Le 23/12/2020Diria que ao ler este livro me deparei em uma “encruzilhada reflexiva” – Em relação à cidade, compartilho de algumas ideias do professor Jan Gehl, a cidade precisa e deve ser construída para pessoas, objetivando a qualidade de vida da sua população, a ocupação dos espaços públicos, com construções em escala mais humana, ruas que convidem a circulação de pedestres e ciclistas, e cada vez menos carros. Porém, num projeto que contempla estas características, a população, de um modo geral, precisa participar efetivamente, ou mais precisamente deve ser ouvida. A questão que se coloca aqui é: Como isso seria possível em uma FOBÓPOLE? Termo este que o professor Marcelo usa para descrever uma cidade dominada pelo medo, em especial da violência, do crime organizado. Uma cidade, onde o Estado dá ouvidos aos criminosos, legitimando-os. Uma cidade onde a participação popular é um “faz de contas”, uma utopia. Uma cidade onde as transformações do espaço urbano precisam do aval de traficantes e /ou milicianos. Uma cidade, onde os moradores sofrem com a disputa pelo controle social e de determinados espaços, entre agentes de negócios ilícitos e o Estado. As consequências da proliferação da violência são inúmeras, dentre elas está a contribuição significativa para o aumento da segregação e alienação espacial, onde os mais abastados, aqueles que se acham “acima da lei” passam a viver em condomínios fechados, e os demais se viram como podem. A polícia, aparato repressivo do Estado, exerce um tratamento diferenciado entre “os de cima” e “os de baixo”. O fato é que utiliza-se uma série de “remédios” que aumentam os efeitos colaterais e nada resolve. Não adianta colocar mais policiais na rua, construir mais presídios, aumentar a vigilância por videomonitoramento, contratar empresas de segurança, etc., enquanto as verdadeiras causas que empurram os indivíduos para a criminalidade não forem atacadas.