Muro de Berlim

Muro de Berlim Lili Gruber...




Resenhas - Muro de Berlim


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Luciano Ventura 23/03/2020

RELATOS DE QUEM VIVENCIOU A QUEDA
Imagine se a cidade na qual você vive fosse arbitrariamente dividida em duas partes. Que, para infelicidade sua, um bom número de seus familiares e amigos, além do seu local de trabalho, agora fossem inacessíveis a você. Que as janelas dos apartamentos que se localizassem defronte à suposta fronteira fossem, compulsoriamente, tapadas com tijolos para evitar qualquer possibilidade de comunicação com o outro lado. Imagine-se vivendo assim por vinte e oito anos...
E como seria sua reação se após quase três décadas nesta realidade, como ápice de um mês de protestos não usuais nesta cidade, e que nem cogitavam uma mudança tão drástica, essa barreira autoritária fosse removida? Como você portar-se-ia diante da possibilidade de rever pessoas que lhes foram arrancadas do convívio por quase trinta anos? Como administraria a experiência de, após sentir-se cativo por tão longo tempo, agora ter o direito de se locomover para além de um determinado ponto?

Algumas respostas para esta situação real, iniciada com a construção do Muro de Berlim pela República Democrática da Alemanha no contexto do conflito entre a URSS e os EUA, em 1961, e demolido em finais de 1989, são narradas por uma equipe de reportagem da RAI italiana. Com o intuito de cobrir as mudanças ocorridas no Leste Europeu após o advento da Perestroika soviética, a jornalista Lilli Gruber e seu colega Paolo Borella transitam pelo Checkpoint Charlie – uma das passagens monitoradas que ligam os dois lados da cidade de Berlim - colhendo relatos históricos sobre a “Revolução Pacífica de Outubro”, na qual a população da Alemanha Oriental, encorajada pelas palavras de Gorbachev que em recente visita sinalizara a necessidade de reformas, clamava por maior liberdade política.

Na década de oitenta, um grande número de cidadãos da RDA já havia fugido do país utilizando-se da fronteira austro-húngara e da embaixada da República Federal da Alemanha em Praga. A situação alcançava níveis críticos com o êxodo de trabalhadores especializados que deixavam sua pátria para trabalhar em subempregos no lado capitalista do antigo Reich.
O abalo econômico foi seguido pelo enfraquecimento do SED – o Partido Socialista Unificado da Alemanha – que fora formado, em 1946, pelo “aperto de mãos” entre o Partido Comunista Alemão e os Sociais Democratas.

Além de um panorama do regime de partido único, os autores trazem depoimentos de pessoas que corajosamente integravam os quadros da dissidência. A formação, pouco a pouco, de uma oposição à Frente Nacional - coligação de partidos e organizações que “tinham representatividade” no Parlamento, “guiados” pelo SED – fez surgir grupos dissidentes como o Neues Forum e o Despertar Democrático, além da reorganização da social democracia no novo Partido Social Democrata, o SDP.

O livro desvela o importante papel da Igreja Protestante alemã, que, baseada numa certa autonomia de que fora possuidora nestes anos de Estado Totalitário, cedia o espaço de seus templos para que fossem organizadas reuniões de grupos de oposição.

A obra é redigida como mescla de objetividade, expressa no relato de fatos, com a subjetividade contida nas opiniões pessoais dos jornalistas, e se apresenta no formato de um diário, iniciado em 6 de Outubro tendo como desfecho o dia 22 de Dezembro; tudo coroado por “Post Scriptum” que realiza, na medida em que a proximidade temporal com os episódios permite, um balanço dos dois meses de uma relativa e, até certo ponto, inesperada abertura política. Nele, dúvidas com relação a uma possível reunificação – que hoje sabemos ter ocorrido – e ao direcionamento da economia Oriental são também apresentadas.

Ao conseguirmos nos desvencilhar do olhar Ocidental carregado de valores próprios, chega a ser comovente a leitura dos relatos de como os berlinenses do leste se sentiam na noite em que foi declarada, de forma atabalhoada pelo secretário Schabowisk, a abertura do Muro. Pessoas formaram filas imensas para poderem atravessar a barreira de tijolos e, sem saberem muito o que esperar, perambularam festejando pelas avenidas do lado Federal. A maneira como foram recepcionados pelos “irmão ricos” e a quantia de cem marcos, a eles dados como “boas vindas”, também são contadas pelos autores que ali se encontravam.

Os problemas imediatos provocados pela junção da prática comercial entre leste e oeste com um câmbio desequilibrado - no qual 1 marco ocidental, que valia 8 vezes a moeda do Oriente, passou a valer por 20 – são demonstrados de maneira bastante lúcida. Entre outros, pessoas compravam alimentos e outros bens de consumo que tinham valores baixos porque eram subvencionados pelo governo da RDA e os revendiam no lado Ocidental tendo o lucro como objetivo.

O desfecho da história em que as “duas Alemanhas” tornam-se novamente uma, sob os olhares atentos de franceses e ingleses, e o poderio econômico germânico que tal acontecimento engendra, todos conhecemos. Porém, confesso que fui agradavelmente surpreendido pelos detalhes do processo que culminaram na queda do Muro da Vergonha, e, por esse motivo, deixo aqui a sugestão de leitura para aqueles que gostam da temática da Guerra Fria e de suas implicações.
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Wilton 07/12/2014

A Queda vista de perto
O livro foi escrito sob a forma de diário. A estratégia foi feliz, pois tornou o relato mais sensível, emocionante e pessoal. Os autores preocuparam-se em externar não só o lado político das personagens, mas também as suas reações ante os fatos que se precipitaram com uma rapidez incrível. Assim como as altas personalidades, as pessoas anônimas também puderam expressar os seus sentimentos e dar opiniões em pé de igualdade. Por isso, O Muro de Berlim não é um mero livro de História, é também uma obra jornalística..Atenção especial foi dada ao olhar das pessoas ativas ou passivas no importante fato histórico da queda do Muro de Berlim. Os olhos são "as janelas da alma" e os autores souberam muito bem expressar isso. Cabem alguns reparos: A última parte do livro, que fala dos antecedentes históricos que desencadearam a construção do Muro, deveria ser a primeira. Se assim fosse, o leitor teria maior facilidade para entender o fenômeno. Deveria haver uma espécie de índice onomástico contendo uma breve biografia das pessoas que contribuíram para os sucessos e insucessos narrados. O público jovem, certamente, terá dificuldade para entender o comportamento de personagens que foram determinantes no passado, mas que caíram nas malhas do esquecimento. Gostei do livro.
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