Carla.Parreira 08/10/2023
O Mestre da sensibilidade
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Verificando Jesus em termos psicológicos, o autor diz que uma das características fundamentais de Cristo era transformar os seus seguidores em pessoas ativas, dinâmicas e que soubessem expressar seus sentimentos e pensamentos. Ele não queria um grupo de pessoas passivas, tímidas e que anulassem as suas personalidades. A cada momento Ele instigava a inteligência de quem o acompanhava e procurava libertar as pessoas do seu cárcere intelectual. Essa parte parece ter sido escrita diretamente para mim que não tive minha inteligência instigada nesse sentido de libertar-me para o mundo e a vida.
Fico imaginando a grandeza intelecto-espiritual de Jesus ao construir uma trajetória emocional inversa em sua existência. Ele poderia ter sido um homem angustiado e ansioso, mas, ao invés disso, era tranqüilo e sereno. Sua emoção era tão rica que ele chegou ao impensável tendo a coragem de dizer que ele mesmo era uma fonte de prazer, de água viva para matar a sede da alma (João 7:37-38). Isso explica seu comportamento quase incompreensível de cantar e se alegrar com seus amigos na ultima ceia, cerca de catorze a dezoito horas antes de morrer.
Outra parte intrigante foi quando Cristo revelou que antes que houvesse o mundo, o cosmos, ele estava lá, junto ao Pai na eternidade passada (João 17:5).
Há bilhões de galáxias no universo, mas antes que houvesse o primeiro átomo e a primeira onda eletromagnética, ele estava lá. Por isso, João disse que nada tinha sido feito sem ele. Aqui, novamente ele afirmou sua natureza divina, postulando-se como Deus filho, sua vida extrapolava os limites do tempo. Expressou que sua historia ultrapassava os parâmetros do espaço e do tempo contidos na teoria de Einstein. Por intermédio de suas palavras surpreendentes, ele se colocou até mesmo acima do pensamento filosófico que busca principio existencial. Imagino o quanto isso chocou as pessoas daquela época. Atualmente isso para mim não ocasiona nenhum espanto, pois acredito na teoria espírita de que Jesus organizou toda a formação do nosso planeta, desde o seu desprendimento da nebulosa solar. Ele e seus auxiliares organizaram as camadas geológicas, o princípio da vida vegetal, o desenvolvimento da vida animal, o desenvolvimento da própria espécie humana, e organiza todo o desenvolvimento intelectual e moral dos espíritos que estão ligados a Terra. Crente nisto considero Jesus como Mestre e Governador espiritual do planeta Terra. Para tal é claro que Ele, enquanto a alma mais perfeita a encarnar na Terra, já existia desde muito antes desta ser criada há cerca de cinco bilhões de anos atrás. Esse é um assunto que ainda pretendo estudar mais detalhadamente através de outras leituras.
Mais adiante o autor diz que, no conceito deixado por Cristo, Deus é um pai acessível, afetivo, atencioso e preocupado com as dificuldades que atravessamos e que, embora nem sempre retire as dificuldades da vida, propicia condições para superá-las.
O filho e o Pai estavam participando juntos, passo a passo, de um plano para transformar o ser humano.
O discurso de Jesus foi incomum. Ele encerrou sua curta vida terrena discorrendo não sobre regras, leis e sistemas de punição, mas simplesmente sobre o amor. Somente o amor pode cumprir espontaneamente e prazerosamente todos os preceitos. Somente ele dá sentido à vida e faz com que ela, mesmo com todos os seus percalços, seja uma aventura tão bela que rompe e renova as forças a cada manhã. O amor transforma miseráveis em homens felizes; a ausência do amor transforma ricos em miseráveis. O amor que Jesus sentia pelo ser humano o protegia do calor escaldante dos desertos da vida. Chegou ao absurdo de amar seus próprios inimigos. Quão diferente nós somos! Nosso amor é circunstancial e restrito, tão restrito que, às vezes, não sobra energia nem para amar a nós mesmos e sentir um pouco de auto-estima.
O pensamento de Jesus revolucionou o pensamento dos judeus que adoravam um Deus inatingível e imarcescível. Os discípulos também tiveram seus paradigmas religiosos rompidos. Eles não conseguiam entender que aquele que consideravam o filho de Deus estava revestido da natureza humana, que ele era um homem genuíno. Gostei da parte em que o autor diz que somente os fortes conseguem admitir suas fragilidades. Realmente isso é verdade. Aqueles que são fortes por fora são de fato frágeis, pois se escondem atrás de suas defesas, de seus gestos agressivos, de sua auto-suficiência, de sua incapacidade de reconhecer erros e dificuldades.
O Mestre era poderoso, sabia se fazer pequeno e acessível. Posicionava-se como imortal e parecia inabalável, mas, ao mesmo tempo, gostava de ter amigos finitos e de dividir com eles seus sentimentos mais ocultos. O mestre de Nazaré sabia tanto ouvir como falar de si mesmo. Ao expor a sua dor, estava treinando seus discípulos a serem abertos e autênticos uns com os outros, a dividirem as suas angustias, a aprenderem a arte de ouvir. Por amar aqueles jovens galileus, ele não se importou em usar a própria dor como instrumento pedagógico para conduzi-los a se interiorizar e construir uma vida saudável e sem representações. Com o mestre da escola da vida, aprendemos que a maturidade de uma pessoa não é medida pela cultura e eloqüência que possui, mas pela esperança e paciência que transborda, pela capacidade de estimular as pessoas a usarem os seus erros como tijolos da sabedoria.
Ele deu-nos muitos exemplos vivos disso.
Cristo sabia que havia um traidor no meio dos discípulos, mas o tratou com dignidade e nunca o excluir. Sua atitude é impensável. Ele nem mesmo impediu a traição e Judas, apenas o levou a repensar sua atitude.
