escritor britânico em que a oposição distinta entre ciência e religião, razão e fé, é explicitamente desenvolvida: trata-se de Amor sem fim (Companhia das Letras, 2011; lançado anteriormente, com o título de Amor para sempre, pela editora Rocco, 1999).

Neste romance de leitura cativante, somos apresentados a Joe Rose, o protagonista-narrador, físico de formação mas há muito afastado da pesquisa acadêmica, que acabou construindo uma carreira produtiva e bem remunerada escrevendo livros e artigos de divulgação científica para o público leigo. Casado com Clarissa Mellon — professora e crítica literária, então focada na poesia de John Keats, cuja obra é objeto dos estudos que vem realizando —, os dois vivem uma longa, apaixonada e afetuosa relação, frustrante apenas pelo fato de Clarissa não poder engravidar como tanto desejava. Pois esse sólido casamento vê suas bases serem profundamente abaladas pouco depois que um acontecimento tão insólito quanto trágico coloca entre eles, Jed Parry, um fanático religioso que, após seu primeiro encontro com Joe, desenvolve por este uma repentina paixão (amorosa), que acredita ter sido uma “revelação” de Deus.

Na verdade, a súbita paixão de Jed, que vai aos poucos se revelando uma obsessão doentia, consiste num caso patológico de erotomania ou de síndrome de Clérambault: estado mental amplamente documentado em que a pessoa mantém a ilusão de que o objeto de sua paixão (que na maioria dos casos é alguma celebridade, mas não necessariamente) corresponde a seus sentimentos, ainda que em segredo e por meio de sinais sutis, por se ver incapaz de demonstrar abertamente seu amor. Nesses casos, mesmo o manifesto desprezo do amado é interpretado como “encenação”, que, no fundo, significaria o oposto do que parece querer dizer. Ademais, uma vez que, na ocasião do primeiro encontro entre Jed e Joe, este acaba se negando a juntar-se ao outro numa prece pela alma de um homem recém-falecido, o fanático apaixonado conclui que seu imediato amor por Joe integra os enigmáticos desígnios divinos. Tal conclusão é salientada, por exemplo, numa carta enviada ao protagonista, na qual Jed Parry, após mencionar que havia lido vários textos de Joe visando à compreensão pública da ciência, confessa sem receio:

Eu o odiei por aquilo, mas nunca esqueci que também o amava — e por isso continuava a ler. Ele precisa da minha ajuda, eu me dizia quando estava prestes a desistir, ele precisa que eu o libere de sua pequena gaiola da razão (p. 160).

É interessante notar como o bitolado discurso religioso de Jed, tal como o de vários crentes no mundo real, denuncia grades encarceradoras no racionalismo científico, mas jamais admite semelhante limitação do próprio entendimento imposta pela fé. Em todo caso, cumpre destacar que, justamente aqui, nesse trecho da carta de Jed, pode-se perceber sua paixão ilusória entrando em claro conflito com sua crença fanática e intolerante, em face das críticas que a religião encontrava em alguns escritos de Joe, quando, num breve episódio de patente dissonância cognitiva, o erotomaníaco deixa escapar as seguintes linhas ameaçadoras:

Houve momentos em que duvidei se havia entendido corretamente o que Deus queria de mim. Será que me cabia entregar em Suas mãos o autor daqueles escritos odiosos contra Ele? Talvez minha missão fosse mais simples e mais pura. Quer dizer, eu sabia que você escreve sobre assuntos científicos e estava preparado para me sentir perplexo ou entediado, porém não sabia que você escrevia movido pelo desprezo.

Pouco mais adiante, Jed arremata, com um comentário mais do que lugar-comum nos argumentos de religiosos reais contra o ceticismo científico: “Você está lidando com poderes que nem você nem ninguém na Terra são capazes de conceber“. De fato, a proposição de que questionar a fé e seu objeto é evidência de incompreensão de que se está diante de algo que escapa à limitada razão humana é uma das máximas mais conhecidas e, portanto, facilmente flagrada na apologia religiosa.

