Ed Siqueira 30/06/2011Livro mediano para um bom escritorAs expectativas em torno do nome de Roberto Bolaño prejudicaram minha leitura deste seu primeiro romance, "A pista de gelo".
A história cruza as narrativas de três homens sobre os eventos relacionados às suas mulheres e uma pista de patinação secretamente construída em uma mansão abandonada no balneário fictício de Z, litoral da Catalunha, contando com a boa tradução de Eduardo Brandão, que não cotejei com o original, mas que deixa o texto fluir como se fosse escrito já em português.
Em parágrafos curtos e diretos, relacionamentos tipicamente latinos dão o tom da obra, mas Bolaño consegue fugir das caricaturas encadeando a visão dos fatos entre as personagens e dotando os relatos de um tom de depoimento capaz de distanciar os registros.
Assim distanciado, o leitor pode observar com prazer, embora sem interesse, as ciladas amorosas de homens medíocres curvados a mulheres comuns, figuras que a crítica chamou de "marginais" e que seriam nossos vizinhos, esses comerciantes, políticos e mendigos.
A narrativa em primeira pessoa não aproxima os narradores o bastante para criar empatia, mas é bom o desenrolar das intenções, o completar do sentido pelo que não é dito. O ponto mais fraco está no desfecho enfadonho, que reduz o aspecto policial da história, embora desde o início o autor não pareça preocupado em surpreender pelo mistério.
Neste livro Bolaño não dá saltos, não faz piruetas, não engole espadas nem cospe fogo, mas é bom equilibrista dos desejos de suas criações. Fosse um circo, A pista de gelo valeria o ingresso, mas não a reprise. Ao fim e ao cabo é um livro bem escrito e coeso, que não é sensacional, mas merece a visita.