CALINE 14/05/2012Nada do que eu imaginavaUm Dia de David Nicholls é um livro genial, escrito de uma forma completamente diferente e com uma carga emocional muito grande. Infelizmente mesmo com todos esses predicados e mais alguns outros, Um Dia não é nada do que eu esperava e a história de amor e amizade, encontros e muitos desencontros entre Em e Dex não funcionou para mim.
Quando terminei o livro uma pergunta ficou reverberando na minha cabeça: porque eu não gostei de um livro que é sucesso de críticas, que todo mundo amou e que até mesmo a adaptação para o cinema não deixou a desejar?
A resposta para essa pergunta não é tão simples, até porque como falei acima Um Dia é um livro denso, muito bem escrito e que retrata o relacionamento entre duas pessoas de uma forma completamente diferente. Então vamos analisar por partes, quem sabe ao final dessa resenha eu possa ter descoberto junto com vocês porque eu não faço parte da maioria dos leitores que elegeu o livro como um dos seus queridinhos.
15 de julho, dia em que Em e Dex se conheceram, é também o dia escolhido pelo autor para narrar todo o livro. Cada capítulo retrata apenas fatos acontecidos no dia 15 de julho, desde 1988 até 2008. Essa forma de narrativa é bem diferente. Muitas pessoas acharam legal e até mesmo instigante uma vez que não importava se algo significativo poderia acontecer no dia 16, o capítulo acabava quando o fim do dia chegava, e nós tinhamos que imaginar o que havia acontecido. É claro que o autor não deixava nada sem resposta, no capítulo seguinte ou em algum outro mais na frente ele introduzia alguns flashbacks para que os leitores soubessem o que tinha acontecido no dia 16 e nos dias subsequentes.
O problema é que essa forma de narrativa não me agradou muito. Nem sempre aconteciam coisas relevantes nos dias 15 e por isso muitas vezes os capítulos retratavam apenas o cotidiano dos dois, o dia-a-dia, momentos sem importância e que não trouxeram nada de interessante a história. Sinceramente, se esses capítulos "corriqueiros" fossem retirados do livro a leitura teria ficado muito menos cansativa e entediante.
Além disso essa forma de narrar apenas um dia por ano da vida de Dex e Em não permitiu que o autor se aprofundasse na vida dos dois, que detalhasse mais as situações que eles viviam e isso tornou os capítulos bastante superficiais. Não tinha como se aprofundar quando tudo começa e termina em um só dia.
Para mim essa forma de narrativa deixou um sensação de vazio. Ahhh... eu também imaginei que algo de muito importante (além deles terem se conhecido) tinha relação com essa data, mas no final eu descobri que foi só por isso mesmo que a data foi escolhida, Dex e Em se conheceram.
Os primeiros capítulos se arrastam e parece que a história não vai a lugar algum, os parágrafos são gigantescos (muitas vezes tinham apenas dois parágrafos por página), quase sem diálogo (adoro diálogo, preciso da interação direta entre os personagens) e eu me sentia tão esgotada e "deprimida" com a vida horrorosa daqueles dois que sempre pausava um pouco até recuperar minha vontade de ler.
As coisas só começaram a ficar mais interessantes a medida que Emma e Dexter vão amadurecendo. Depois de muitos anos Dex começa a perceber que é um idiota de marca maior e Em consegue encontrar o seu caminho, mas até que isso aconteça muitos desencontros e decepções vão preencher a vida do dois.
O autor tentou criar personagens com personalidades realistas para que os leitores se identificassem com eles. Ele queria que nós percebessemos que histórias como a de Em e Dex podem acontecer com qualquer pessoa e que eles são cheios de problemas, dúvidas, inseguranças e incertezas como qualquer pessoa comum. O grande problema é que ele tentou tanto fazer com que os personagens tivessem personalidades realistas e plausíveis que eles acabaram fugindo da realidade. Emma e Dexter eram pessoas chatas demais, inseguras demais e que na verdade pareciam ter todos os defeitos do mundo e nenhum qualidade.
Emma Morley apertou um botão de espera desde o dia em que conheceu Dexter. Ninguém era bom o suficiente, nenhum relacionamento tinha futuro e ela não tinha coragem de dizer o que sentia mesmo quando tudo ao seu redor conspirava pra isso. Além de tudo sua vida profissional ia de mal a pior e durante anos ela permaneceu estagnada em lugar nenhum. Medrosa, sem auto-estima e amor próprio, covarde e presa a um amor estranho e absurdo, Emma era a imagem do desleixo e da fraqueza de caráter.
De todos os livros que eu já li não lembro de ter encontrado um personagem tão cafajeste, idiota, egoísta e imaturo quanto Dexter Mayhew. As únicas coisas que lhe importavam eram sexo, drogas e sempre ser o centro do universo. Nunca lembrava de Emma a não ser quando se encontrava em apuros ou quando estava solitário, ou seja, ela sempre foi sua segunda, quem sabe até terceira opção e o mais irritante de tudo é que na maioria das vezes ela sempre estava a disposição para ajudá-lo.
Mas o tempo, a maturidade e a vida modificou alguns pontos de suas personalidades e muitas coisas mudaram, mas eu deixo que esses detalhes vocês descubram quando lerem o livro.
Se para alguns o final foi surpreendente, para mim foi uma forma que o autor encontrou de tentar consertar o ritmo lento e desestimulante que se seguiu durante todo o livro, ele queria despertar fortes emoções, lágrimas, choque, deixar o leitor completamente aturdido. Certo, admito que fiquei surpresa, esperava um final TOTALMENTE diferente, o David devia isso a mim, a você e a Emma também, mas sem dúvida alguma foi melhor do que o final que a maioria dos leitores desejava e que eu imaginei.
Um Dia é um livro maravilhoso, inteligente e merece ser experimentado, o problema no meu caso, é que ao invés de me tocar o relacionamento entre Dex e Em me causou tédio e frustração e por isso o livro passou longe das expectativas que eu tinha pra ele.
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