Everton Gonçalves 23/04/2024
A Saga de Gunnlaug Língua-de-Serpente é uma saga islandesa, composta no final do século XIII, preservada completamente em um manuscrito mais recente. Contém 25 versos de poesia escáldica atribuídos aos personagens principais. É uma importante obra tanto para a literatura islandesa como para a literatura norueguesa.
A saga relata a história de dois poetas islandeses, Gunnlaugr e Hrafn, e sua competição pelo amor de Helga. A narrativa segue então Gunnlaug, descrevendo sua ambiciosa carreira como poeta da corte de vários reis escandinavos e das ilhas britânicas. Ele inicialmente combate Hrafn em verso e apenas depois em batalha aberta.
O tema do triângulo amoroso, já é bastante conhecido nas aventuras romanescas medievais europeias, e está ambientado, em termos de saga familiar, no território islandês e nas cortes dos reis não somente nas terras escandinavas, mas também nos domínios vikings das Ilhas Britânicas e Inglaterra, a partir do final do século X e início do século XI.
A saga começa com um sonho profético sobre duas águias que lutam até a morte por um lindo cisne (a ainda não nascida Helga), prefigurando a trama amorosa. Artifícios proféticos não são infrequentes em outras sagas e mostram que não são os eventos por si mesmos que são importantes, mas sim as reações dos personagens às situações inevitáveis em que se encontram. Da mesma maneira que os eventos surgem, primeiramente em profecia e mais tarde em realidade, os dois poetas se envolvem em dois tipos de batalha: primeiro em versos e depois com arma branca. Gunnlaugr tem uma aptidão natural para entesourar elogio imortal em verso, mas pode também ser malicioso e provocativo em sua maneira de lidar com os outros. Significativamente, ele inicia sua jornada insultando o Conde Eirik na Noruega, com quem termina se reconciliando, como se já tivesse alcançado um elevado grau de autocontrole, mas nesse ínterim ele acaba prenunciando sua tragédia pessoal, quando relutantemente aceita as honrarias do Rei Ethelred, em vez de retornar à Islândia e reivindicar Helga como sua noiva.
O destino é uma presença marcante em toda parte da saga. Parece sempre existir um motivo nobre que determina o curso dos acontecimentos rumo à tragédia nos pontos da trama onde os eventos poderiam ter tomado um rumo diferente. Esta saga pertence a um grupo de histórias sobre os colonizadores islandeses em Borgarfjord, e foi provavelmente narrada e talvez mais tarde escrita por algum homem daquela região da Islândia. Escrita por volta de 1300 e preservada na íntegra em um manuscrito datado de 1300-1350, a saga oferece um interessante insight sobre as ideias e sobre a profissão de poeta da corte na “era de ouro”.