Cardoso 04/11/2015
O livro esclarece uma série de aspectos cruciais na introdução de literatura a crianças e jovens, como a validade de adaptações (e quais usar), de que forma apresentar os títulos com intuito de gerar empatia entre o leitor e a obra (desde o auto-reconhecimento até ao simples prazer de ler uma aventura como a de Ilíada e Odisseia), e, o mais importante, o significado desse material: Ana Maria Machado entende a literatura como portadora dos sentimentos e história da humanidade, ao longo de toda sua existência; passar esta bagagem adiante é manter a vida de nosso pensamento, nossa identidade.
A questão do politicamente correto, muito importante numa sociedade cada vez mais multiculturalista (fica a você decidir se isso é bom, ruim ou ambígua), também é abordada; acho, entretanto, que sua intenção -- propor o debate das obras com as próprias crianças -- devia receber mais atenção do que uma simples conclusão. Sim, ela argumenta (e com que propriedade) a importância, por exemplo, dos contos de fadas, mas de adulto para adulto, de educador para educador, e não dá meios para tratar o tema com os pequenos. Esse, aliás, é o tópico escrito com mais maturidade no livro, porque o resto da obra tem uma linguagem muito sintética e infantil, se direcionando aos possíveis leitores pré-adolescentes pra baixo e, pelo menos a mim, irritando profundamente.
O livro em si não deixa de ser uma suave aventura por essas obras e por referências mil. Eu, como pai precavido (porque nem filhos tenho e estou bem longe de tê-los) e futuro professor que, assim como a autora, que fez parte da minha infância, entende a importância crucial da palavra (escrita ou mesmo oral), é um título recomendadíssimo.