Jesus não apenas acolheu leprosos, cuidou das prostitutas e respeitou os que pensavam contrariamente a ele, mas também chegou ao cumulo de ser afetivo com seu próprio traidor.
Tudo isso demonstra que o compromisso primordial de Jesus era com a sua consciência, e não com o ambiente social. Ele não distorcia seu pensamento nem procurava dar respostas para agradar as pessoas que o circundavam. Esse é um dos maiores aprendizados que tenho tentado estabelecer na prática do meu dia-a-dia para seguir o exemplo de ?Maori Orima?. Por ser fiel a sua consciência, Jesus freqüentemente envolvia-se em embaraços e colocava sua vida em grave perigo. Ele considerava a fidelidade à sua consciência mais importante do que qualquer tipo de acordo escuso ou dissimulação de comportamento. Para mim, a transparência de Jesus e a coragem para assim ser, foi sua grande essência luminosa e um dos maiores exemplos deixados. Jesus não caminhava pelas avenidas do certo e errado, pois compreendia que a existência humana é muito complexa para ser esquadrinhada por regras comportamentais e leis. Por isso, veio não apenas para cumprir a lei mosaica, mas para imergir o homem na lei flexível da vida.
Moises veio com o objetivo de corrigir as rotas exteriores do comportamento, mas Cristo tinha vindo com o objetivo de corrigir o mapa do coração, o mundo dos pensamentos e das emoções. Tinha vindo para produzir uma profunda revolução na alma e no espírito humano. Mesmo com a rejeição dos discípulos, essa revolução ainda estava ocorrendo dentro deles. O germe do amor e da sabedoria estava sendo cultivado naqueles galileus, ainda que suas atitudes não demonstrassem e ninguém pudesse perceber. Pela postura de Jesus é fácil perceber que nada preserva mais a emoção do que diminuir a expectativa que temos das pessoas que nos circundam. Toda vez que esperamos demais delas, temos grandes possibilidades de cair nas raias da decepção. Temos de aprender com o mestre a velejar para dentro de nós mesmos, enfrentar a dor com ousadia e dignidade e usá-la para lapidar a alma. Jesus nunca fugiu dos seus ideais.
Nem por um milímetro afastou-se da sua missão.
Pelo contrário, lutava dentro de si mesmo para realizar a vontade do Pai, que também era a sua, e se preparar para transcender o insuperável. Até mesmo quando discursava sobre o seu corpo e seu sangue, na ultima ceia, havia nele uma forte chama de esperança em transcender o caos da morte.
Tem uma parte do livro que explica sobre o Registro Automático da Memória e achei-a bem interessante. Tudo o que pensamos e sentimos é registrado automática e involuntariamente pelo fenômeno RAM. Esse fenômeno tem mais afinidade com as experiências que têm mais ?volume? emocional, ou seja, registra-as de maneira mais privilegiada. Por isso, ?recordamos? com mais facilidade as experiências que nos deram mais tristezas ou alegrias. Em uma pessoa que não tem proteção emocional, as experiências produzidas pelos estímulos estressantes, por serem mais angustiantes, são registradas de maneira privilegiada na memória, ficando, portanto, mais disponíveis para serem lidas. Estes, uma vez arquivados, nunca mais podem ser excluídos, somente reescritos. Por isso, o tratamento psiquiátrico e psicoterapêutico não é cirúrgico, mas um lento processo. Logo, também é difícil, mas não impossível, mudar as características de nossas personalidades. É mais fácil, como Cristo fazia, proteger a emoção ou reciclá-la rapidamente quando a sentimos do que reescrevê-la depois de registrada nos arquivos inconsciente da memória. Ele gozava de uma saúde emocional impressionante, pois superava continuamente as ofensas, as dificuldades e as frustrações que vivia. Portanto, o fenômeno RAM não registrava experiências negativas em sua memória, pois simplesmente ele não as produzia em sua mente. Isso não é fantástico?! Com Jesus aprendi que a beleza não está fora, mas nos olhos de quem a vê. Assim é com qualquer outro tipo de impressão ou sensação. Dentro de nós deve estar a nossa felicidade, e não dentro do que os outros pensam e falam de nós. Cristo vivia um prazer e uma paz que emanavam do seu interior. Suas mais ricas emoções eram estáveis porque não eram financiadas pelas circunstancias sociais e nem pelas atitudes dos outros em relação a ele. Jesus sofreu e morreu assumindo sua condição de homem.
Se fosse de outra forma, jamais poderíamos extrair experiências Dele, pois somos frágeis, inseguros e com enormes dificuldades para lidar com nossas misérias.
Até na morte Ele soube fazer do caos um momento que deixaria eternas e profundas lições de vida à humanidade. Se, durante a sua jornada, Ele não soubesse administrar a sua inteligência, ele estrangularia a sua emoção, pois, por estar consciente do drama que atravessaria, ficaria atormentando continuamente a sua própria mente, o que não lhe daria condições para brilhar na arte de pensar, ser sereno, afetivo e dócil com todas as pessoas que cruzaram a sua historia. Alguns, diante das suas angustias, desistem dos seus sonhos e, às vezes, até da própria vida. Cristo era diferente, amava viver cada minuto da sua vida. Tinha consciência de que o feririam sem piedade, mas ele não se suicidaria.
Havia predito que o humilhariam, cuspir-lhe-iam no rosto e o tornariam um show público de vergonha e dor, mas ele permanecia de pé, firme, fitando os olhos dos seus acusadores. A única maneira de cortá-lo da terra dos viventes era matá-lo, extrair-lhe cada gota do seu sangue. Nunca alguém que sofreu tanto demonstrou convictamente que a vida, apesar de todas as suas intempéries, vale a pena ser vivida!