danilo_barbosa 24/02/2012O primeiro amor pode ser imortalVeja mais resenhas minhas no Literatura de Cabeça:
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O maior desafio e, na verdade, a coisa que um resenhista mais gosta de fazer é comentar sobre livros polêmicos.
Não precisa ser no sentido de cenas e ações que mexem com os nossos sentidos pelos temas fortes. Pode ser por levantar os mais diversos comentários dividindo opiniões. E quando peguei nas mãos o livro Não deixe o sol brilhar em mim (Editora Dracaena, 307 páginas), do nosso colega Evandro Raiz Ribeiro, sabia que tinha uma grande responsabilidade nas mãos.
Muita gente, só de ler a sinopse, comparava a trama do livro com o filme Deixe ela entrar. O autor, muito atencioso, disse que apesar dele ter amado a trama do filme, o seu livro é uma homenagem a esse tema tão pungente, que na verdade é mais que vampiros. A trama original fala sobre a amizade, a solidão e como ser diferente para lidar com esse dom tão sinistro adquirido pelas circunstâncias.
E lógico que imparcial que sou, fui fazer as minhas comparações. Vi os filmes, tanto na versão sueca quanto na americana (pessoalmente prefiro o original sueco) e me adentrei na leitura.
A vida de Dennis, o personagem principal, é cercada da tristeza e do preconceito de muitos brasileiros. Vindo do nordeste para viver com o tio, irmão do seu pai, na grande ABC, ele tem de se adaptar a um mundo completamente diferente do que estava acostumado. Além do preconceito dos outros alunos da escola, que achei um tema excelente a ser tratado, ainda tem que aguentar os acessos da tia que acha que o garoto é uma cruz para sua família carregar.
Até ele conhecer a Valquíria, por quem se apaixona. A linda menina que aparenta ser a sua idade (entre 12 e 13 aos) faz seu coraçãozinho bater mais forte pela primeira vez. Mas desde o começo sabemos quem a garota é na verdade - uma vampira que não vai hesitar em destruir quem ameaçar a sua existência e das pessoas que ela ama. E, entre o amor e o terror, muitas linhas são quebradas para que a história desses dois tome um rumo definitivo.
Bom, assumo que em muitas cenas, principalmente no começo, diversas cenas pareceram adaptadas de Deixe ela entrar. Situações e até mesmo descrições de cenas poderiam se encaixar na obra original, apesar de um contexto diferente. Mas as semelhanças param por aí. No momento que a trama começa a se desenrolar, acabamos por nos esquecer de que Valquiria é uma vampira e focamos nossos olhos no pequeno Dennis e sua transformação em homem, com amores e responsabilidades que parecem grandes demais para ele carregar sozinho. Como se a década que a obra se passa (anos 60) acompanhasse o nosso protagonista com as situações que ele vivencia. Afinal, aquela não foi a década das descobertas, da liberdade?
Algumas cenas de amor, companheirismo e amizade entre os dois são lindas e tem uma inocência que falta em muitas obras de hoje:
Ele parecia triste. Queria dizer-lhe para não se preocupar, ela o protegeria. Aproximou-se dele e o abraçou por trás, depois sussurrou no seu ouvido:
- Amo você...
Depois o beijou no rosto carinhosamente.
Exatamente por causa dessa nostalgia há muito perdida, do amor sem maldade, que as poucas cenas de sexo do livro me pareceram desencontradas, fora do contexto. Mas o que seria da figura do vampiro se ele não seduzisse e arrancasse suspiros da plateia? Mesmo sendo dos mais novos...
O ritmo do livro é bom, mas não te dá vontade de devorar a trama. Você lê ele com calma e tranquilidade, acompanhando as reviravoltas que a história toma. Não espere desfechos mirabolantes ou ações desenfreadas. É como caminhar em um lugar que você já conhece por um novo caminho.
Muitos momentos ficaram meio no ar e fiquei a desejar que houvessem desfechos mais concisos, mais impactantes. Mas pode ser que você, meu querido literato, acho que tudo se explica no decorrer das páginas. Afinal, se todas as opiniões fossem iguais, o mundo seria tão entendiante...
Não deixe o sol brilhar em mim, mais do que copiar histórias, como muita gente disse, conseguiu criar uma nova ótica sobre uma obra consagrada. Mais do que uma releitura, é uma homenagem aquilo que atingiu o coração do autor. E que chega até o nosso.