Stella F.. 16/09/2022
Procura do amor
A Ingênua Libertina – Colette – Editora Nova Fronteira - 2019
Sidonie-Gabrielle Colette nasceu em 1873, na França. Foi casada com um famoso escritor e editor parisiense chamado Henri-Gauthier Villars. Começou a escrever uma série de romances Claudine, que fez muito sucesso na época, que foi assinada por ele. Fazia parte da elite parisiense, e conheceu muita gente. Já era avançada para seu tempo, já tratando da questão de gênero, e discutindo costumes sexuais. Após o divórcio ela mesma teve relações questionadas com uma mulher e ditou moda, usando calças. Viveu muito tempo viajando para se manter, e seu livro A 🤬 #$%!& , retrata essas suas andanças. Viveu lutando para reaver os direitos autorais de sua obra.
Já A Ingênua Libertina vai nos apresentar uma menina com muitas fantasias em relação ao amor e o que seria um amor verdadeiro. Minne é muito mimada e muitas vezes irritante, mas muito disso é culpa da mãe que a compensou, dando de tudo, por ela não ter um pai. Tem também um tio, pai do primo Antoine, muito doente, ao qual ironiza, e trata com desdém, maneira quase frequente de ela tratar os outros.
Um dia, ao ler os jornais, tem notícias de uma gangue que assalta pelas ruas de Paris, e fantasia que um dos criminosos a está esperando para fazê-la feliz nas noites e nos becos. Chama-se Cabelo de Anjo e tem no grupo uma mulher meio ruiva. Ela, Minne, a protagonista, fantasia-se e sai em busca desse Anjo, mas é apenas uma menina de 15 anos que ao se ver ali no escuro, toda rasgada, dá-se conta que parece que teve um surto e ao voltar para casa todos a repreendem e deduzem que ela foi seduzida. Ela tem como '"amigo/inimigo" seu primo Antoine que a conhece como ninguém. “Ele sabe que ela mente, que o instiga, que sabe usar suas armas, mesmo tão nova. “Sabe muito bem que não irá e não é somente a timidez que o impede, é que tudo o que vem de Minne é sagrado para ele. Confidências, mentiras, confissões: as preciosas palavras de Minne a Antoine devem morrer com ele, depósito inestimável que ele guardará e defenderá contra todos.” (posição 786)
Em um segundo momento, sabemos que para reduzir os danos da saída de Minne pelos becos, ela casou-se com Antoine, mas não é feliz. Não encontrou o tão sonhado amor, não encontrou a completude, literalmente não encontrou o prazer. Aqui ela sairá em busca do tão alardeado "prazer" que todas falam e gritam que é maravilhoso. Ela sente-se defeituosa, com um problema sério de saúde. Só ela não tem esse dom? Começa a ter amantes, e brinca com todos eles, seduzindo-os, mas nunca ficando satisfeita. Vive pela noite com amigos, os mais variados: escritores, socialites, gente mais nova e mais velha. Ela bebe, joga, vai à patinação de gelo, mas está sempre usando uma máscara social. Até que o marido, que só queria sua felicidade, a conhecia bem apesar de ela enganá-lo, era um cachorrinho segundo a própria Minne, coloca um detetive, ruim, para segui-la na única vez em que ela foi feliz somente conversando com um amigo, Maugis. Para esse amigo ela falou francamente do que a consumia, de suas questões mais profundas, e ele, muito sensato, resolve que não deve tê-la em seus braços. Só a partir desse desabafo e dessa generosidade, é que ela percebeu que o amor podia ser de outro modo. E ficando mais leve, ao chegar em casa, o marido confessa ter mandado segui-la, mas que está arrependido e somente quer vê-la feliz, mesmo que esteja em jogo, sua própria dignidade. Nesse dia ela descobre o prazer com o próprio marido, e satisfeita, encontra o tão desejado e misterioso “Amor”. “Mas nenhum deles disse: “Seja feliz, eu não quero nada para mim; eu lhe darei enfeites, doces, amantes.” (posição 2766)
Recomendo o filme Colette para conhecer um pouco da história da autora.