Ladyce 03/01/2010
Amizade, lealdade, ira e vingança num romance moderno e atual
Vi este livro em diversas livrarias em Lima, no Peru, em Outubro. Mas não leio muito bem em espanhol. Então, quando cheguei de volta ao Rio de Janeiro achei interessante ver que havia acabado de ser lançado no Brasil. Não conhecendo o autor, resolvi comprá-lo como uma recordação da minha viagem. E ainda levei um tempinho para lê-lo principalmente porque seu título não me interessava: ênfase no tamanho ou no peso de uma mulher era um assunto que me repelia. Mas, acabei enfrentando a fera. Como gostei! É um excelente livro e descobri, chegando ao final, e algumas horas depois e alguns dias mais tarde, que é um livro que fica enraizado na nossa imaginação; que mantem um diálogo vivo com os nossos botões. Gosto de livros que me fazem pensar.
Duas adolescents são amigas de escola. Esta amizade é muito importante para cada uma delas, enquanto a amizade durou. Anos mais tarde, elas se encontram, já adultas. Cada qual bem sucedida na sua vida, cada qual com sua parcela de sucesso e sorte. À medida que elas voltam a se comunicar, descobrem não só como são importantes as emoções que cada qual guarda a respeito da amizade que tiveram, mas também recordam o evento trágico que separou-as, que destruiu o que haviam construído numa amizade que era importante para cada uma delas.
A narrativa é muito clara, assim como a maneira em que os personagens são retratados. Há muita atenção nos detalhes do dia a dia, coisa que no início parecia inconseqüente, talvez até um maneirismo do autor, mas que mostram ser essenciais para mostrar como as emoções, como o interior de cada personagem está submerso nesses detalhes corriqueiros.
Com um excelente ritmo, com seu texto coloquial e moderno, Alonso Cueto se mostra em domínio total da narrativa, do inicio ao fim. À medida que estas duas mulheres rememoram suas vidas, descobrimos suas fraquezas e principalmente a necessidade de cada uma de “pertencer” de “fazer parte” de um grupo. E nos lembramos também de como os adolescentes podem ser cruéis consigo mesmos e com seus amigos e colegas. E aos poucos percebemos como podem ser profundas as feridas sentidas nestes anos de formação, assim como a dificuldade de cada um, de superá-las.
Depois de ler este romance de Alonso Cueto, não me surpreendi ao descobrir que ele é um autor peruano muito conhecido, com mais de uma dúzia de títulos publicados e que já recebeu diversos prêmios literários inclusive o Prêmio Viracocha, em 1985, com o livro Tigre Branco; em 2005 ganhou o prêmio Herralde com o livro Hora Azul. Em 2002 ele recebeu a bolsa para escriutores da Guggenheim e em 2003 seu livro Grandes Moradas tornou-se um filme de Francisco Lombardi.
Este é um livro sobre amizade, lealdade, ira e vingança. Retrata as almas sofridas e as técnicas de sobrevivência usadas por aqueles que carregam feridas emocionais por muito tempo. É um romance com um final surpreendente: iconográfico e belo. Sutil. Não é supresa, então, que tenha sido um livro finalista para o Prêmio Planeta – Romance Ibero-americano – em 2007. Recomendo com entuusiasmo a leitura deste romance.
31/01/2008