spoiler visualizarJúlia 31/01/2024
Realmente muito bom
Esse livro fala de um assunto que me intrigou muito ao longo da vida, e me alegrei de encontrar a visão lúcida e otimista de Esther Perel. A autora intuía que seus pais tinham uma vida sexual prazerosa, essas pessoas com quem aprendemos a amar, com todas as potências a complicações advindas desse aprendizado. E trabalha há anos com casais que, entre outros problemas (ou não), não conseguem sentir prazer sexual juntos.
Através de seus olhos, longe de nos culparmos por não sermos capazes de sermos plenamente felizes com quem já temos (e será que temos?), somos conduzidos a ver o paradoxo. O amor, relacionado à intimidade, confiabilidade, sinceridade, e Eros, que se alimenta do imprevisível, da novidade, da exposição de nossas partes que tememos que choquem o amor. Um se nutre da proximidade, enquanto o outro precisa da alteridade, do espaço entre o eu e o outro para existir.
A partir desse paradoxo, e de exemplos de pessoas atendidas por ela, com suas contradições, padrões familiares, fantasias sexuais (que, segundo ela, possuem uma trama que conversa com a história de vida de cada um), primeiros vínculos de afeto, podemos vislumbrar a forma de Esther de auxiliar casais.
A autora nos presenteia com o compartilhamento de sua posição crítica à medicalização dos “problemas sexuais”, à ideia do sexo espontâneo (como se pensar muito na outra pessoa, na fase da paixão, não fosse uma preparação para o que viria depois), às mensagens sociais contraditórias sobre prazer, amor, família. Creio que, a partir disso, podemos incrementar nossas lentes para vermos o mundo de forma menos ingênua e evitarmos algumas armadilhas nesse campo.
Além disso, fala que os papéis e diferenças de poder que o casal pratica na cama não necessariamente possuem repercussões negativas no equilíbrio e respeito que são desejáveis nos relacionamentos. Assim, incentiva as pessoas a abandonarem suas inibições e manifestarem seus desejos e fantasias dentro do casamento, no lugar de manifestar (ou esconder?) essas partes suas através da pornografia ou dos relacionamentos extraconjugais.
Enfim, depois da leitura fiquei com a vontade de ler mais livros da autora, e emprestar para várias pessoas essa obra. Pois Esther nos entrega o resultado de anos de reflexões e práticas, conversa com o que é pacífico na Psicologia sem medo de se posicionar de acordo com aquilo que faz/fez sentido para ela e seus pacientes. Escreve de forma articulada, crítica, cheia de exemplos que são próximos a todos nós, porque muito humanos, e propõe caminhos e explicações capazes de curar, desacomodar, abrir janelas de possibilidades.