Carol 02/05/2020Impressões da CarolLido: O nariz seguido de Diário de um louco {1835-1836}
Autor: Nikolai Gogol {Império Russo, hoje, Ucrânia 1809-1852}
Tradução: Roberto Gomes
Editora: L&PM
126p.
Eugène Ionesco, Franz Kafka, Samuel Beckett, Luigi Pirandello foram autores da arte do absurdo, no século XX. Todos eles tiveram por influência a obra surreal e satírica de Nikolai Gogol.
Junto de "O capote", "O nariz" é o conto mais conhecido do autor e, como não poderia deixar de ser, um dos mais 'palavras doidas'.
Durante seu desjejum, o barbeiro Ivan Yakovlevich encontra um nariz dentro de um pão. Não um nariz qualquer e, sim, o nariz do Major Kovalyov, que, por sua vez, ao acordar, descobre que tão importante parte de sua anatomia, sumiu:
" - Meu Deus, meu Deus, por que me enviaste esta calamidade? Se fosse o caso de um braço ou de uma perna, seria no máximo um mal menor. Mas sem nariz um homem não é mais um homem; é um sujeito sem qualquer valor, pronto para ser defenestrado."
A caminho da delegacia para fazer o B.O. por conta do sumiço de seu nariz, o pobre Kovalyov vê, ninguém mais ninguém menos, que o próprio órgão olfativo, todo trajado como se fosse um oficial. O nariz é um 'duplo' - temática recorrente na literatura russa.
Como bem resume o narrador do conto: "acontecem neste mundo coisas das quais a verossimilhança foi banida."
É interessante a exigência de verossimilhança que, nós leitores, costumamos fazer quando diante de uma obra de arte: nunca que alguém agiria dessa maneira, tal acontecimento nunca ocorreria na vida real ou tal enredo não é racional.
Sério, Brasil, ano: 2020. Se alguém fosse narrar, num livro, o dia a dia dos brasileiros, o leitor diria que o autor pesou a mão na tinta. O que é a vida senão um grande absurdo?
Por isso eu gosto demais de ler autores como Gógol. Histórias sem pé nem cabeça, abruptas, incompreensíveis, absurdas, tal como a vida, são aquelas que mais nos revelam.
Esta edição da L&PM traz ainda o conto "Diário de um louco" e está disponível no Unlimited.