Flavio Assunção 10/12/2015Eu era uma criança quando assisti pela primeira vez "A Noite dos Mortos Vivos". Deveria ter 7 ou 8 anos e me diverti e assustei bastante com aquele enredo sombrio e original. Anos depois, já adulto, descobri que existe uma versão literária, escrita a partir do roteiro do filme. Obviamente alimentou em mim aquele desejo de achar um exemplar. Para a minha decepção, apenas uma versão em português de Portugal havia sido lançada e acabei deixando pra lá. Em 2014, então, veio a alegria de saber que a DarkSide lançaria o livro traduzido. E não só isso, com ele viria a inédita sequência (que nunca virou filme, embora exista uma sequência cinematográfica de mesmo nome), "A Volta dos Mortos Vivos". Finalmente chegou o momento de ler aquele que dizem inspirar os maiores livros e séries de zumbis atualmente existentes. Era melhor não ter feito isso...
Por se tratar de uma novelização, você logo imagina que o escritor vai fazer com que você se aprofunde naquele universo, explorando a mente das pessoas que estão no meio daquele caos, seus medos e desejos mais profundos. Mas não é bem isso que acontece. A história segue uma linha reta, como se você apenas seguisse o roteiro do filme. Não existe qualquer desvio de rota ou acréscimos. Apenas aquela história que se desenvolve de maneira vazia e rígida.
Separando um pouco a ideia da novelização e avaliando "A Noite dos Mortos Vivos" como um livro à parte, é deveras frustrante. A história é fraca, previsível, com diálogos intragáveis e com um texto extremamente repetitivo. Dá nos nervos a quantidade de vezes que o autor repete as mesmas palavras, principalmente em relação a ação dos zumbis. É trash, é bizarro. John Russo não se deu nem o trabalho de criar uma perspectiva diferente para as mesmas situações também repetitivas do livro, nem que seja para dar uma disfarçada. Fora isso, o livro é maçante ao extremo, mesmo sendo curto e com as forçadas cenas de ação que não trazem tensão alguma. É difícil explicar. Você lê esse livro como um roteiro chato e desejando chegar ao seu final. Me via tentando conter o impulso de pular páginas.
Talvez esse sentimento tenha sido potencializado pelos personagens que integram esta obra. São rasos, sem carisma e não causam afeição alguma aos leitores. Você não se preocupa com eles e não os compreende de forma alguma. Em parte porque a preguiça do autor não nos permitiu explorar o psicológico deles, que seria útil nos momentos desesperadores. Ele até esboça isso, mas de uma forma tão superficial que em nada acrescenta.
Poderia muito bem culpar a quantidade de livros e séries que já li sobre o tema? Até poderia sim, se pensarmos que nada do que esse livro traz é novidade e que em alguns momentos parece que certas situações vimos antes. Mas não. Mesmo um livro sobre um tema batido pode ser maravilhoso, como "Apocalipse Z", meu preferido até então. O problema de "A Noite dos Mortos Vivos" é porque é ruim e ponto. Não me importa se faz parte da cultura pop, se é baseado num filme clássico, se é a primeira vez que está traduzido para a nossa língua. Aquilo avaliamos o livro e não os elementos que o cercam.
Tudo o que falei serve para "A Volta dos Mortos Livros", que também integra esta edição. Embora tenha uma qualidade literária um pouco melhor, nos deparamos com a mesma falta de profundidade, mesma previsibilidade e mesma falta de empatia com os personagens . No final das contas, também é mais do mesmo. E, assim como seu pai mais famoso, uma decepção suprema.