(CONTINUE LENDO ESTA RESENHA EM: http://ontogenialiteraria.wordpress.com/2011/07/01/razao-vs-religiao-em-mcewan)
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Vania.Carneiro 25/02/2023

Gostei muito
Já li vários livros do Ian McEwan. Alguns eu não gostei, como Enclausurado ou Sábado, outros eu gostei muito, como Reparação, Na Praia ou A Balada de Adam Henry. Independente disso, ele sempre me surpreende. Cada livro é tão diferente um do outro, tão original. Este é um dos que eu gostei, e vou procurar a adaptação para o cinema, com Daniel Craig. Sempre prefiro ler o livro antes de ver o filme.
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Karoline 20/02/2022

Antes de tudo, preciso registrar: Joe Rose, definitivamente o narrador mais pedante que já li.

Essa história me deixou bastante perturbada, principalmente por ter iniciado ela sem saber muito bem do que se tratava. Fiquei assombrada, enlouquecida e, por fim, chocada como tudo terminou.

Acredito que se não fosse a maestria da escrita do Ian McEwan de me deixar querendo respostas e, dessa maneira, sem conseguir me fazer parar de ler, talvez eu não teria gostado tanto, justamente pelo porre que é o narrador. Mas cá estou, embasbacada, mais uma vez, com as palavras desse homem.
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Isotilia 14/12/2014

Sempre quis ler um prêmio Nobel, antes que ele ganhasse a premiação
Sempre quis ler um prêmio Nobel, antes que ele ganhasse a premiação. Estou convencida que Ian McEwain vai tornar isso possível.
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Jacqueline 14/01/2015

Por que as verdades, é claro, ou não existem ou são muitas. E as evidências ou simplesmente servem aos nossos propósitos ou nos desorientam...
“Esse é o nosso conflito como mamíferos – o que dar aos outros, o que guardar para nós próprios” (fala do narrador enquanto discute os progressos que a cooperação trouxe para o desenvolvimento da espécie – na caça, na evolução da linguagem e tudo que trouxe etc. – e o fato de que o egoísmo também é da natureza humana),

