Victor 05/01/2015
O amor em tempos de guerra.
Nunca vivenciamos uma guerra (ou pelo menos não uma de forma tão escancarada quanto às duas guerras mundiais). E é sobre o terror desse clima que o pequeno-grande romance se trata. O livro é fino, mas o conteúdo é denso. Até mesmo por não ter divisórias de capítulos ou alguma separação, pode dar a impressão que é algo para se ler em uma “sentada” só, mas não recomendo.
O livro se passa nos países bálticos, em uma região mais isolada. É uma história de amor condenada ao fracasso, desde o começo. Aliás, o amor apenas aparece nas palavras de Éric, que é o narrador, confessando sua relação com Sofia. A época, como já citei, é na Primeira Guerra Mundial, um ponto chave para a humanidade. Freud, em seu artigo chamado "Considerações atuais sobre a guerra e a morte", discursa sobre esse período e sobre a civilização (que seria o oposto da barbárie) ocidental, destacadamente as nações da Alemanha, França e Inglaterra, detentoras do maior conhecimento científico e tecnológico. Freud permanece perplexo com o fato dessas nações usarem o conhecimento racional não para se organizarem no mundo, mas sim para a destruição - retornando, então, a um estado de barbárie. E é nessa barbárie e caos que o romance se desenrola.
Não existe um toque carinhoso, apenas algumas cenas inicias de confissões apaixonadas. Todo o sexo é brutal: estupro, prostituição, promiscuidade, provocação e vingança. É como se fosse um tempo onde as pessoas não pudessem se amar, justamente por estarem sujeitos à morte no próximo instante, no próximo voo dos aviões que sobrevoam o vilarejo. Ou, talvez, com uma obrigação maior com a pátria do que com sua própria vida pessoal. Tudo que movimenta os personagens nesse romance é a guerra: a velha e louca tia, que reza para que os parentes sobrevivam à batalha, os homens que lutam com ardor, Sofia, que também se envolve.
Talvez, o maior gesto de amor entre ambos os personagens seja no final do livro, onde tudo é amarrado com maestria, inclusive o título do livro. Marguerite Yourcenar recria com precisão o ambiente da guerra. Até mesmo a ausência de divisórias na narrativa parece colaborar com isso: uma impressão de que não há tempo para se perder quando a morte habita ao seu lado e a única saída é lutar.