Chu 25/10/2022
Matilde Campilho partiu de mitos, narrativas, figuras reais e imaginárias, objetos, animais, plantas, asteroides, filmes, cenas, etc etc etc, para criar as histórias aqui presentes. Algumas das suas referências se encontram na parte final do livro: temos uma sessão com imagens e uma sessão com pequenas entradas quase enciclopédicas.
O meu erro inicial foi começar a ler o livro na ordem e deixar esse "apêndice" para depois. E só quando eu cheguei numa narrativa já conhecida e de alguém que me interessava muito - opa, essa é a história da Anna Akhmátova! - que resolvi fuçar o apêndice e lá vi o "verbete": Anna Akhmátova. A partir daí, a leitura ganhou outra dinâmica: eu lia uma história e buscava associações, fossem nas imagens, fossem nas entradas enciclopédicas. E comecei a marcar as páginas que puxavam outras páginas, montando um verdadeiro mapa dentro do livro. É esse mapa que é atravessado pela flecha.
De qualquer forma, recuperar as "histórias originais" não seria de todo necessário, já que as histórias de Matilde se contam por si. Achei interessante como ela cria essa independência também pelo uso da linguagem: normalmente se vale do tempo presente nas histórias, e muitas delas começam com "Um/Uma"... , indicando, assim, indeterminação do personagem ou do espaço e do tempo. Na verdade, o presente tem um efeito duplo aqui: marca também algo momentâneo, como se fôssemos a própria flecha que passa rapidamente por aquela cena. Não à toa, são histórias curtas, algumas compostas por uma frase, uma linha.
Mas, ainda que não seja obrigatório para ler o livro, esse exercício de estabelecer as conexões com as histórias originais não deixa de ser uma atividade interessante e uma revelação que pode aquietar aquela comum angústia de nós leitores: de onde raios essa escritora tirou essa ideia? A meu ver, foi isso que potencializou a leitura e me trouxe curiosidade pra continuar: eu tinha começado o livro meio "num sei se tô entendendo" e terminei querendo reler tudinho!