A ciência e o universo acadêmico figuram como pano de fundo da história. Joe Rose, formado em Física, vive uma eterna dúvida entre a carreira acadêmica (ser pesquisador) - da qual foi praticamente deposto em função de um lance de azar (outros pesquisadores patentearam primeiro uma invenção para a qual destinou anos de pesquisa) ou seguir na carreira de sucesso de divulgador da ciência, que embora tenha um baixo capital simbólico, permite um respeitável capital financeiro. Em função da sua profissão, teorias e fatos científicos perpassam a narrativa dos fatos centrais, que se desenrolam a partir de uma tragédia: um acidente com um balão acaba por matar um homem.
Um balão desgovernado com uma criança e seu avô a bordo, chama a atenção de um grupo de pessoas que passa a segui-lo. O Avô consegue descer do balão, mas a criança paralisada permanece. Além do avô, Joe e outros quatro homens tentam segurar a corda do balão para que pudessem resgatar o menino, mas um vento forte faz o balão subir, levando os seis pendurados em suas cordas. Aos poucos, cada um deles larga a corda (por opção ou por não aguentarem não se sabe bem), mas um o faz muito tardiamente, quando o balão já está muito alto e morre com a queda (o menino, depois da rápida subida, realiza os procedimentos corretos de aterrissagem e pousa em segurança). Aí reside o primeiro dilema ético da história: se todos tivessem aguentado firme, o balão não subiria muito e todos teriam sobrevivido, mas, com a perda de peso, o pior acabou acontecendo. Mas como todos poderiam saber desse fato na hora?
Segundo dilema: o homem morto era um médico de quarenta e poucos anos que deixou viúva e dois filhos. Algumas evidências em seu carro levam a crer que ele estava em companhia de uma mulher (amante?) quando avistou o balão. Sua mulher quer (e não quer) saber a verdade e pede a Joe que a descubra: caso seja verdade, que o médico tivesse um caso, o que seria melhor: manter a versão da história vivida intacta, ainda que ela, evidentemente, traga muito sofrimento em função da morte prematura, ou contar o ocorrido à mulher, que poderia assim encontrar algum alento em seu sofrimento ou pelo menos um tempero de raiva?
Mas a história central derivada do acidente é a que se dá entre Joe e Clarissa, sua mulher, acadêmica, professora e crítica literária (que também assiste o acidente com o balão) e Jed, um jovem solitário crente, que fica obcecado por Joe: se crê apaixonado por ele e detentor da missão de fazer com que Joe, com todo o seu pensamento científico, se aproxime de Deus. Jed passa a perseguir Joe, pessoalmente e por cartas, e, de forma doentia, sempre vê nas atitudes de Joe respostas aos seus anseios, independentemente do que ele faça. Aqui outro dilema ético se estabelece: embora totalmente invasiva e transtornante não há nada na conduta de Jed que seja ilegal e que permita a polícia fazer algo: seria o caso de inventar ou provocar uma atitude agressiva para que se possa ter um mote para uma denúncia?
Com a interferência de Jed, o casamento feliz de Joe e Clarissa desanda: de início, ela parece não se importar com a história do suposto inofensivo Jed, mas depois chega a acusar Joe de estar fantasiando, já que não vê Jed nos lugares em que Joe diz que está e acha que a letra das cartas é muito parecida com a letra de Joe. Essa dúvida é cuidadosamente colocada para nós, leitores, e nos acompanha durante alguns capítulos: quem é o doente da história - Joe, Jed, ambos?
A descrição do desgaste da relação entre os dois é feita de forma precisa e podemos assistir como uma paixão acaba, como um casal em perfeita sintonia se desencontra, se distancia e se rivaliza. Que amor não teria fim? Somente o amor doentio teria a sentença de permanência? Uma passagem significativa nesse processo, que também envolve outro dilema ético, é quando Joe, já desorientado, resolve invadir a privacidade de Clarissa e lê suas cartas e suas mensagens: que limite é esse que muitos de nós somos tentados a transpor? Que sentido faz transpô-lo? Que verdade esperamos encontrar: uma qualquer que nos sirva para nossas meias verdade? Como podemos saber se o que o outro nos esconde é o que parece ser?
“Descendemos dos indignados e apaixonados contadores de meias verdades que, a fim de convencer ou outros, ao mesmo tempo convenciam a si próprios. (...) quando não é de nosso interesse, somos incapazes de concordar com o que está diante de nossos olhos. Crer é ver. Por isso há divórcios, disputas de fronteiras e guerras, por isso a estátua da Virgem Maria verte lágrimas de sangue e a de Ganesha bebe leite.”
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lara 03/11/2023

Amor sem fim
Eu adoro os livros desse autor, mas esse livro realmente foi meio chatinho. mas ele escreve bem demais, entao compensa um pouco
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patriciadesa 21/02/2022

Amor Sem Fim
Eu queria criticar mais o livro mas por incrível que pareça ele me prendeu a atenção. Não sei se foi intencional mas o autor tornou o personagem principal um cara desagradável, pedante, arrogante, e mesmo os outros personagens carecem de carisma. No entanto saber desse tipo de condição psicológica, a erotomania, me fez mergulhar de cabeça na leitura e não conseguir parar de ler mesmo nas partes cansativas e supérfluas da história. A melhor parte do livro é sem dúvida o final quando ele vai comprar a arma e o autor da uma aula de comédia maluca interessante que eu penso que foi o ponto em que o livro me interessou profundamente e criou um desenvolvimento final para essa história. Saber que essa história foi baseada num caso real me fez gostar mais ainda.
Kleyton0 24/02/2023minha estante
Resenha CHEIA de SPOILERs. Deveria ter marcado como tal.




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